Pedaços Humanos

terça-feira, 29 de junho de 2010

Amor em minúscula

'Uma pessoa faz um pequeno gesto bondoso e isso desata uma cadeia de acontecimentos que lhe devolvem um amor multiplicado. Ao final, embora você queira voltar ao ponto de partida, não é mais possível, porque o amor em minúscula apagou qualquer caminho de volta ao que existira antes.'

Amor Em Minúscula - Francesc Miralles

Pensar

"Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver."


- Caio Fernando Abreu.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

terça-feira, 22 de junho de 2010

Certas noites...

"Certas noites, sozinho, ele pensa nela.
E certas noites, sozinha, ela pensa nele.
Certas noites, isso acontece ao mesmo tempo, e eles se relacionam sem saber"

Garota da Vitrine

Que...

"Que comece agora. E que seja permanente essa vontade de ir além daquilo que me espera. E que eu espero também. Uma vontade de ser. Àquela, que nasceu comigo e que me arrasta até a borda pra ver as flores que deixei de rastro pelo caminho. Que me dê cadência das atitudes na hora de agir. Que eu saiba puxar lá do fundo do baú, o jeito de sorrir pros nãos da vida. Que as perdas sejam medidas em milímetros e que todo ganho não possa ser medido por fita métrica nem contado em reais. Que minha bolsa esteja cheia de papéis coloridos e desenhados à giz de cera pelo anjo que mora comigo. Que as relações criadas sejam honestamente mantidas e seladas com abraços longos. Que eu possa também abrir espaço pra cultivar a todo instante as sementes do bem e da felicidade de quem não importa quem seja ou do mal que tenha feito para mim. Que a vida me ensine a amar cada vez mais, de um jeito mais leve. Que o respeito comigo mesma seja sempre obedecido com a paz de quem está se encontrando e se conhecendo com um coração maior. Um encontro com a vontade de paz e o desejo de viver."

(autor desconhecido)

Homem perfeito

'Sabe, eu pensava que quando encontrasse o homem perfeito, depois de todas essas cicatrizes, eu não sofreria mais por amor, afinal ele só me faria bem. Mas foi um erro pensar assim, porque você me faz tão bem que eu não consigo ser boa o suficiente pra você e isso me faz sofrer tanto quanto eu sofri por aqueles que não eram bons o suficiente pra mim.'

Amanda Teles

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O único lugar pra sempre

'Ainda que sentir de verdade pareça uma outra vida, às vezes cansa viver dentro das coisas que invento. Com você, mesmo eu inventando tudo também, dá pra ter essa sensação de desordem, atropelamento, vida dizendo e não minha cabeça falastrona. Mesmo sendo ofensivo pra minha existência que pessoas como você existam. Mesmo que sua tristeza e preguiça e desistência mostrem pra minha frescura de sentidos como tudo pode ser amargo e pior: mostre que tudo sempre foi e eu é que, vai ver, sou forte ou abençoada demais pra não sucumbir. Mesmo que sua alegria nunca seja por mim. E que sua alegria torne, quando por mim, minha vida intolerável. Sua existência é um absurdo e isso é a maior verdade que me vem à mente quando penso em você ou estou ao seu lado.
Passamos a tarde juntos. Foi leve e eu estava quieta, coisa que nunca aconteceu nenhuma das vezes que saímos. Eu estava sempre histérica e hoje eu estava muito quieta, até demais. Talvez seja porque eu não tenho mais a euforia louca de ser amada. Eu piro quando alguém me ama e ao ver em você a calmaria dos vencedores corriqueiros, larguei o corpo. Acabou sendo boa, a sensação de tarde ordinária, encontro ordinário. Eu pude habitar o papel de amiga caminhando ao lado, uma forma de ouvir por perto sua respiração pigarrenta que amo como se fosse o único sopro saudável do mundo. Eu permaneci e isso foi diferente, triste, insuportável, mas possível. Como os mortos que ficam em qualquer lugar, até mesmo embaixo da terra. Morto não deseja e por isso mesmo permanece. Acho que seu desejo morreu e talvez o meu também, já que boa parte desse amor enorme que eu sentia e sinto por você, vinha e venha da minha alegria desmesurada em me sentir amada pelos meus próprios sonhos. Você encerrava em mim eu mesma e era uma loucura tudo, como eu sentia, como eu queria me vomitar e ensanguentar e explodir e rodopiar em mim até furar o chão como uma broca desgovernada e depois sair derrubando o mundo como o único pião que sabe a verdade e precisa chacoalhar seu entorno pra não enlouquecer sozinho. Era uma loucura tudo. Mas a morte, o fim, nós, andando calmos, ao lado um do outro, isso me permitiu estar de alguma forma sem querer habitar cada instante do estar e para isso me retirando o tempo todo. E isso pode ser viver mas viver é terrível. E antes, quando eu não sabia viver e me sentia amada, era ainda mais terrível. Daí que sobra essa sensação de uma solidão filha da puta mil vezes pois em nada dá pra ser com você. E tudo bem, não é você, nunca foi, mas escuta a maluquice: é que nada disso impede que eu sinta um amor absurdo por você.
Me peguei uma hora, olhando você, andar, tão feinho, seu ombro encolheu um pouco, cada dia que passa mais e mais é uma concha o que você se torna. Dessas que é mentira a pérola e o som do mar, mas eu os vejo, o tempo todo. Você andando desse seu jeito meio de louco, que chacoalha a cabeça. E se veste mal quando pouco se importa, eu sei, eu entendi. E a manga suja de café. A roupa bege da cor de tudo que é você. Você é tão errado e cheio de estragos. E me peguei olhando pra tudo isso e amando tanto, tanto, tanto. Como se nada mais no mundo fosse tão bonito ou correto ou mesmo perfeito porque perfeito é o que não tem mesmo cabimento. O resto nem existe porque vemos ou explicamos.
Na sua varanda sem céu, certa vez, você se sentou naquela cadeira sem fundo. Me colocou no seu colo e me deu o abraço que disparava corações em mim como se eu tivesse um em cada nó de veia. E me disse, com sua voz tão bonita, a mais bonita que eu já ouvi, que eu tinha subido todos os seus andares. Eu entendi que você era o homem da cobertura de aço e eu uma espécie rara de passarinho que tinha algum tipo de chave que se autodestruiria em poucos segundos. E eu entendi também que agora que tinha chegado ali, só me restava pular, já que ninguém aguenta o alto tão alto muito tempo. A vertigem que era o nosso amor. Minhas olheiras, meu cansaço, meus quarenta e dois quilos. Eu poderia morrer porque você tinha uma carninha mais mole atrás da sua orelha direita e isso me impossibilitava, dia após dia, que eu vivesse sem sentir você o tempo todo. Mas quem é mesmo que morre dessas coisas? Não, não podemos, com tanta coisa pra fazer, os meninos de dez a vinte dias, os bares, e almoços, o Pilates, a dança, os empregos, escrever, tudo isso que é minha vida antes e depois de você. Tudo isso que daqui a pouco, quando a sensação desgraçada de absurdo e solidão passar, tudo isso volta, se acomoda, a agenda mágica, o gostosinho no peito, esquecer você todo dia um pouco pra vida e todo dia muito pro dia. Mas agora, hoje, guarda isso, eu amo demais você. Por que escrevo? Porque é a minha vingança contra todas as palavras e sensações que morrem todos os dias mostrando pra gente que nada vale de nada. Toma esse texto, o único lugar seguro e eterno pra gente. '


