Pedaços Humanos

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ela


'Ela bem acordava e pensava em ontem e no amanhã. Dificilmente pensava no hoje, muito menos no agora. Lembrava mais do que aconteceu e do que aconteceria pelo que aconteceu. E enquanto o dia começava, ela estava ocupada com o que já passou ou no que nem sabe se viria. Era sempre assim. Por isso ela sempre levantava com uma mágoa, um arrependimento e uma frustração. Impressionante como o brilho do sol trazia lembranças, mas não o frescor. Era o que viveu/viveria, não o que estava vivendo. Era capaz de lamentar pelo que não viveu e estar distraída o suficiente para o que poderia estar vivendo. Mas um dia, no futuro, quando o hoje fosse passado, então o que-poderia-estar-vivendo-e-não-está teria espaço em sua mente. Estava sempre magoada com o passado e preocupada com o futuro. Nunca estava livre para ela mesma, ou para outro alguém. Até que abriu os olhos e se deu conta disso. Tentou lamentar pelo passado, mas não deixou a fórmula se repetir. Tentou imaginar como seria o futuro com essa nova conduta, mas foi interrompida pelo gosto estranho de presente, que nunca sentira. Gosto de começar, de permitir-se, de aceitar. Talvez nunca tenha sentido esse gosto antes porque, afinal, sempre esteve ocupada demais com o inexistente.'


(blog 'euamaria')

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