Pedaços Humanos

sábado, 1 de maio de 2010

Larga

'Meu pai me dizia uma frase cretina, mas que agora cai certinha na nossa história. Quem dá demais fica largo. E é exatamente assim que me sinto hoje: larga. Dei espaço demais para você, dei trezentas chances para mostrar que iria fazer certo da próxima vez, dei tempo ao tempo, como você me pediu, dei minha palavra de que não perdoaria se você me traísse. Dei com os burros n’água.

É o mal de não ouvir conselhos de pais ou qualquer um que enxergue um pouco mais do que você. Porque me conheço bem, a teimosia que parece charme, na verdade, é a armadilha que vivo armando pra mim mesma. E para deixar tudo ainda mais perigoso e terrível, coloco petulância, arrogância e todos os outros sinônimos que dizem mais ou menos a mesma coisa. E que no final de tudo vira a minha mais pura e inocente estupidez de não ter sabido parar na hora certa.

Aí me vejo aqui gritando, esperneando como louca por ter feito tudo errado mais uma vez. E o chilique é aquele mesmo, igual ao de criança mimada que se joga no chão para reclamar seus direitos. Não tem reação tão eloqüente quanto essa. Tão legítima.

O pior ainda é ter a leve desconfiança de que da próxima vez vai ser apenas um pouco melhor – independentemente de ser com você ou não, mas duvido que vá ser diferente. A gente se repete, só uma lobotomia muito bem feita para desfazer tanta burrice emocional. Ou amorosa, como queira.

Vou começar a escrever o que não posso fazer de errado novamente e colar ao lado de onde já tem o resto das auto-ordens. Junto do “passar hidratante todos os dias” vou colar “não tentar resolver todos os problemas dele”. Ah, sim, “não vou querer saber aonde, como e com quem ele saiu”. Minha pele é bem hidratada, meus pés não racham porque me obedeço passando os cremes. Não posso esquecer de colar: “não tenha pena dele”. E nisso meu pai também tinha razão. Quem tem pena morre depenado.'

(Blog'redatoras de merda')

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