Tati bernardi

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Bolo de chocolate

"Quando alguém não quer ficar com você, é preciso entender isso como uma opção e não como uma rejeição. As pessoas tem direito a escolhas, e isso é apenas um sinal de como elas estão naquele momento. Por exemplo, eu adoro bolo de chocolate. Vamos supor, então, que uma amiga prepare bolo de chocolate para mim, e na hora de servi-lo, eu diga: "Não obrigada, estou com uma indisposição que me tira a vontade de comer qualquer coisa". Ela se decepciona: "Puxa, fiz porque sei que você adora". Eu recuso não por achar que o bolo não esteja gostoso, mas porque, naquele momento, não quero comer bolo. Quando uma pessoa não quer ficar com outra, isso não significa que ela seja desinteressante...significa que, por algum motivo, essa pessoa não quer bolo de chocolate. O importante no amor é perceber que, quando o outro diz não, isso não significa que você está sendo rejeitado, nem que seu companheiro esta dizendo algo de você: ele esta dizendo algo de si mesmo!!!"


(autor desconhecido)

Falar em saudade

'Então ele veio me falar em saudade, e usou os superlativos que eu usava. Veio falar em saudade para mim que o esperei tanto enquanto ele se fechava em círculo como uma serpente que engoliu o próprio rabo; enquanto tecia em torno de si uma teia com fios de aço. Para esquecê-lo tive que parar de falar em víceras, em hormônios safados, em faíscas nos olhos, em estrelas no céu da boca.
Tive que silenciar até o oco do sentimento, da expectativa. E ele veio, depois de tanto tempo, me falar em saudade...
Não que tivesse sido fria a nossa história: ardia como bola de fogo, mas devastava nossas florestas internas, enquanto eu sonhava com águas litorâneas e uterinas.
Por diversos dias eu quis tê-lo e não o tive... Hoje eu quero da vida exatamente o que ela tem me dado: mesmo que isso inclua saudade e ausência.'

- Marla de Queiroz

Busca

(...)Eu corro em busca do sonho que eu já não sei se tenho porque talvez eu tenha perdido no meio do caminho enquanto corria atrás do improvável.
E é impossível não sonhar com as cerquinhas brancas, a casa de campo, os labradores e as crianças felizes; mas é perfeitamente fácil de entender que o meu mundo sem você não é ódio, mas definitivamente não é amor.

[Rani Ghazzaoui]

Se...

"Se Ana naquele instante olhasse fixamente para aquele homem, veria que, um dia, ele a faria sofrer. Da mesma maneira como fez com a jovem da praça da sua cidade. Mas ninguém congela um instante na memória tempo suficiente para compreendê-lo de fato. E o fato é que, brincando, Jaime avisou Ana que não pretendia se cansar por mais nenhum amor. Seus esforços nunca seriam grandes em função de nenhum sentimento, pois se acostumara a esquecer aquilo que amava, caso fosse muito custoso se lembrar."

Fernanda Young

quarta-feira, 9 de junho de 2010

E você o quê?

