Pedaços Humanos

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O que eu queria

'Pensei em sair e pedir a qualquer um, algum abraço. Não despreze a necessidade de estar envolta em outros braços. Também não se trata de nada, além disso. Um abraço somente. Sem mais delongas. Que mania de precisar o tempo todo complicar as coisas simples. Um amigo diria que às vezes uma coisa é só uma coisa. Não precisa interpretar, nem nada. Quanto ao abraço, não tem maldade no seu desejo. Aliás, nunca gostei da associação de desejar a maldade. “Você gosta dele?” “Sim, gosto, mas sem maldades”. Maldade? Qual a maldade de querer bem a alguém? E quanto maior o bem, maior a maldade? Não acho coerente. E quem se importa? Hoje, com ou sem coerência, queria mesmo era um abraço. De alguém que soubesse ouvir o silêncio. Alguém saber ouvir as palavras dos outros é dom, alguém saber ouvir o silêncio dos outros é quase magia. Queria um abraço mágico, então. Que não me medisse, muito menos pedisse. Que, em silêncio, estivesse acordado: é um abraço, só isso. Se bem que ‘só isso’ não define bem. “O que ele é seu?” “É meu amigo.” “Só isso?” Eu sempre quero dizer: “só amigo? Mas como assim, só amigo? É para ele que eu escrevo quando estou com insônia, é ele que escolhe presentes comigo, é ele que conhece meus amores e dores. Ele conhece meus segredos, e isso é muito. Como se atreve a usar um ‘só’ ao se referir a ele? Ele é muito, ser amigo é o mais que se pode ser. Pode-se namorar, casar, separar, voltar, amar e/ou odiar; e nem ser amigo. Repito, ser amigo é o mais que se pode ser. Entenda, um amigo.” Mas eu respondo: “só.” Infame divagação de quem usa as palavras para pedir que alguém escute o seu silêncio. Qualquer que seja o preço, qualquer que seja o peso, o silêncio faz-se necessário. Permito-me. Mas eu queria mesmo era um abraço.'


(Blog 'euamaria')

Nenhum comentário:

Postar um comentário