Pedaços Humanos

terça-feira, 27 de abril de 2010

À ti que foges...

À ti que foges, condeno a ir embora apenas com palavras.
À ti que foges, sobra o medo do regresso de ter que engolir o orgulho, de admitir uma fraqueza que nem Deus perdoa. Aquela de sonhar com o céu, e ao sentir nas nuvens,
pela altura acordar com medo indo ao chão.

À ti que foges, sobra pouco...
Se fugimos, é porque provocamos algo que criamos e temos medo.
Algo que almejamos mas não estamos prontos a alcançar.
Que instiga o pleno de nossos medos ao mesmo tempo que de nossos anseios.

À ti que foges, cuidado com o que desejas.
Condeno a voltar um milhão de vezes a esse momento.
São arestas que ninguém escapa. A fraqueza é nossa e de mais ninguém.
É comum projetarmos nossos medos a vida toda; é tempo demais assim.

À ti que foges, condeno a desviar o olhar,
a sentir falta de dormir sorrindo, a sentir-se salva do nada.
A cada tarde curta, cada aperto, a cada cheiro, a cada filme não assitido até o fim,
a continuar a perder-se só, procurando o que não há.

À ti que foges, condeno o amor como uma droga
de começo fervoroso, insaciável porém fugaz, tangível, de balanço inconstante, descompassado.
Que vai desafinando, até doer. Inebriado e seco.
Isso tudo não vale a pena. Não brilha.

À ti que foges, sobra girar por aí...
A não sorrir ao som daquela musica, perder-se a cada nota
A desejar o que não consegue mensurar ou imaginar, a dúvida eterna...
A não ter surpresas, a não ser consigo mesmo n’outro dia após de alguns copos.

Se lágrimas são negras ou não, elas secam como flores sem água...
Como meu coração.

Efêmero como borboletas, como o sorriso que esconde o medo,
como o amanhecer faz com as estrelas aos nossos pobres olhos curtos
que cegam a tanta luz. Elas continuam ali. Não na barriga, no céu.
Aquele que sonhas mas que teme.

Medo que gera a fuga. A fuga que me traz aqui.

( Texto retirado do blog 'ninguem cai aqui')

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