'Me dei ,me dei ...mudei.
E você, o quê?
Fiz tudo, te dei o meu mundo.
E você o quê?
Joguei, lutei, arrisquei, amei!
Gostei, um amor maior: impossível.
E você o quê?
Ultrapassei meu íntimo.
Fechei meus olhos, os olhos da alma.
Decidi ignorar meus padrões.
Ocultei minhas raivas, algumas vezes não deu, disfarcei meus ciúmes, amaciei minhas mágoas.
Sua voz me tranqüilizara, teu sexo me domava.
Fiz como pude e como não pude.
Do seu jeito fui levando, algumas vezes amor próprio me faltou, mas eu só queria seu amor.
Por inúmeras vezes te amava mais do que o tudo.
E pergunto: E você ? O quê ?
Armei sua lona, fiz seu circo , pintei seu mundo.
Fiz de você meu primeiro.
Usei suas cores, anulei as minhas.
Aceitei suas verdades intactas, anulei as minhas.
E você amor ? O quê ?
O quê você fez?
Despedacei meu ego, levantei nossa bandeira
Me julguei egoísta, fui contra a seu favor.
Chorei, chorei, chorei até faltar vazio em mim.
Fui no fundo, no profundo do meu âmago.
Pra merecer teus carinhos, teus gemidos, tua língua,
teu prazer, teu sorriso, tua atenção, teu apreço.Pra me sentir mulher, me fiz criança.
Fiz pirraça, cena, novela.
Decorei um texto pra nada dar errado.
Abri a mente, fiz preces, fantasiei um mundo.
Amei teu corpo, teu jeito, teu cheiro,tua sombra, abri meu peito acreditei na gente.
Desconfiei muito, mas confiei demais
E você amor? O quê ?
Ouviu minha canção?
Abriu o peito?
Falou "aquela" frase?
Fez planos pra mim?
Amou-me de verdade?
Pensou em mim?
No que construímos?
No que alcançamos?
Tudo um dia tem fim.
Tudo na vida tem volta.
Tranqüilo você pode ficar, riscos de amar sem ser amado, você não há de correr não.
Amor de verdade você não sabe diferenciar.
Dizer que vou ser feliz agora? Quem sabe?
Dizer que você vai se dar bem? Tomara!
Aprendizados são pra vida toda, mas amor unilateral na vida da gente uma só vez é suficiente.'

(Tati bernardi)

Tati Bernardi

'Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher que eu acabei me tornando mulher demais para ele.
- De tudo que ele me deu, o melhor foi o pé na bunda.'

'Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?'

"Teve aquela cena também. De quando eu fui te dar tchau só com a manta branca e o cabelo todo bagunçado. E você olhou do elevador e me perguntou: não to esquecendo nada? E eu quis gritar: tá, tá esquecendo de mim. E você depois perguntou: não tem nada meu aí? E eu quis gritar: tem, tem eu. Eu sempre fui sua. Eu já era sua antes mesmo de saber que você um dia não ia me querer."

(...) Posso te garantir que o verão solitário me deixou mais mulher, mais leve e mais bronzeada e que, depois de sofrer muito querendo uma pessoa perfeita e uma vida de cinema, eu só quero ser feliz de um jeito simples. Hoje o céu ficou bem nublado, mas depois abriu o maior sol."

'...por que raios toda vez que eu to me achando muuuuito foda, muuuito feliz e muuuito amando algo, algum merda vem e me lembra que eu não sou porra nenhuma? Heim, Deus? Deeee-us, to falando com vocêêê!'

(...) Os grandes amores são assim mesmo, eles nos dão o caminho da emoção, mas os sentimentos de verdade são apenas nossos, ninguém copia, ninguém leva, ninguém divide..."

"Estava ali, e nos somos assim mesmo, não damos o devido valor quando se tem
disponivel..
E agora longe, muitas vezes sem nenhum tipo de contato, é que vemos que um simples aperto de mão pode arrepiar ate o ultimo fio de cabelo...
Ontem sentia que faltava algo,hoje você é responsavel por uma dor que não é cruel, Mas machuca tanto...."

(...) Eu descobri que tentar não ser ingênua é a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa..."

(...) Me recordei rapidamente de todas as pessoas e coisas que perdi por ainda não estar preparada para elas, ou por ainda ter muita curiosidade de mundo e dificuldade em ser permanente...'

(...) Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais...

... 'Se você não se importar, eu preferiria que você não escondesse o seu rosto. Eu já vivi sem ele pelo máximo de tempo que eu consigo agüentar."

(...) 'Mas to me divertindo, ué. Não é isso que mandam a gente fazer? Quando a gente chora e escreve aquele monte de poesia profunda. Quando a gente se apaixona e tudo mais e enche o saco dos amigos com aquela melação toda. Não fica todo mundo dizendo pra gente parar de tanto drama e se divertir? Poxa, tô só obedecendo todo mundo. Não é isso que todo mundo acha super divertido? Beber e dançar e chegar tarde e envelhecer e não sentir nada? Sabe Zé, no começo doeu não sentir nada. Mas eu consegui. Eu não sinto nada.'

Vai passar

"Vai passar,tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada¨impulso vital¨. Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como ¨estou contente outra vez¨... "

*"Ou talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor."

(Tati bernardi)

Limite

"Chorei por três horas, depois dormi dois dias.
Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite"

Lixo e purpurina, Caio Fernando Abreu.

Cartada final

Quando damos a cartada final é porque não há mais nada a perder.

A gente já olhou por todos os ângulos, já fez os cálculos de todas as probabilidades disso dar certo e concluiu que não dá.

A gente vai sentir falta. O domingo à noite vai ser foda. Vai doer pensar que ele vai ser de outra. Mas tudo isso a gente já pensou antes. Nada disso vai ser mais foda do que continuar no relacionamento.

Relacionamentos são pra deixar a gente mais feliz.

*Se veio mais um pra ficar com a gente, é pra somar. Se ta dando dor de cabeça, se ta pesado, se ta sofrido, se ta fazendo mal, melhor sem ele.

Um namorado me disse, certa vez, que não estava feliz comigo. Achei justo que terminássemos. A última coisa que quero, no mundo, é fazer alguém infeliz.

