Pedaços Humanos

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ao desconhecido

'Nem sei se ainda estás por aqui. Mas teu pedido me pareceu tão pertinente, que intrigou: “Por favor, me diga quem é você! Me escreva e me conte o que tem vivido e amado!”. Não deixaste teu endereço, teu rastro ou qualquer outra forma de chegar a ti. Pois bem, te falo o possível, e daí começo a me apresentar: você, nem ninguém, jamais saberá mais que bem pouco de mim. Sou tão exclusiva, desconhecido. Queres notícias de minha vida? Mas o que desejas saber de uma desconhecida, por onde começar? O simples desta vida é que me atrai, a inteligência para mim é afrodisíaco e o carinho é o que há de mais lindo. Ando devagar e falo baixo. Tenho cabelos e sorrisos longos. Vivo em constante outono, e tenho estrelas até dentro do meu quarto. Desconhecido, eu habito no silêncio. Vivo poesia. E gosto muito de prosear. Se quiseres me reconhecer ao passares por mim esteja atento aos olhos, somente a eles. Os meus vão te pedir muito e deixar após passar, um aroma de lua, alguma coisa assim. No mais, eu tenho vivido minha descoberta. Claro e escuro, palavras e silêncios, entrega e cautela. Não que eu seja contraditória, mas eu sou imensa, descobri por esses dias. Tenho vivido o que a vida me dá de bom ou ruim, tenho vivido tudo que plantei e tenho plantado muito, desconhecido. Quanto a amar, é outra história. Desconhecido, eu amo demais. Fico exausta de amar. E na maior parte das vezes eu amo sozinha. E que importa, não é mesmo? Já me disseram que não preciso ser correspondida por ser ‘toda amor’. Foi bondade de quem disse, mas consolou meu coração. Só gosto de coisas raras. E amar mesmo, só tenho amado pessoas. Não consigo amar pipoca ou livros. Deles eu gosto muito, mas amar mesmo só pessoas. Dizem que eu sinto demais, e é verdade. Mas isso você só entenderia se pudesse sentir. Outra coisa, eu gosto de flor. E eu acho que amar exige maestria mesmo. Isso é o que tenho vivido e amado, desconhecido. Atenciosamente, a Maria.'


(blog 'euamaria')

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