Pedaços Humanos

sexta-feira, 29 de março de 2013

Uma segunda chance nunca é uma boa idéia

Não sei quem foi, mas com certeza essas palavras foram proferidas por alguém muito sábio: “voltar pra um velho amor é que nem ler um livro pela segunda vez – você já sabe como vai terminar.” Sim, porque nosso coração romântico tende a achar que isso é exagero, que sempre há chances quando há amor, e que nunca é tarde pra se arrepender. A realidade, porém, tem se mostrado impiedosamente contrária a esse nosso ideal romântico de relacionamentos.

Ficar com alguém só por amor é uma péssima ideia.

Pessoas que se recusam a acreditar esse fato acabam quebrando a cara incontáveis vezes. Porque o amor é necessário, mas ele, sozinho, não sustenta uma relação. É preciso muito mais do que isso. Parceria, respeito, companheirismo, objetivos de vida similares, sexo de qualidade, são apenas algumas dentre as diversas características necessárias pra se sustentar um relacionamento formado por duas pessoas distintas. Sem elas, desculpe-me o Cazuza, nem todo amor que houver nessa vida é o bastante.

Quando um relacionamento termina é porque alguns dos pilares básicos não estavam fortes o bastante e, acredite se quiser, na maioria das vezes o amor não é um deles. Porque é muito comum observar casais que terminam ainda se amando. O amor continuava intacto, mas outras afinidades não estavam bem estruturadas o que impossibilita a continuidade de um relacionamento feliz. Só que a carência, a saudade da rotina, as noites frias de domingo sozinha na cama, nos fazem acreditar no contrário. É mais fácil ceder do que resistir. E nós, fracos que somos, ficamos assustadíssimos diante de uma realidade na qual não temos mais o conforto de uma relação que fez parte da nossa existência por tanto tempo. Recomeçar é difícil demais. O vazio machuca demais. E no meio dessa fase dolorosa de recuperação, eis que surge o ex – uma esperança no fim do túnel pra nos tirar do sofrimento. Como a mente mente, ela nos faz acreditar que dessa vez vai ser diferente, que tudo vai mudar – e nós, num ato de desespero, voltamos. Muito provavelmente pra descobrir – depois que a fase da empolgação de um novo começo acaba – que nada mudou.

Costumo comparar essas segundas chances como alguém que anda de bicicleta. Você estava pedalando feliz até que um dia levou um tombo e estourou o joelho, que ficou em carne viva. Daí você sente dor, passa remédio, faz curativo. Só que a vontade de andar de bicicleta de novo é tão grande que, mal a ferida cicatrizou, e você já sai pedalando de novo. Até que passa novamente por um buraco e se estatela no chão. O pobre joelho que estava começando a se recuperar, retrocede, ficando ainda mais machucado do que antes. Tudo isso porque você não soube dar-lhe o tempo necessário pra se recuperar, pra se renovar, pra trocar de pele. Experimente trocar o joelho pelo seu coração – é assim que você age quando volta pra um amor antigo por causa da carência. Seu coração estava no processo de cura, precisando de cuidado, de isolamento, até que estivesse pronto pra outra. Mas você ignorou o aviso do corpo. Se entregou novamente àquele amor antigo, que você sabia que lhe faria mal, cedo ou tarde. Se tivesse dado o tempo necessário para a cura completa, aí sim estaria pronta pra andar de bicicleta novamente e explorar outras esquinas pelo mundo. Dessa vez, consciente, fortalecida e preparada. Mas você foi fraca e, como não poderia ser diferente, estatelou seu coração mais uma vez.

Por isso já dissemos por aqui que ser feliz é mesmo pros corajosos. Aqueles que jamais se esquecem que o maior amor do mundo tem que ser o amor próprio. Sempre que você passa em cima desse amor em nome do amor por outra pessoa, o resultado já é conhecido – você ativa o botão do VDM (vulgo, vai dar merda.) E sempre dá, as estatísticas confirmam. Por isso, sempre que nos sentirmos tentados a dar uma outra chance pra algo/alguém que nos fez mal, deveríamos nos lembrar que a vida é boa, que é bela, e que estamos aqui em contagem regressiva, por isso não há tempo pra apostar nos mesmos erros. Só assim nos permitiremos, antes de qualquer coisa, dar uma segunda chance pra nós mesmos.