Se já não é fácil agüentar a própria infelicidade. Agüentar a dos outros é quase impossível.

Lição

O que verdadeiramente importa, mexe. Nada de se culpar. Nada de culpar alguém. Apenas seguir em frente, procurando quem te tente. Te provoque, te emocione, te toque. É sempre bom pensar assim:Quem não se interessa não interessa. Sai depressa. Porque você não tem tempo a perder. A vida te oferece. Basta querer ver. Nada de se conformar.Tantas coisas ao seu redor. Mergulhe no que há de melhor. Mais ou menos é menos. Almeje o mais, o que te instiga ao infinito, o que te deixa quase sem ar, o que te faz sonhar,
*com muito mais, mais até do que se pode ver. O que te faz sentir menor é pouco demais pra você, pense sempre assim! Vá atrás do máximo. Não diminua as expectativas. Vá atrás do que te permite prospectar. Queira mais, sempre. E nunca pense que está querendo demais. Sinta orgulho de você...almejando sempre.

(tati bernardi)

A moça

Às vezes uma pessoa ou outra diz a ela que não se pode viver assim, fechando os olhos pras coisas à sua volta. Mas a moça, agora tão esperançosa, não só fecha os olhos como também, tapa os ouvidos.

Tantas pessoas passaram por ela, tanta coisa foi dita, tantas promessas que jamais foram cumpridas e ela fica pensando sozinha que, se ela já perdeu tanto tempo com sentimentos de papel, vale a pena - e muito - esperar por alguém que há tanto tempo faz parte da parte mais íntima da sua vida: o seu sonho de ser feliz.

(tati bernardi)

sábado, 5 de junho de 2010

Desassossegados

"Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.

Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam antes de concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam."

(Martha Medeiros)

Alice

'A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas mas não posso explicar a mim mesma.'



(Alice no País das Maravilhas)

The most Important felling


'Amizade não é um estar entre muitos, mas um estar com uma pessoa e sentir-se cercado.
Não é um eu te amo ao fim de uma ligação, mas um olhar nos olhos.
Não é um estou do seu lado, mas um estou longe e mora dentro de mim.
Amizade é uma carona de madrugada, uma conversa até altas horas, fazer rir.
Amizade é implicar, é encher o saco do outro só porque a intimidade deixa.
É saber que aquela implicância só é possível pela exagerada necessidade de demonstrar amor.
Amizade não é um falar sem parar das coisas da vida, é um estar em silêncio de não sentir-se constrangido. É deixar as entrelinhas preencherem o vazio deixado pelo dizer desnescessário.
Mas amizade também é falar as coisas da vida e sentir-se à vontade em contá-las pela certeza de, simplesmente, ser ouvido.
Amizade é um "te amo mais do que você me ama" e não se importar.
É um carinho no rosto e também um tapa na nuca, por que não?
É pôr o pé, só de pirraça, pro outro cair e ajudar a levantar.
É cair e saber que ao levantar vai receber um abraço.
é namorar e não chamar de namorado (a).
Amizade é receber um ligação quando está doente.
É ficar parecido com a convivência, ou descobrir as semelhanças.
Ou, simplesmnente, descobrir que não há nada em comum além do respeito mútuo.
Amizade é guardar segredo mesmo que o outro não o tenha pedido.
É sentir um carinho sem explicação.
É contar seus segredos mais profundos.
É não contar segredos, mas conhecer as pessoas certas para sabê-los.
Amizade é um simples beijo na testa.
Um segurar de mãos na dor.
É conhecer um pessoa há meses e parecer décadas.
É saber que por mais que sinta-se só, não está.
Que daqui a alguns anos, mesmo que a convivência não seja a mesma, a amizade o será.'


(blog 'aartedonadadizer')

Nela

'Ele não conseguia abrir seu coração pra ela. Sem mais explicações, fechou os olhos para a verdade.
Os olhos ficam na cabeça e esta não se dava bem com o coração.
O sentimento doía, mas doía na terceira pessoa.'


(blog 'aartedonadadizer')

O mais é nada


“Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.
As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.
O sorriso! Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o!
(...)

Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milênio é outro, se a idade aumenta;
conserve a vontade de viver, não se chega à parte alguma sem ela.
Abra todas as janelas que encontrar e as portas também.
Persiga um sonho, mas não deixe ele viver sozinho.
Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas.

Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.
Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!'


“Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada”.
Fernando Pessoa

Sobre Recordar.


'Há algo no ato de lembrar que é sempre fazer-se lembrar. Há quem diga que só tem memória quem vive dela; ou mesmo, que quem vive de lembrança, o faz porque não vive, está sempre no passado, estando vazio e ôco no presente. Não sei, não tenho certeza... E se certezas busco para escolher as palavras, a maior de todas é que a memória em si, precede a escolha racional dela, ou a conjuração de elementos pra povoar o suposto baú de lembranças. Só de viver, se muda o presente e marca-se a cognição do passado pela imaginação...

Parede, baú, álbum, diário, qualquer que seja o monumento que se constrói para retornar às figurações do passado, não são elas maiores que a própria experiência em si. O momento que passou nunca retorna, e as aspirações do homem só o colocam no reencontro consecutivo com suas próprias noções dos fatos. São novos sorrisos, novas lágrimas do agora de um olhar sobre o mosaico de imagens que se reencontram na lembrança. Chuvas, sóis, praia, aquela esquina, a cama, o copo, o corpo, o cheiro, uma janela que às pressas jogam o hoje numa viagem para um hoje outro, que não é passado nem futuro... É simplesmente um uivo da história que cutuca o coração.

