Pedaços Humanos

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Adeus

Que procuras? Tudo. Que desejas? Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

(Cecília Meireles)


'Fazia longas cartas a ninguém. Fazia cartas que rompiam o silêncio de um coração que era calado à força. Depois de escritas era como se tivesse dito tudo a quem não receberia a carta, e nada mais importava. Era obrigada a retribuir o egoísmo e estar satisfeita só em estar bem, a despeito dos outros. Escreveu uma longa e última carta, e mais uma vez despediu-me sozinha do que viveu sozinha. Jogou ao ar o que foi ilusão, o que foi engano. Recolheu seu coração, que estava entregue, e mais uma vez olhou para os lados. Solidão. Agarrar-se a que? A quem? Pela primeira vez - por resolução ou falta de opção - abriu os braços e deixou o vento a levar. Levar seu corpo, sua alma, seu amor. Fez da falta de porto um passeio ao voar por entre mundos. Fez da solidão seu recreio, e de longe se despediu de quem já virou as costas a tempos e nem mais verá o aceno. Adeus, adeus, sussurrou. Quem sabe um dia ele olhe para trás e perceba que há muito ela partiu. Talvez nem isso. Adeus, adeus.'


(blog 'euamaria')

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