Blog Casal sem vergonha


sábado, 23 de março de 2013

Receita para perdê-la de vez

Não recuse a voz dela, rapaz. Só é doce porque tem você na ponta da língua. O contorno do batom tem algum nome idiota que você nunca vai saber e as unhas que te arranham as costas com carinho são de alguma cor exótica para além da sua compreensão masculina. Mas não desvie delas. Nem das unhas, nem dos lábios dela. Ela não se apoia em você à toa. Porque você é a queda e a sustentação dela. Um alicerce meio torto que sempre abala as estruturas. Sem segurança nenhuma. Você é a contraindicação específica dela.
Segure as palavras vãs. Elas vão, mas ela fica. Ela vai, mas elas ferem.
E você é a casca da ferida recente. Que nunca cicatriza porque você resolve abrir de vez em sempre. Na frente dela.
E ela deixa. E sabe. E não sabe por que deixa. Mas a culpa é sua.
Você começa como uma tosse de verão que não faz estrago nenhum. E acaba sendo a razão da conta mensal do analista dela. Já não basta ser o problema, você ainda sugere que seja a solução? Seu soro não se produz em si mesmo. É antiofídico. Atenda o celular e diga que não pode falar agora. Mas nunca a recuse assim, de graça. A entrega dela é por sua conta. Delivery sentimental. E nem tem taxa extra ou cobrança demais no fim do dia porque ela se dá de graça. E você, sem graça, prefere levar nas costas o amor da menina. Que é pra afastar a sua solidão e deixá-la desamparada. Muitas doses de você ao dia causam efeito retardado na fórmula dela.
E ela ignora a bula. É hipocondríaca demais e quase dependente de você.
Sofre de overdose.
Mas no caso dela é falta demais pra aguentar sozinha.
Preencha o receituário e aceite as recomendações, moço. Olhe dentro dos olhos dela e confesse que faz por mal. Se a sua intenção for das melhores, você vai escolher perdê-la de vez agora para, quem sabe, sentir a falta dela e descobrir que foi melhor assim. Que alguns estados são terminais. E que o diagnóstico só é dado quando é tarde demais pra gente admitir que não é a pessoa certa pra alguém. Confira as músicas que ela ouve e o sorriso débil de quem não tem mais forças. Mas ela ainda sorri, e é por você. E tenha alguma compaixão por si mesmo para deixá-la ir. Os médicos agradecem.
Desligue as máquinas e corte a respiração ruim dela. Ela vai aprender a lidar com outros ares.
Siga essa receita até o fim e entenda que ela sofria da doença de amor errado.
Perca-a de vez.
Ao contrário do que ela pensa, ela não vai morrer por você. Nem da falta de você.

Daniel bovolento



quarta-feira, 20 de março de 2013

Sobre o medo de amar de novo

Olhando assim de longe, com olhos mirando o sorriso, a leveza dos passos acompanhando as horas, a delicadeza ao esconder a franja atrás da orelha, mal se sabe da bagagem muitas vezes pesada, que nos acompanha na travessia. O amor costuma deixar rastros, pegadas, marcas duras que sobrecarregam a singela malinha reformada em vivos tons florais que levamos no entrelaçar dos dedos, ao longo da vida. A gente pega tudo aquilo que um dia doeu, machucou, feriu, negligenciou, e coloca ali, naquela mala cheia de flores radiantes, que é pra lembrar que até na dor se consegue algum perfume.

Nos bares, na balada, no cinema, no jantar com as amigas, lá está ela, nossa doce pintura floral recheada de medos, receios, lágrimas, despedidas, resquícios de chegada, beijos que selaram partidas, a nos lembrar aquilo que os grandes poetas já previam, o amor pode vir bem de mansinho a nos dilacerar de novo.

Penso nos passarinhos que nos cortejam com a sinfonia do amanhecer mesmo ainda de janelas fechadas, pois sabem que o dia chega para todos, mesmo que a noite seja um pouco mais longa para alguns.

E como as melhores coisas da vida, surgem assim, em acasos afortunados, a mocinha da padaria retribui seu sorriso na fila do pão, o cara do elevador resolve te auxiliar com os milhões de papéis ou simplesmente aquele gato/a da rede social da sua irmã te envia uma solicitação de amizade acompanhada de um convite para o jantar de quinta feira. É o amor pedindo passagem. É o amor com uma pá, uma vassoura e uma chave pra destrancar o cadeado dessa bagagem tão friamente lacrada a cada ida e vinda.

A mão se estende acompanhada de um inquestionável sorriso no olhar, mas logo o braço recua. É que dá um medo danado se apaixonar de novo. No meio de um monte de cacos, estilhaços, mágoas, dores, aparece alguém com uma “super cola”, um sorriso lindo e diz: levanta menina! Um milhão de decisões equivocadas, atitudes impensadas e impulsos desconexos passam pela nossa cabeça e você hesita. Hesita, porque cicatriz de amor é uma das coisas mais difíceis de se carregar na bagagem. Não tem roupa, cachecol, colar ou armadura que esconda a marca eterna daquilo que não ficou. E a iminência do amor, traz também muitas vezes, o presságio de uma nova ferida.