De novo do Livro dos Abraços, ontem eu li Galeano dizer que “recordar: do latim re-cordis, (é) voltar a passar pelo coração”. Quando estamos demasiado saudosos, o coração se infla, porque tornamos a atravessá-lo com tão carinhosas cenas, tão fortes cheiros e acontecidos de outrora que clamam por ser um hoje inalcançável. E por inatingível, alimenta-se os passos das lágrimas que pegam a senha pra saltar no precipício do rosto e perder-se na emoção.

A saudade me atravessa o peito muitas vezes de menos cuidadosa com as vontades do hoje. Hoje, ela me atravessou não como antes, ardosa e ferina. Pela primeira vez em tempos, ela veio carinhosa, como se abraçasse qualquer mágoa por um segundo, como um bebê indefeso que pára de chorar no colo-acalanto. Me arrancou saudade, o que já não tem mais idade pra ser, sendo bem mais que aquele rancor, e me abriu portas... Me abriu novas portas para guardar o passado no passado. E por todo sorriso que há de vir, reconhecer a fragilidade do sentimento humano que pulsa neste peito.

E ela passa... Como mágica, passeia alada no céu. Lá... Bem longe, onde já não é mais a mesma; onde não existe mais, onde não é mais hoje, nem ontem...

Só volta a passar pelo coração... Como quem vira o tronco, olha pra trás, deixa o sorriso e segue pelo inexorável.'


(blog teiavi)

Rosa dos ventos.

'A cada passo que alterna os pés na rosa dos ventos, mais pulsa o ar que nos interpõe. O lodo escorregadio no chão da velha casa que criamos, cresce à medida que o silêncio continua a ser a cor das paredes... Do mesmo ninho, desgarramos e desbravamos vozes, linguagens, ritmos, dessabores, imagens e água, muita água. E posso vê-la empoçar no latão velho perdido nos entulhos que esquecemos de arrumar. E quisemos esquecer. Quisemos deixar. Hoje renascemos de tantas cinzas quanto o coração humano consegue suportar. Fomos ombro um do outro, num amor dos mais confusos e estranhos que já pude tocar. E sim, endurecemos. Com medo do escuro, nos escondemos em crostas de indiferença, em venenosas e ferinas palavras, em tão frágeis berros que tocaram com fogo o claustro fundo da dor. Do monte alto de tantas aflições fizemos parceria na guerra e dividimos sorrisos, com tão esfarrapadas desculpas para ficar perto um do outro.

Mas o hoje é tempo de adeus. Tempo de ir. Tempo que não se conta e mal se dá conta. Quando vi, éramos outros, intercalados pelo vão das palavras não ditas; dos cômodos que não se visitam. E só estamos... Antes mesmo de partir, estranhos. E só eu sei o quão alto me custa a dor de ainda dividir a geografia e não dividir o coração. De termos tamanha contiguidade territorial e tantos limites perigosos, pactos de fria paz.

Há tanto que queria dizer. Quão é almejado o espaço pra te mostrar o que aprendi não há como dizer, apenas deixar as chuva molhar o rosto. E ver-te em vista trêmula com os olhos vermelhos, com o punhal no peito e o sorriso no rosto. É, em mim, um zumbido agudo e ininterrupto esse impropério. Não passa e me acompanha apitando entre os carros, as pessoas falando, a vida “levando”. Nunca quis, nem quero, roubar tua casa, teus brinquedos e teu princípios. Não quero arrolar sobre teus olhos os meus olhos, os meus pontos, o meu tempo. O tempo é só o agora e ele passa deixando um vão abissal entre nós. Eu vou e deixo-te com os pretos velhos e as armas de Jorge; com sua capa vermelha e flamejante na luta com teus dragões. Os meus quedaram moinhos de vento, pra descobrir outra medida que não a fatalidade profetizada, e eles me aguardam fora daqui.

Da dor da ausência, a tua já me é a maior.'


(blog: teiavi)

Máscara


'Tudo não é tão fácil e tão claro como parece ser,
Nem todo sorriso é sincero,
Nem toda felicidade é feliz. ;~
Tudo na vida passa, umas rápido e outras nem tão rapidamente assim.
Algumas pessoas parecem tão puras,
outras tão sujas.
Algumas parecem tão amigas, e outras tão falsas.
Algumas são tão sinceras e já outras tão, indescritiveis.

Algumas, se escondem atrás de máscaras ;s
Eu me escondo atrás da maquiagem, é isso mesmo, atrás da maquiagem.
Isso não significa que por trás dela sou feia, não é isso.

É que eu passo uma sombra colorida pra parecer, feliz
Um lápis preto, pra mostrar o brilho no meu olhar
e o Rimel, pra ressaltar ainda mais.
O Batom pra fazer a diferença quando eu soltar AQUELE sorriso :D
o Pó pra cobrir as feridas da minha alma.
e o Blush pra me deixar com uma aparência saúdavel.

Por trás da sombra: ... fica uma pálpebra cansada.
Por trás do Lápis: ... fica um olhar sem brilho
Por trás do Rimel : ... fica um olhar ainda mais triste
Por trás do Batom: ... um lábio que solta AQUELE sorriso ... falso :~
Por trás do pó: ... uma alma com tantas feridas.
E por trás do blush: ... uma aparência cansada, da
hipocrisia que existe no mundo lá fora.
É mais as vezes eu saio assim, mesmo sem uma gota de maquiagem, e enfrento o mundo.

... As vezes as máscaras caem,
e as vezes a chuva de lágrimas, borra a maquiagem ... '

Te cuida.


