Pedaços Humanos

domingo, 30 de maio de 2010

Começo

"Quem foi que assim nos fascinou para que tivéssemos um ar de despedida em tudo que fazemos?"
(Rainer Rilke)

'Estava inebriada. Cambaleavam todas as loucuras sonhadas. Estava em sonhos. Eram possíveis. Fazia de seu presente, lembrança. Fazia das lembranças, presentes. Seguia entre sonho e realidade. Brincava, obedecendo ao poeta. ‘Um dia serei feliz? Sim, mas não há de ser já: A Eternidade está longe, Brinca de tempo-será.’ Brincava com a astúcia de quem conhece a dor, de quem sabe que tudo que a gente quer passa. Que esperar é quase sinônimo de superação. E que amor e liberdade são sinônimos, fora do dicionário. Que o único alívio é um carinho. Que existem tragédias, romances, drama, comédia, mas nada disso de forma independente. Que somos tantas faces, que somos tão possíveis. Que não há ninguém que nos impeça e nos permita mais do que nós mesmos. Que qualquer coisa só nos magoa uma vez de surpresa, o resto é escolha. Que qualquer silêncio é melhor que uma palavra doída. E que nenhuma palavra é melhor que um abraço bonito. Que quem fala de amor carrega mais esperança que certezas. E que utopia é acreditar que amor é ilusão e mesmo assim se pode ser feliz. Que as únicas coisas de que se necessita são indissociáveis do corpo. E nenhuma pessoa, nenhum lugar ou nenhuma situação pode ser escape para um coração em desespero. Sabia que todo dia a esperança se renovava, mas ver nos olhos, no clima e nas roupas de todos que a esperança transbordava neste dia exato, pintava a alma de branco e trazia a sensação de que agora sim, agora a gente podia começar outra vez.'


Retirado do blog: 'e agora maria?'

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