Pedaços Humanos

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Antiimperialista radical

"Eu não entendo muito bem as coisas.
Não sei se isso é alienação mas fico sempre me perguntando porque é que tem que ser assim se todo mundo é humano? Mesmo um maldito capitalista, um policial, não é uma pessoa? Não tem sentimentos? Não ama?
Quando me chamaram pra manifestação em frente a embaixada achei ótimo. Sou antiimperialista radical, não só por causa do horror que eles fazem mas também porque nunca fui com a cara desses gringos nojentos.
Fui todo feliz, com uma boina na cabeça, assim de che guevara.
Tava tão bonito. A bandeira queimando, o céu vermelho de fim de tarde parecia que tava pegando fogo também. E tinha uma menina do meu lado que era uma gracinha. Agente ficava se olhando, e se rindo, gritando "abaixo o imperialismo".
Aí de repente começaram a atirar lá de dentro. Ouvi os tiros, os gritos, vi a correria, mas fiquei ali parado, sem acreditar. Sem poder me mexer.
Então a menina do meu lado levou uma bala na cabeça. Ela nem gritou, só caiu assim, feito um passarinho.
Eu me abaixei, segurei ela entre os braços. Minha roupa ficou cheia de sangue. Quando pararam de atirar tinham seis mortos no chão. Saiu tudo nos jornais, mas sumiram com os corpos pra não ter prova. Foi tão absurdo. Agente tava ali namorando, e em questão de segundos, eu tava vivo, e ela tava morta.
É isso que eu não consigo entender. Porque eles atiraram? Como é que eles puderam fazer isso?

p.s: Texto do curso de teatro, mandado para fins de estudo por um grande amigo.

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