Pedaços Humanos

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O dia chegara


'Ele a amou por muitos anos, assim pensava. Entendiam-se e desentendiam-se tão bem. Não conseguiam ficar juntos e muito menos separados. Uma relação de amor e ódio bem estabelecida, anos a fio trabalhada e acalentada. Um ódio cuidado e um amor conhecido. Ele via que não tinha futuro, mas também não queria o futuro sem ela. Ele sabia que a amava, sabia que a odiava e não sabia mesmo o que sentia. Ele tentou esquecer, é inegável. Buscou outras, encontrou, foi amado, supostamente amou, mas não como a ela. Ninguém tinha o amor que ela, e nem o ódio. Era só dela, ele era só dela. Anos passaram-se. Todas as centenas de dias. Mas em um dia de raiva passageira ela fez uma insensata escolha não passageira: ela o afastou e o aproximou ao comprometer-se definitivamente com outro. Impulso e erro. Ela queria provocá-lo, e se necessário fosse, comprometeria outras vidas para isso. E assim o fez. Mal sabia que a vida mais comprometida seria a dela. E foi. Mas se deveria, isso não pôs fim ao amor/ódio de sempre. E mais anos, e mais nenhum respeito a outros corações, a outras vidas, a eles mesmos. Ele decidiu não enganar mais ninguém, mesmo com a dor de esperar sozinho por quem possivelmente não viria. E tantas dores depois de espera, ela ligou. Não a ligação comum. A ligação que ele esperara por dez anos. O dia chegara. Ela estava lá disposta a abrir mão de tudo por ele. Eu te espero, ela disse. Os segundos, os minutos, as horas passaram-se. E ele não foi ao encontro dela. Ele que esperara por dez anos por esse momento compreendeu na hora que não era ela que ele queria. Ele queria mesmo era a busca, a esperança, o refúgio. Ela tirara dele naquele momento em que se entregou a ele. O dia chegara. Então, acabou.'


(blog 'euamaria')

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