'Me cuidarei, pode deixar. Me cuidarei para estar inteira amanhã de novo, para te ver de novo, te beijar de novo. Me cuidarei para me tocares com suavidade, para nunca encontrares um arranhão sobre a minha pele. E cuidarei do meu humor, dos meus cabelos, cuidarei para não perder a hora, cuidarei para não me apaixonar por outro, cuidarei para não te esquecer, vou me cuidar.

Fica a meu encargo voltar pra você do mesmo jeito que você me viu hoje. É de minha responsabilidade não ficar triste, não deixar ninguém me magoar, não deixar que nada de ruim me aconteça porque você me ama e não agüentaria. Claro que me cuido, nem precisava pedir.
Te cuida, dissera ele.
E eu ouvi como se fosse um te amo...'


(blog euamaria)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Não tenho mais tempo


'Perdão, mas não tenho mais tempo para isso. Agora aqui do meu lado tenho não somente uma pessoa que se agarrou à vontade de viver. Tenho uma família que se agarra ao amor que desconhecia e ao desejo profundo de viver de verdade todos os dias – sejam eles quantos for. Perdão, mas não tenho mais tempo para futilidades. Bobagens não me prendem mais, nem me preocupam. Estou com aquele sentimento raramente encontrado: sentimento de vida. Desculpa se não me preocupo com sua vaidade asquerosa disfarçada de modéstia. Ou com suas briguinhas travadas por inseguranças. Não dou a mínima para fofocas. Nem importância para piadinhas de alguém. Não tenho mais tempo para nada pequeno. E nem tenho muito tempo assim para aconselhar, mas se o pudesse fazê-lo, eu diria: deixe de bobagem! A vida é grande e simples. Muito simples. Não simples de medíocre, simples de descomplicada. Não tenho braços para consolar quem se faz de vítima. Tenho braços para abraçar de fato – sem determinar vítimas ou culpados. Meus braços não discutem mais isso. Sabe, estive pensando no que estive fazendo estes anos todos. Vestindo-me para outros, agindo para os outros, escrevendo longas conclusões que nem sequer vivia? Continuo estudando, escrevendo, vestindo-me e tudo o mais de sempre. Mas sabe-se lá porque agora também tenho todo o tempo do mundo para carinhos e coisas boas. Não ouço mais se alguém fala de minha escolha ou do meu jeito. Simplesmente não ouço. Meus ouvidos estão escutando outras coisas. Não consigo mais ficar ouvindo músicas tristes na intenção sincera de prolongar minha dor. Eu prefiro cantar e criar, a todo instante, poesias para meus amores. Não importa mais se alguém está rindo de minha desgraça. Alguém, quem? Não há tempo para ver você filosofando uma fantasia, uma coisa que você não vive. Não tenho tempo para ouvir você me contar que tal pessoa disse para tal pessoa que eu alguma coisa. Perdão, mas estou sem tempo para escutar o que não importa. Não tenho tempo para suas reclamações sobre os outros. Um dia talvez perceba que não são eles que te magoam, é você mesmo que faz isso. Desculpe, mas estou andando altaneiramente. Acima de tudo que já vivi um dia. Não sei até quando, mas se não mais voltar, me desculpe. Eu te espero aqui em cima.'


(blog 'euamaria')

Desiste Maria

'E agora, Maria? Eu te digo: agora você aprendeu. Ou não, Maria? Ainda acha que ser determinada é teimar até o fim, mesmo que este fim seja o seu próprio? Ainda acredita que ser sempre determinada é não desistir para mostrar que é forte? Maria, Maria (...) Algumas vezes na vida desistir é a maior prova de força, determinação e teimosia. Eu explico: há uma beleza em ser determinada que é a admiração de alguém ir bem fundo no que almeja. Mas, se algo não te faz bem, Maria, não é bonito você continuar lutando porque sempre foi determinada, e determinados não desistem. Ah Maria! Determinados desistem sim! Determinados desistem justamente por serem determinados em seus propósitos. Não entendeu? Eu sei...você sempre demorou a compreender, Maria... Determinados estão sempre decididos a ir até o fim. Mas o fim de uma batalha pode ser a vitória de uma guerra. E determinados vencem guerras, não tem intenção de vencer só batalhas. Então, Maria, entenda que seu propósito deve ser com a felicidade. Sua determinação é pela felicidade. Se isso implica em desistir de algo, desista. Determinados só não desistem do que escolheram. E sei que foi sua felicidade que você escolheu. Ou não, Maria? Não foi um curso, uma pessoa, uma mania ou um recorde. Se algo está te deixando infeliz, deixa Maria. Desiste e mostre que você é determinada e não desiste nunca. Não entendeu? Eu sei...você sempre demorou a compreender, Maria...'


(euamaria)

Ela também se foi

'Os dias se passaram, mas não havia o menor sinal de superação. Aliás, havia uma nova teoria. Essa história de que o tempo diminui era mentira, o tempo só aumenta. E ela disse desde aquele dia que não suportaria. Entre um misto de sentimento, dor, remorso e saudade ninguém saberia dizer o que exatamente era. Mas sabia-se que ela estava falando no auge da emoção, e por mais que a dor fosse visível, devia ser só isso.


Não era.

