Pedaços Humanos

quarta-feira, 23 de março de 2011

Alma Gêmea

"De palpável restou pouco. Mesmo com uma vida inteira do seu lado para contar. Parece que quanto mais se vive menos se tem para se dizer. E as lembranças não são suficientes para preencher o silêncio de uma vida sem você. Na verdade, sua ausência preenche de silêncio o meu vazio.
Chove agora e o cheiro da chuva invade o meu quarto pela janela, à meia luz escrevo coisas sem nexo no enorme sem-sentido de querer que as coisas façam, ganhem sentido.
A minha memória prega peças que eu não queria ter, ela falha e peca, mas meu coração não erra, não me deixa esquecer.
Sobrou em algum móvel antigo vestígios da sua vida por aqui. O armário de roupas sem suas coisas aumenta ainda mais os meus fantasmas. O mesmo que eu guardo alguns dos seus tantos casacos só porque guardavam seu cheiro, que já se foi há tanto tempo... restando só o pó e o cheiro de mofo nas coisas. Mas que eu ainda sim eu guardo por capricho de ter algo seu. Mesmo que toda minha existência seja eternamente sua, mesmo pertencendo a mundo diferentes agora, mesmo que estejamos separados pelo tempo, pela vida, pela morte, você sempre será minha e eu sempre serei seu."

Aline d'Able