Pedaços Humanos

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ele.Ela


'Ele estava sozinho. Ela também. Ele envolveu-se de verdade com algumas, de mentira com outras, divertiu-se, deixou-se divertir, e sempre havia graça nisso. Ela gostou de verdade de outros, mas entendeu não ser o certo ainda. A cada novo encontro ele tinha certeza que a tal da vez era a mulher de sua vida. Não hesitava, se jogava e dava tudo de si. Depois acabava por nenhum motivo que pudesse pôr fim ao amor exageradamente grande que ele acreditara existir, mas ele não sofria. Ela não se iludia, nem os iludia. Beijava sem dor, nem promessas. Mas ainda não confiava em nenhum deles. Ele olhava ao redor, às lamúrias sem fim de outros homens e perguntava-se se de fato já havia amado alguém. Ela não questionava, pois já parecia estar sentindo o que seria o amor. Mas ele era sincero, não havia enganado nenhuma delas. Talvez enganasse a si mesmo. Mas não, não era engano. Talvez ao contrário do que imaginasse, amor acabasse. Estranho porque só via isso acontecer nele, mas tudo bem, melhor não questionar. Com ela, era diferente. Sempre ficava a certeza de que tudo tinha sido especial entre ela e outros. Havia tanta leveza nisso. No fundo, percebia-se que ele sentia vontade de viver o que observava outros vivendo. Mas não tinha pressa. Ou talvez não tivesse voracidade, mas pressa sim. Pressa por tocar no que tantos pareciam ter tocado, e ele não. Pressa por também, nem que por um dia somente, não imaginar a vida sem aquela pessoa. Achava isso tão patético, mas queria pelo menos entender. Aquela possibilidade parecia tão distante que ele imaginava que a tal da paixão não ficara para ele. Parecia não haver quem pudesse causar isso, quem pudesse tomá-lo tanto de e para si. Para ela a possibilidade do amor era tangível, embora, sentimentalmente, tão distante. Talvez para ela tivesse ficado mesmo o amor sem sofrimentos como não acontece com quem se apaixona perdidamente. Ela já aceitava isso e regozijava-se com quem não estava aqui, mas certamente viria. Ele não, ele queria mais. Tinha medo de aceitar a verdade do amor tranqüilo e perder uma possível paixão que cruzasse com ele na esquina. Os dois queriam a mesma coisa. O amor verdadeiro, palpável, forte, intenso. Mas em ordem distintas. Ele queria o fogo, e acreditava que depois poderia haver a tranqüilidade. Quando estivesse farto da paixão. Ela queria o amor sereno, manso. E na segurança dele descobrir toda a paixão que permanece com quem ama. Pelo medo de perder a paixão avassaladora que todos tinham, eu o vi perder o amor verdadeiro que nenhum daqueles jamais teve. A paixão viria, o adverti. Mas talvez ele quisesse a mesma ordem dos outros. Ele queria mais. Ela também. Por isso, ela partiu, com seu amor e a certeza de que alguém a acolherá. Ele ainda espera a tal paixão. Ele sozinho. Ela não mais.'


(blog 'euamaria')

2 comentários:

  1. Amei seu texto. Muito lindo. Parabéns. Me identifiquei muito .

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  2. Tão real e certeiro.
    Bem colocado - o AMOR antes de mais nada tem que estar dentro de cada um de nós.
    Ela tinha este amor dentro dela, quanto ele, ainda estava por descobri-lo.
    Eu adorei!
    Abraõs

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