Pedaços Humanos

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Início, meio e fim

'Quando um relacionamento chega ao fim, mares de perguntas vêm à tona: quem terminou, oque aconteceu, há quanto tempo, onde, como, quando, porque, quem...

As questões em si não são os motivos e sim o óbvio: tudo na vida tem um início, um meio e um fim, e nos relacionamentos não é diferente.

No começo tudo é lindo, até o arroto dele é bonitinho, todos os programas são legais, ótimas viagens, ficar em casa vendo Duro de Matar 4.0 termina em sexo animal em todos os cômodos da casa. O jeito que ele sorri é fofo, mesmo faltando um molar, e o mau humor matinal dela chega a ser meigo. Um romance só. Aquela patifaria de “inho”, de “inha”, vozinhas melosas, palavrinhas no diminutivo, linguagens de bebezinho, tons agudíssimos e sons pastosos, as variações do te amo, te adoro, te quero pra sempre...

Num dado dia, o cara vira o ogro, e a menina a vaca. Assim, num piscar de olhos, aquele hábito que ele tem de roer unhas torna-se detestável, e agudizado pela falta daquele dente que só aparece quando ele masca as unhas com o canto da boca. Além disso, do dia pra noite ele começou a ter os armários desorganizados, e as saídas com os amigos tornaram-se constantes, demoradas e suspeitas. O futebol tem demorado mais que o habitual e ele tem ficado suado de uma forma nojenta.

A vaca por sua vez ficou mais preguiçosa e não escova os dentes que nem antigamente, parece que há uma displicência A falta de paciência para ver um programa de televisão até o final, é tão irritante quanto a toalha encharcada que ela sempre deixa em cima do teclado do computador dele. Chega tarde em casa, trabalha feito peão, e acorda antes dele para não precisar presenciar ele cortando o pão na mão, se lambuzando com requeijão e fazendo farelo feito pomba.

Cômico se não fosse trágico, é o começo do fim.

E aí a casa cai. Não tem data, previsão ou profecia que identifique quando o amor diminui. Ele não acaba nunca, apenas transmuta para companheirismo, amizade, parceria e admiração. Este é momento de coar o suco, separando o caldo das sementes.

A maioria esmagadora dos relacionamentos não fica só na semente, vai até o bagaço, por acreditar que as pessoas mudam completamente e pelo velho e comodista pensamento: a coisa vai melhorar. E nessa acomodação passam-se dias, semanas, meses e há quem não acredite: anos.

Quando o termômetro indica temperatura de meia estação, o conhecido morno, é sinal que é hora de repensar, relembrar alguns momentos, observar oque faltou, identificar oque sobrou e colocar um ponto final, afinal quem vive de passado é arquivo de biblioteca pública.

Mas e esses casais que têm dezenas de problemas graves conhecidos, fora os privados¿ É escolha de cada um, eu não gosto de bagaço da laranja, pode ser cheio de fibras, entretanto é amargo.

Aaaah, mas e....

Chega!

Esqueça, não sai mais suco dessa fruta.

As alternativas são duas:continuar degustando fibras e tornar duas vidas um inferno contínuo ou cuspir as sementes e encarar a vida como ela é, já dizia, Nelson Rodrigues.

Quando se escolhe por uma finalização, às vezes é difícil de compreender, pois ficamos cegos de raiva e surdos de possessão, tentando achar culpas e culpados. E nessas horas, depois que o fato foi consumado, parece que só há santos. Toda aquela chatice não é lembrada, nem todas as mágoas, mentiras, traições, brigas e discussões, parecendo que só há flores e que o relacionamento era um mar de rosas.

Aos práticos e objetivos que nem eu, recomendo terminar logo, pois se não isso desencadeia o auto boicote: aumento do peso, noites mal dormidas, baixo rendimento no trabalho, antisociabilidade irascível, traição...

Aos enrolados, sugiro que uma vez na vida façam a coisa certa duma vez. Que não esperem o momento passar, pois tempo perdido não volta.

Vamos olhar pra frente, não está morto quem peleia.'


(Retirado do blog 'acido e corrosivo')

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