Pedaços Humanos

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Senhora Paixão

Texto mandando pela amiga loucaaaa Clarissa Barcellos, tão louca que também aprecia uma boa leitura e um bom momento de reflexão e filosofia. A autoria deste texto, é da mesma e pela mesma me foi concedido. Achei muito linda e interessante sua escritura.

" Por hoje, por hora, não quero mais te querer.
agora, nesse instante, nesse segundo me permito mandar teu nome embora.
Jogo ao vento os quereres, me convenço e confessamente aqui, longe dos teus olhos, balbucio que não vale a pena.
Deixo jorrar a plenos pulmões que já não te quero mais e a ti dedico nomes os mais banais, hostis, coléricos e arrebatadores. Juro de pés unidos que já não volto a ver-te!

Aqui, salvo do teu encanto - este, bem verdade, criado por mim, único responsável pela permissão outorgada. Logo que direito teria eu de me surpreender com tais contrariedades? São quase obviedades - deixo a razão argumentar, tentar me proteger e concluo que de você não quero nem mais um suspiro, nenhuma tentativa a mais, nada!
Mas quando chega o amanhã, erguido com todas as suas possibilidades e ares de renovação, você chega, vem você, como um mal que teima em ser bem, me chamando de teu bem, me laçando com tudo isso que tu és, que gosto e ao mesmo tempo desconheço.
(eis aí, talvez, uma explicação: a atração do ser humano pelo mistério, pelo que se mostra difícil de sondar e nos desafia. e ainda talvez, uma vez não devorados, mistério decifrado, desafio vencido, alcunhamos: "fim", a paixão acabou, nada mais resta a desvendar...)chegando assim devagar, mais uma vez você apaga a dor, lança fora esse desamor que, ardilmente, se infiltrou, fez efeito de daninhas ervas e se viu senhor dos meus dias.
E já não sei se por amor, paixão, libido, flerte, carma(?) derramo-me a teus pés, sem nem ao menos perceber que o faço, esqueço de minhas promessas, e permaneço entregue, presente apenas para estar, doar, viver, para ser e nada mais. Tal qual uma criança, impelida pela inocência, pelo afeto impagável, súbito, quase que instintivo. Tal qual um cachorro vagabundo, dócil, ingênuo, domesticado.
e logo me faço pronto, preparado pra outro embate, pra encarar teu dorso quente, tuas mãos frias, teus lábios desejosos, tua carne trêmula, tuas retinas de mulher apaixonada, sôfregas, de mulher que ama...
E por se fazer mulher que ama, teima. teima em querer pra si, teima em tomar pra si, fazer teu, fazer-me teu, dando assim, mais uma vez, a deixa para a Senhora Paixão nos entreter em suas artimanhas, parque privado, rodas imprevisíveis, onde o coração - mente, pulsão, meramente ilusão(?) - teima em pintar tudo de "vermelho sangue" e fazer arder a noite dos amantes. as noites, as tardes, as manhãs...
E logo a atraente senhora sorri vencedora, sufoca, oferta o doce e o amargo. Mostra-se credora austera, cobra o preço da fina, rara, e não menos breve, alegria. Causa turbilhão, diverte-se com a tragicomédia, dá-nos carona em sua montanha russa de altos e baixos, trêm fantasma, por poucas vezes carrossel, pipoca, algodão doce... e preparada está para recomeçar seu espetáculo, do estreante "não te quero mais", ao célebre e aclamado "eu amo você".

Assim ela viaja com seu circo, com sua caravana, carrega seu parque, seus artistas que protagonizam habilmente suas cenas: os amantes acorrentados.
E além de pintar as noites, colore também de rubro o nariz de seus fantoches... vale a pena?"

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