Daí a gente olha para o lado e tem a amiga traída pelo namorado, o rolo inconsistente da mesa ao lado, o beijo sem sentimento do cara balada, todos os sms não correspondidos e pensa: não seria emocionalmente mais prudente caminhar sozinha?!

De fato seria. Mas ai tem também aquela amiga radiante com os preparativos do casamento, o pedido inusitado de namoro de dois desconhecidos no corredor da faculdade, a troca de olhares amorosos do casal de amigos no bar, e todo o medo que motivava o receio some, como num doce passo de mágica. Os pequenos requintes de delicadeza como o gorjeio de um bem-te-vi pela manhã, nos fazem lembrar a parte mais importante do amor: aquela que não dói.

É verdade o que dizem por ai: amor é coisa de gente corajosa, amor é coisa de dois. Talvez por isso seja tão absurdamente difícil criar vínculos com alguém. Não basta haver oportunidade, tem que existir troca, predisposição. Tem que existir parceria. Aquela que você troca sua bagagem pela do outro por livre arbítrio e juntos, libertam para o mundo todas as pétalas mortas, daquela flor, que um dia foi um suave buquê. Ao invés de bagagens, mãos dadas. Ao invés de peso, leveza. O amor antes um pássaro engaiolado, agora, permite-se ser livre.

Penso nos passarinhos da janela, na saudação do bem-te-vi, em primeiras, segundas e terceiras chances, penso em passarinhar.

Se o passarinho vier: dê passagem, ofereça sua bagagem e abra os caminhos. Porque amor de verdade se a gente deixar, muda a vida da gente. Passarinhe, aninhe, ame por aí…

Blog casal sem vergonha


domingo, 17 de março de 2013

Cuida dela


Rapaz, diz pra ela que o meu bom dia ainda é dela. E que, se der, outro dia a gente se esbarra e eu levo umas flores pra ela. Faz dela um porto inseguro pra não se deixar levar pela rotina da maré calma. Beija o nariz dela que ela acorda na mesma hora e ainda dá uma espreguiçada com um sorrisão de partir o meu coração por não poder mais acordar ao lado dela. Ô rapaz, cuida dela com ternura. Essa garota precisa de alguém com tempo e com todo o coração do mundo pra entender a alma dela. Deixa ela descansar a cabeça no seu ombro, mesmo que você sinta um pouco de medo de se mexer. Eu nunca consegui ficar quieto com ela do lado.
Diz pra ela que ela é meu sonho bom. E que vai ser dureza não ter ligação nenhuma no meu celular pra responder. Coloca um toque personalizado, mas não escolhe nenhuma música especial pra vocês dois, rapaz. Puxa pruma valsa que ela sabe dançar bem demais. Ela tem um jeitinho de fugir dos meus braços que dá gosto. E não cai na armadilha dela, não. Se enroscar no pescoço dela é perigoso porque você pode ficar ali por tempo demais e se esquecer de olhar bem nos olhos dela. Diz pra ela que eu sei que eles não são castanhos, rapaz. Os olhos e ela são doces como mel. Dá pra sentir no gosto do primeiro beijo na chuva. E carrega sempre um remédio pra alergia na carteira. Dá pra prevenir os olhos dela de lacrimejarem por algum motivo bobo. Cuida bem pra ela não chorar, viu?
Diz pra ela que eu guardei os ingressos do nosso primeiro cinema e que ontem tava passando o filme na Sessão da Tarde. Pergunta se ela viu e se lembrou de mim durante os comerciais. Pergunta se ela ainda discute Godard com alguém ou se gostou de algum blockbuster recente e não quis confessar. Rapaz, ela sabe de tudo no mundo. Puxa assunto com ela, mas não deixa o silêncio consumir vocês dois. Ela é tagarela demais – e boa coisa não é se ela começar a ficar quieta. Aquieta o rosto no colo dela e deixa uma barbinha rala pra ela sentir cócegas. Ah, você faz bem em levar dois edredons pra cama porque senão corre o risco de passar frio. Ela é meio egoísta durante o sono. Diz pra ela que eu sinto falta das conchinhas e que até parei de reclamar da dor nos braços. Abraça forte sempre que der e escreve uns poemas também. Garanto que ela vai te inspirar a escrever um livro inteiro.
Ô rapaz, diz pra ela que eu soluço só de pensar em como vai ser daqui pra frente e que o meu norte foi embora junto dela. E diz também que eu reconheço que ela deve ser mais feliz com você do que comigo. Diz que eu não me conformo, mas vou tentar pensar nisso como um desvio de percurso – e que, até a gente se reencontrar, eu vou tentar garantir a felicidade dela por meio de umas dicas e recomendações que eu vou dar pra você. Ela gosta de beijos molhados e pouca agilidade na hora de se despir. O suor dela tem um gosto bom, rapaz, então não precisa – e nem pode – ter nojinho com ela. Compra cerveja ao invés de vinho e põe o chinelo dela na entrada pra ela se livrar logo do salto quando chegar. Não trabalha muito até tarde porque ela vai depender de alguma atenção sua pra ter certeza de que fez uma escolha justa em me deixar. E fala sobre música, sobre algo de blues e jazz e deixa ela sentar pra tocar piano naquele restaurante grã-fino dos Jardins. Diz pra ela que eu aprendi uma partitura pra poder me lembrar dela.
Cuida bem dela e diz pra ela que um dia a gente se encontra se ela resolver que dá pra ser feliz aqui. Mas se ela preferir ficar por aí, faz dela o seu grande amor, rapaz. Diz pra ela que a solidão só anda doce porque eu ainda penso nela. E dá um beijo de boa noite na testa dela por mim, rapaz. E não precisa dizer nada depois disso. Ela vai fechar os olhos e se lembrar de mim.