54 dias de saudade aumentando e consumindo, ela partiu. Ela descansou da dor indizível, incalculável e insuportável. O coração que era dele clamou por ele, a dor foi maior e ela foi. ‘Mas era só emoção, só dor... Não era verdade quando ela dizia’. Sim, era verdade sim. E se não acreditamos fomos mais surpreendidos do que o normal. Eu que não tinha voltado lá ainda para não ver o lugar, as lembranças, voltei e vi exatamente a mesma cena. Ela repousando exatamente no mesmo lugar que ele, da mesma forma que ele. Mesma casa, mesma cena. Reprise. Eles que tinham uma imagem conjugada, uniram o luto. Respirei fundo e vesti a mesma roupa, a mesma dor, o mesmo luto e a mesma resignação. Recebi os mesmos abraços, as mesmas palavras, o mesmo silêncio. Mas as lágrimas não, as lágrimas tornaram-se inumeráveis, irrefreáveis.

Meus olhos só viam a dor que havia levado àquela cena. Só viam as noites solitárias de dor que ela passou, e a culpa que até ela havia colocado sobre si. A solidão de quem perdeu seu motivo, sua rotina, sua vida. Na verdade, havia 54 dias que ela também tinha nos deixado. Mas devo dizer que nunca é tarde. Se foram anos de distância, em poucos dias ela apresentou a alma despida, sensível, entregue e desarmada. Foi o suficiente para levar todas as lágrimas, nos fazer entender décadas e lamentar o peso da solidão que ela carregou por poucos longos dias. Então a deixamos do lado dele, onde ela sempre esteve, onde ela sempre teve de estar. Onde ela sabia que precisava estar. Precisava. Quem precisa não sabe viver sem. Aceitamos. Não há outra opção, mas creio que mesmo que houvesse, aceitaríamos. Seria egoísmo pedir que aquela ligação fosse interrompida. E carregamos aquela dor que é de todos, mas é de cada um. Com ela, a resignação, esta que nos faz aceitar a busca pelas respostas, já que as próprias não teremos.'


( blog 'euamaria')

Le silence éternel

'Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambigüidade e mutação, este silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos.'



Lya Luft



Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie

Conto dela


'Não foi enganada por ninguém, além dela mesma. Agora, com afinco, protegia-se de si, não permitindo que a alma passeasse muito longe para não ter que confortá-la depois. Não havia tristeza em ter que consolá-la. Mas era uma dor desnecessária. Se for para sentir dor, melhor não sentir. Podia ser uma escolha egoísta e vil. Mas e daí? Ela também não preferia assim. Não era fácil viver no equilíbrio para quem cresceu nos extremos. Mas era a única forma de ficar um pouco distante do incurável de sua alma. Mania irritante de acreditar!

Era melhor desmerecer para se surpreender até com o nada. Entendeu? Para ela era melhor se diminuir, assim se algo ruim viesse – o que era bem provável – ela saberia o motivo. Se nada viesse, ela seria capaz até de agradecer por tamanha dádiva. E se viesse alguma coisa boa? Não viria uma coisa boa.

Não era pessimismo não. Era o que sempre acontecia, e não adiantava tentar convencê-la que tudo e todos que já conheceu eram exceções. Ia levá-la ao que sempre pensava quando tentavam confortá-la: o mundo que você conhece é exceção. As relações podem dar certo, as pessoas nem sempre pisam nas outras. Ela olhava, fazia cara de quem era mesmo consolada e se perguntava se um dia conheceria os outros 5 bilhões de pessoas que deviam ser assim. Porque as centenas de milhares a um raio de centenas de milhares de metros eram a exceção. Sabe-se lá porque ela que era regra foi nascer no lado do mundo de exceções. Tem coisa que a gente não entende; a gente aceita, não é? Então como esse pensamento era zombar do que queriam convencê-la, era melhor não dizê-lo. A tentativa de acreditar era uma ironia para sua tentativa de enganá-la confortá-la.

Mesmo assim não acreditava ser uma cínica. Ela ainda tinha esperança. Em algum lugar perdido dentro dela, mas havia. Ela não sabia como e se poderia contar com ela; mas talvez alguém soubesse. O que estava acontecendo era que alguém parecia saber. Ela não sabia como, nem se era proposital. Devia ser porque a pessoa não errava, não dizia nada que não parecesse intencional. Tudo que era dito parecia brilhar e refletir dentro dela, nesta esperança escondida.

Aquilo não mudava o que ela tinha vivido, acreditado e perdido. Não mudava sua tese de que protegê-la dela era o mais sensato. Mas como ela não sabia onde a esperança estava guardada (escondida, melhor dizendo; porque se ela soubesse onde estava, ela teria arrancado-a de lá em um dos surtos de realidade), ela não podia ocultá-la de refletir aquele terrível brilho que mostrava uma pequena, discreta e limitada possibilidade.

E agora? Como ela podia proteger o coração? Preservá-lo? Sua ação precisaria ser mais rápida que a pujança da paixão. E se ele se decepcionasse de novo? Ela teria mais noites de consolo pela frente... Ela não suportava vê-lo chorar sua pureza imaculável. Mas como ela controlaria o que ela não sabia sequer onde estava?

Talvez, se... Não, não. Parece insensato. Mas é o único jeito. Ela pode sorrir, abrir-se e deixar a esperança sair; porque em campo favorável ela vai sentir-se segura para sair do esconderijo. Ela pode ser mais rápida e segurá-la antes que se machuque. Se não der tempo pelo menos ela vai tê-la em suas mãos quando voltar em luto, e pronto. Nunca mais a perderá de vista. Nunca mais a deixará ser surpreendida e nunca mais correrá algum risco.

Até que conheça as regras deste mundo e esteja liberta das exceções. Bom, pelo menos era o que todo mundo dizia. Mas, e se estivessem mentindo para ela mais uma vez?


