Pedaços Humanos

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Divagações bagunçadas sobre honestidade

'A verdade é que eu sempre quis ser uma daquelas femme fatale dos filmes dos anos 50, num pub ouvindo blues ou jazz, de vestido vermelho, piteira, dose de whisky. Vejam bem, eu sempre quis ser. Nunca fui.

Na verdade feliz ou infelizmente sempre tive uma tendência a ser direta demais. Em algum momento eu simplesmente acabava com o encanto de tentar descobrir se a pessoa estava interessada em mim ou não perguntando diretamente. “Desculpe-me pelo meu severo grau de autismo, mas você está dando em cima de mim?”, “Só para eu entender dar uma voltinha (sair daqui, ir para outro lugar)significa ir para um motel?”Aparentementente a honestidade se não for travestida com firulas é agressiva. Percebi que os meninos (homens, ainda cometo esses deslizes sociais de vez enquanto) ficavam constrangidos, ou pressionados, ou achavam que eu estou (estava) me oferecendo e que não poderiam perder a oportunidade. E nessas eu acabava perdendo a oportunidade de receber uma resposta honesta.

A honestidade é uma coisa engraçada. Me lembro de uma vez quando eu era pré adolescente ter sido agredida verbalmente por ser “gigante” (tenho 1,74m desde os 12 anos de idade) e ter me virado muito calmamente, e ter dito que embora fosse não tinha feijões mágicos nem ovos de ouro (meu senso de humor é estranho desde pequena). A brincadeira não era por que a menina era baixinha, era um auto-deboche, mas ela levou para o lado pessoal. Estava concordando com a menina que queria me ofender com obviedades e aparentemente isso a enfureceu e cadeiras voaram. Não se preocupem como eu era gigante consegui conter a maluquinha e ninguém se feriu com gravidade.

(Querida maluquinha caso você esteja lendo esse breve relato honesto não se ofenda, pessoas pequenas também moram no meu coração)

A calma e a honestidade foram ofensivas. Chamar uma pessoa de gorda se ela for gorda não deveria ofende-la, é apenas uma constatação. Tenho uma amiga que é literalmente filha da puta, no entanto esse xingamento a ofende muito. Acho que até mais do que a pessoas que não tem mães putas. Questionei-a se se ofenderia se a chamassem de filha da “dama da noite”ou “profissional do sexo”. Ela me disse que o problema não são as palavras mas a intenção.

Embora a intenção seja importante não consigo ver alguém se ofender sendo chamado de abóbora por maior que seja a intenção do outro.

Agora, depois de muitos anos, eu compreendo esse lance de intencionalidade um pouco (bem pouco) melhor. Embora muitas vezes as pessoas se ofendam com coisas que digo sem intencionalidade. Faço alguma constatação que as pessoas interpretam como se tivesse uma intenção obscura e malvada. Já tentei ficar de boca calada para preservar os outros e a mim mesma (sou sensível embora burra, estúpida e ignorante socialmente). Infelizmente essas tentativas duram muito pouco e tropeço na língua.

Bom, se você se identifica com esse relato, estou frequentando um grupo de apoio para pessoas burras, ignorantes e estúpidas socialmente(APBIES). O grupo muda a sua vida, você fica mais alegre, contente e produtivo mesmo sem a muletinha de Jesus (droga, acho que acabei de ser burra, ignorante e estúpida socialmente. Bom, estou apenas no primeiro passo).

Agora se você ainda não se convenceu a procurar ajuda para esta triste condição, sugiro que dê início ao primeiro passo e se funcionar para você como funcionou para mim procure o grupo porque realmente faz toda a diferença.

Primeiro passo parte 1: ligue seu computador e comece a escrever todos os seus ímpetos de honestidade burras, estúpidas e ignorantes socialmente.

Parte 2: coloque online de preferência no blog de um amigo que mora em outra cidade usando um pseudônimo.

Funciona mesmo. Você vai ver, vai mudar a sua vida!

O APBIES aceita doações.

O texto já acabou e se você ainda não entendeu por que eu escrevi que queria ser uma femme fatale no início dessa ... coisa que eu escrevi, fique feliz. Realmente aquele início não tinha absolutamente nada a ver com a história, mas fiquei com vontade de escrever e escrevi por que era honesto, ninguém me conhece mesmo.'


( Retirado do blog ' acido e corrosivo)

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