Pedaços Humanos

domingo, 31 de outubro de 2010

Tempo

Deu trabalho limpar a sujeira.
Não importa o quanto limpasse, continuaria sujo.
Todos os espelhos estavam quebrados, mas assustava ver que os cacos continuavam refletidos no chão.
A visão mais real vindoura de quem melhor me conhecia: eu mesma.
Olhos vermelhos de dor, voz rouca de clamar ajuda de quem melhor poderia ajudar. Mas não estava a disposição. Nunca tinha certeza de resposta.
Não sabia telefones decorados nem tinha na agenda algum repetido diariamente. Nada de certezas. Apenas a de que estava rodeada por vários "irmãos" e isso deveria bastar.
Não conseguia ter companhia. Estava bem só. Mas me sentia tão só...

( Retirado do blog: " aartedonadadizer")

O amor.

"O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ...ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa..."

( Martha Medeiros)

domingo, 17 de outubro de 2010

A despedida do amor

Existem duas dores de amor:

A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão embrulhados na dor que não conseguimos ver luz no fim do túnel.

A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.
A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também...

Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir, lembrança de uma época bonita que foi vivida... Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, lógicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente, e que só com muito esforço é possível alforriar.

É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a "dor-de-cotovelo" propriamente dita. É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: "Eu amo, logo existo".

Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente...

E só então a gente poderá amar, de novo.


Martha medeiros

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O milagre

"Há quem diga que não tem cura. Eu duvido. Duvido, quando tanto em nós já foi curado. Duvido, quando foi o improvável que nos descortinou os olhos, quando foi a tristeza que nos ensinou a alegria. O custo é alto - dói - mas liberta. A gente aprende não exatamente a desprezar outras bobagens coisas, mas a dar a elas apenas o tamanho e o espaço que merecem. Deem-nos licença os disparates, temos mais a viver. Temos pressa em viver. Sinto um pouco de pena dos que se fazem sofrer por nada, sinto um pouco de alegria por, mesmo em lágrimas, viver a cura. A vida anda toda intensa. E preenchida por milagres. Milagre mesmo é o amor. É o perdão, é a generosidade. O câncer cura. E nos salva de nós mesmos. Por isso, duvido. Recuso-me a desesperança. E tem sido bom viver assim. De novo a vida reaviva o que realmente importa e nos chama (rápido!), não há vida a perder."

( Retirado do Blog 'euamaria')