
Aquele era o único pedido a que se dispunha: - Ama-me, ama-me, ama-me. Era um susurro lento, devagar, quase sôfrego. Mas era impiedoso, implorava, aceitava qualquer valor, desde que fosse cedido. Agarrava-se com tamanha avidez que parecia eterno. Mas era tão terno, tão doce. Nada prejudicava, embora mantivesse constante avassaladora força em pedir: -Ama-me, ama-me. O pedido não era obedecido, em nenhuma escala. O que se mantinha de troca era a promessa, embora não dita. Mas os olhos diziam alguma coisa, retratavam alguma esperança. Talvez não. O pedido era incessante, mas lívido. Não duraria a eternidade. Não a mesma que teria o amor - se aceito fosse. Mas não foi. Então a distância inevitável. Os passos ligeiros, e lacrimosos, e feridos de amor. Não o amor não correspondido. Mas o amor gigante que fazia doer o peito e não havia quem o quisesse para si (...)
"Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer". Clarice Lispector
( Retirado do blog 'euamaria')
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