Pedaços Humanos

domingo, 30 de maio de 2010

Em tempo


'Precisava saber as horas. Pensava que se atrasara. De alguém ou de algo, não sabia bem. Sentia um pouco de medo. Contudo, era um medo quase bonito. Preferia crer que foi um atraso e manter uma nostálgica certeza de que não foi culpa sua. É mais fácil que admitir que nada acontecesse, embora houvesse tempo. Foi um atraso, e por isso não viveu. Referia-se a coisas bonitas, claro. Num futuro não. Em um passado sim. O que não viveu. Foi lindo o encontro que não aconteceu, o sucesso que não conquistou, a decisão que não tomou, o sorriso que não deu. Esteve em plena distração, em outra vida ou em outra rua. Nove horas, alguém respondeu tão sem afeto. Talvez o outro pensasse não precisar de afeto, era somente uma resposta irrefletida. Entretanto, em sua existência, era uma resolução: coisa de uns anos talvez ou apenas alguns minutos. Não sabia bem. Atrasara-se uma vida.'

(blog' e agora maria?)

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