Daniel bovolento


sábado, 16 de março de 2013

19 coisas que você precisa entender antes de se relacionar com alguém

Muitos relacionamentos estão fadados ao fracasso porque os envolvidos ainda não resolveram questões pessoais antes de dividi-las com outras pessoas. É a velha – porém extremamente sábia – história: impossível ser feliz com alguém se você não faz ideia de como ser feliz sozinho. Quando duas metades cheias de questões mal resolvidas se juntam, os problemas se multiplicam e se fortalecem. Por isso, trouxemos hoje uma lista de fatos sob os quais você precisa ter consciência antes de sair se jogando nos braços de outra pessoa em busca de uma cura indireta para os seus problemas.:

1. O universo te dá aquilo que você busca. Se você não sabe o que busca, ele te dará qualquer coisa. E há grandes chances de você não gostar delas.

2. Suas questões internas não podem ser resolvidas com soluções externas. Você possui todas as respostas dentro de você – basta querer ouvi-las.

3. Solidão é algo inevitável. Nascemos sozinhos e morreremos assim também. Se tivermos sorte, acharemos alguns acompanhantes para a viagem – mas eles serão livres pra trocar de rota quando quiserem.

4. Pensar e mexer nas feridas é uma das coisas mais dolorosas da vida, por isso muitas pessoas fogem dessas tarefas. No entanto, só aqueles que enfrentam seus fantasmas conseguem se libertar deles.

5. Se você só acredita no seu potencial quando ouve um elogio de alguém, então há algo errado na sua vida.

6. Pessoas sempre te tentarão convencer de que relacionamentos felizes, sem briga, e com parceria são raridade. Não acredite nelas.

7. O ego é o grande responsável por boa parte das nossas dores. Livre-se dele se puder.

8. Oportunidades existem para todos. No entanto, somente aqueles que andam com a antena ligada conseguem captá-las.

9. Enquanto você viver buscando a perfeição no outro, jamais será feliz pois é impossível encontrá-la.

10. Esteja consciente de cada passo seu. Só quem anda com consciência consegue ver as coisas menos óbvias da vida.

11. Quando você entende que o amor não é permanente, você passa a valorizar mais cada dia pois sabe que ele pode ser o último.

12. Cada pessoa com a qual você cruza na rua tem uma história e seus fardos pessoais. Não as julgue.

13. Só consegue viver uma existência leve, quem consegue praticar o perdão. Perdoar não quer dizer necessariamente dar outra chance, mas sim eliminar a mágoa do seu coração.

14. A duração das coisas é irrelevante. A profundidade é tudo o que importa.

15. Os problemas das nossas vidas são criados pela gente.

16. Abandone a ideia de que tudo tem que se encaixar e que tudo vai ser sempre uma absoluta harmonia. Isso só existe em contos de fada.

17. Ciúme não tem absolutamente nada a ver com amor. Se você não acredita nisso, então provavelmente nunca entendeu o que é amar de verdade.

18. O amor é o grande alimento pra alma. Mas você não precisa necessariamente amar outras pessoas – qualquer forma de amor, direcionada a qualquer ser, é válida.

19. O amor tem que te permitir ser livre. Nunca se contente com menos.


sexta-feira, 1 de março de 2013

Porque eu não posso deixar você ir embora

Você nunca gostou dessa coisa de escritor que eu tinha, confessa. Sempre disse que isso me deixava com um ar arrogante e fantasioso demais. E sempre me disse que as minhas leituras beiravam a aleatoriedade na forma com que as conduzia e refletia sobre elas. Acontece que ontem eu descobri a nossa história por meio de uma dessas leituras que eu vejo por aí. Era algo da Tati Bernardi e falava sobre como as nossas exatidões eram tão perfeitas um para o outro, mas não eram feitas para serem somadas. Fiquei calado por uns cinco ou dez minutos depois que li aquilo. Não é por mal. É só que. Assim. Eu sou meio atraído por você de uma forma que nem eu sei explicar.
Sem vergonha nenhuma na cara. É o que todo mundo me diz e eu mesmo repito várias vezes. Meu Deus! Como é que pode uma pessoa pensar em insistir em algo que já deu errado uma, duas e muitas vezes da pior forma possível? Isso já deve ter deixado de ser amor há muito tempo e se tornou obsessão. Eu já escrevi para você em forma de carta, já descrevi nossos diálogos, já te romantizei e já te pintei como a belíssima sacana que você é. A gente já brigou de ficar anos-luz sem se ver. E nos odiamos com tanta força que os outros podiam sentir a repulsa ecoando nas nossas vozes quando falávamos do outro. Cacete! O problema é que toda mulher que chega perto de mim é desinteressante quando comparada a você. A gente tem essa intimidade gostosa, essa coisa de rir quando tá bem, de mostrar pro outro que superou e que não precisa mais. E, na verdade, a gente até superou. Mas eu sou mesquinho o suficiente para olhar por trás do ombro só para saber sobre você. Furada.
Eu não sei o que eu vejo em você. E isso a Tati Bernardi fala sobre ela. Mas eu vou além disso. Eu não sei o que eu vejo, mas ao mesmo tempo eu tenho sérios palpites das coisas que me prendem a você. Ao contrário do que ela acha, nós não somos exatamente o que o outro queria. Você não faz meu tipo e eu não sou nem um pouco interessante. Mas a gente se pega no sentido atraído, flagrado, coisa de pele que vai além da epiderme. A nossa falta é que nos completa de alguma forma. Só que se você somar falta com falta resulta em nada. Exatamente! Nós éramos nada juntos e sozinhos nós éramos apenas falta. Ser prolixo sempre foi uma das minhas melhores qualidades, eu sei. Portanto, ignore as partes desse texto que você não conseguir entender. Eu consigo entender o porquê de lembrar você nas horas mais impróprias e ainda assim ter coragem (ou cara de pau) de te enviar uma mensagem de celular com palavras desconexas e sílabas engolidas pela minha pressa. Você é o meu lugar comum na literatura e eu sou o seu clichê repetitivo. Simples assim.
De verdade, eu não posso te deixar ir embora assim, do nada. Assim, pela quinta ou sexta vez. Já até perdi as contas de quantas vezes entramos num consenso ao atirar pratos de vidro no outro e de quantas vezes a gente se viu retomando esse mesmo erro. O nosso erro, como um xodó pra gente. Eu não posso deixar você ir embora porque eu vivo de recortes da gente. Todas as fotografias foram recortadas e guardei os sorrisos. Por mais recentes que sejam os tapas, os arranhões, os xingamentos e aquele olhar de “você foi a pior coisa que aconteceu na minha vida”, eu guardo os sorrisos. Acho que é isso que me mantém aqui. Essa minha pequena obsessão de achar que não vai haver tragédia romântica assim com mais ninguém. Eu não dispenso um bom drama quando a sua personagem é instigante.
Eu não posso deixar você ir embora. Não é por amor. Longe de mim. É porque eu sinto mais falta sem você do que com você aqui. Ruim com você, mas pior sem. Sem sentido. Sem aviso. Sem nada que justifique essa manha de sempre ligar e jogar pesado para te fazer voltar aqui – e concluir no minuto seguinte que a gente não dá certo junto, pela milésima vez. Eu não posso deixar você ir embora porque eu quero insistir nisso só mais uma vez para ver se, com sorte, a gente consegue levar o lado bom por mais tempo que o ruim. Eu não posso deixar você ir embora. Por mil motivos e por mais nenhum. Pela minha lógica maluca e destrambelhada de quem não tem argumento nenhum e escreveu um texto assim sem saber como ia colocar ponto final. Eu não posso deixar você ir embora. E é por isso que eu termino esse texto com reticências…

Daniel Bovolento