Entre ficção e realidade, não tente adivinhar, contente-se em ler
Entendê-la, na sua concepção, é sempre pedir demais.'



(blog 'euamaria')

Ela


'Ela bem acordava e pensava em ontem e no amanhã. Dificilmente pensava no hoje, muito menos no agora. Lembrava mais do que aconteceu e do que aconteceria pelo que aconteceu. E enquanto o dia começava, ela estava ocupada com o que já passou ou no que nem sabe se viria. Era sempre assim. Por isso ela sempre levantava com uma mágoa, um arrependimento e uma frustração. Impressionante como o brilho do sol trazia lembranças, mas não o frescor. Era o que viveu/viveria, não o que estava vivendo. Era capaz de lamentar pelo que não viveu e estar distraída o suficiente para o que poderia estar vivendo. Mas um dia, no futuro, quando o hoje fosse passado, então o que-poderia-estar-vivendo-e-não-está teria espaço em sua mente. Estava sempre magoada com o passado e preocupada com o futuro. Nunca estava livre para ela mesma, ou para outro alguém. Até que abriu os olhos e se deu conta disso. Tentou lamentar pelo passado, mas não deixou a fórmula se repetir. Tentou imaginar como seria o futuro com essa nova conduta, mas foi interrompida pelo gosto estranho de presente, que nunca sentira. Gosto de começar, de permitir-se, de aceitar. Talvez nunca tenha sentido esse gosto antes porque, afinal, sempre esteve ocupada demais com o inexistente.'


(blog 'euamaria')

O que se faz?

'Nada de ódio ou alegria, sem expressão diante da verdade que olhava para ela como se dissesse ‘não era isso que você queria?’. Sim, era. Era só o que ela queria. A verdade. E agora ela tinha. E o que se faz quando se encontra exatamente o que se estava buscando, mas o sortilégio do encontro é deveras forte demais? O que se faz com a verdade?'


(euamaria)

O dia chegara


'Ele a amou por muitos anos, assim pensava. Entendiam-se e desentendiam-se tão bem. Não conseguiam ficar juntos e muito menos separados. Uma relação de amor e ódio bem estabelecida, anos a fio trabalhada e acalentada. Um ódio cuidado e um amor conhecido. Ele via que não tinha futuro, mas também não queria o futuro sem ela. Ele sabia que a amava, sabia que a odiava e não sabia mesmo o que sentia. Ele tentou esquecer, é inegável. Buscou outras, encontrou, foi amado, supostamente amou, mas não como a ela. Ninguém tinha o amor que ela, e nem o ódio. Era só dela, ele era só dela. Anos passaram-se. Todas as centenas de dias. Mas em um dia de raiva passageira ela fez uma insensata escolha não passageira: ela o afastou e o aproximou ao comprometer-se definitivamente com outro. Impulso e erro. Ela queria provocá-lo, e se necessário fosse, comprometeria outras vidas para isso. E assim o fez. Mal sabia que a vida mais comprometida seria a dela. E foi. Mas se deveria, isso não pôs fim ao amor/ódio de sempre. E mais anos, e mais nenhum respeito a outros corações, a outras vidas, a eles mesmos. Ele decidiu não enganar mais ninguém, mesmo com a dor de esperar sozinho por quem possivelmente não viria. E tantas dores depois de espera, ela ligou. Não a ligação comum. A ligação que ele esperara por dez anos. O dia chegara. Ela estava lá disposta a abrir mão de tudo por ele. Eu te espero, ela disse. Os segundos, os minutos, as horas passaram-se. E ele não foi ao encontro dela. Ele que esperara por dez anos por esse momento compreendeu na hora que não era ela que ele queria. Ele queria mesmo era a busca, a esperança, o refúgio. Ela tirara dele naquele momento em que se entregou a ele. O dia chegara. Então, acabou.'


(blog 'euamaria')

Minha sede

Já sentiu falta de algo que nunca teve?

(...)


'Como se visse alguém beber água e descobrisse que tinha sede profunda e velha. Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações. Talvez apenas alguns goles (...).'


Clarice Lispector in Perto do Coração Selvagem

Eu espero


'Desde que acordei percebi que estava em outro lugar. Demorei a me mexer, a sentar, a observar. Mantive resoluto silêncio em meio a tantas vozes. Fiquei ainda um pouco tonta, esfreguei os olhos e ainda silenciosamente observei este lugar. Havia uma lembrança como que irreal. Definitivamente essa não era minha vida. Olhava e tentava me situar. Era outra vida. Alguns rostos conhecidos, mas em papéis diferentes; o mesmo lugar, mas sem o mesmo cheiro. Mas eu estava perdida. Senti-me como se acordasse depois de uma amnésia. O que estou fazendo aqui? Onde estão eles? Eles não estavam aqui. Procurei nos quartos, na varanda, atrás das portas, nos banheiros. Depois passei para procura interna. Dentro de mim, em qualquer lugar onde pudessem estar. Eles se perderam ou fui eu? Foi sem querer ou foi escolha? E agora? E agora o que faço sem eles? Como saberei por que eles me deixaram aqui? Não era correspondido? Mas não havia a promessa de não abandonar jamais? O que estava acontecendo? Porque eles não estavam mais aqui comigo? Hoje me dei conta de que as promessas de companhia eterna era nada além do que o próprio eco de minhas palavras e meu desejo. E que a reciprocidade que eu cria, não era concreta. E agora estou eu nesta vida desconhecida, esperando quem sabe um dia acordar e tê-los novamente do meu lado, como quem também estivesse à minha espera.'


( blog 'euamaria')