Pedaços Humanos

domingo, 23 de maio de 2010

Angústia


'Angústia é a coisa mais dolorida do mundo. Não tem cólica renal que se compare a sentir no coração uma dor aguda e fininha que Buscopan nenhum tira. E é um negócio meio bad trip, você não consegue parar de pensar naquilo e dói e enche o saco e você só quer que aquilo passe e parece que nunca vai passar e as palavras saem atropeladas e você se atropela também nas atitudes e dá nó na garganta e vontade de chorar e culmina num puta-que-pariu-minha-vida-é-uma-merda.

Eu já tive um montão dessas crises, por vários motivos, e eu estou cansada de saber que passa. Tudo passa, eu sei, e eu sempre uso os mesmos versos da mesma música pra me acalmar:

Oh, let the rain fall down
And wash this world away
Oh, let the sky be grey
'Cause if its ever gonna get any better
It's gotta get worse for a day

SAP:
Deixe a chuva cair
E limpar esse mundo
Deixa o céu ficar cinza
Porque se isso ficar melhor alguma vez
Vai ficar pior por um dia


Só que às vezes chove pra caralho.

O meu ano acabou de começar, acabei de voltar pra casa. E aí, antes de desfazer mala, antes de beber água, antes de ver email, antes até de fazer xixi, antes de TUDO, eu pego o telefone tremendo de saudade e ansiosa por um feliz ano novo que não veio no réveillon, nem depois e nem depois. Eu já vi esse filme um milhão de vezes, eu sei exatamente o que eu não devo fazer e, veja só!, eu não faço. Juro, fiz tudo certinho. Respiro fundo, me controlo, falo oi e converso normalmente - tão normal quanto a porra da angústia me deixa ser -, mas nunca consigo controlar a entonação de saudades imensas. Imensas mesmo, como há muito tempo eu não sentia. De ninguém.

E é tudo muito rápido, não dá pra sacar qual é. Não sei se a pouca empolgação se deve à pressa de sair em meia hora para viajar (de novo?!), se é porque tinha alguém perto, ou, na pior das hipóteses, eu não percebo a mesma vontade do outro lado porque alguma coisa mudou durante as viagens dos feriados. Obviamente, ansiosa que sou, só consigo pensar na última alternativa. E, olha, não vou te enganar, não: DÓI!

Dói no peito, na cabeça, na barriga. Dói porque eu sei que o melhor a fazer é não falar nada, não cobrar nada. Dói porque, mesmo se eu quisesse me atropelar e ligar o foda-se e dizer "qual é, hein?", eu teria que esperar 20 dias pra isso. Dói tanto que eu não quero me mexer na cadeira. Eu quero é ficar estática, só lembrando das últimas conversas depois do Natal, tão mutualmente carregadas de carinho.

"Quando eu voltar a gente conversa com calma, tá?" Quanta coisa isso pode significar?! Aaaaaaaahhhhhhh, fucking 20 dias!!! O que aconteceu nessa porra desse réveillon??? Tem alguma coisa me comendo por dentro, e eu não costumo me enganar tanto. E o que mais dói é pensar que ainda vai doer mais, porque essa paixãozinha que começou besta e despretensiosa se tornou um negócio grande demais pra caber em mim; é possivelmente a maior da qual eu consigo me lembrar. Parece bobo quando eu coloco isso em palavras, mas na minha cabeça é óbvio e é incontrolável. E perder o controle também dói.

Ok, eu estou oficialmente com um nó no peito e outro na garganta e preciso me desfazer deles o mais rápido possível. Vou tentar voltar com a vida social (depois da super correria de dezembro) e aceito outras sugestões pra acabar com a palhaçada e sobreviver com dignidade a isso tudo que dói tanto.'

(Retirado de um blog.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário