Pedaços Humanos

terça-feira, 3 de abril de 2012

Coração grande

"Incrível como as vezes me engano. Ou, quem sabe, como o mundo me engana. Quem me enganou? Meus pais? Quem me criou e me transformou em uma adulta cheia de ilusões assim? Eu nunca sei se a "estranha" sou eu ou se as pessoas estão esquisitas demais. Algumas coisas que acontecem e viram rotina estão muito fora do que eu tenho como realidade. Isso vai de grandes a pequenas coisas, como pais estuprando suas próprias filhas ou jovens que não cedem espaço no ônibus para um idoso sentar. Trancam o amor e o respeito ao próximo a sete chaves no armário antes de sair de casa? Escondem-o embaixo do colchão ou o quê?
Sou eu quem valoriza demais coisas que não tem mais valor? Sou eu quem estou atrasada no tempo? Se sim, será que vale apena seguir em frente, encarar o futuro? Sinceramente eu tenho medo. Medo de que se torne bobagem o que eu penso que é essencial.
Há uns dias recebi a notícia de que uma tia-avó estava doente. Estava se sentindo muito indisposta e o corpo todo estava bem inchado. Após muitos exames descobriram o que a estava deixando assim. Palavras do médico: coração grande.
Confesso que me espantei e perguntei "e desde quando isso é doença?" Agora ate a medicina está macumunando com isso também? O que vão fazer, entupir a minha tia de remedio até que ela fique com o coração murcho?
Olha, eu não sei você.. mas eu sempre quis ter um coração gigante! Claro que um pequeno espaço é reservado para as pessoas com quem mais me identifico, normal, todos fazem isso. Mas eu sempre quis respeitar, admirar e fazer o bem para o máximo de pessoas que fosse possível. E é isso o que tento fazer diariamente, sempre achando que esse seria o jeito de ser uma pessoa melhor. Uma pessoa melhor para mim mesma, porque eu me sinto bem assim.
Agora, sem mais nem menos, descubro que isso é uma doença grave, que pode matar, que deve ser tratada às pressas e eliminada com brevidade. Descrubro que um coração grande pode fazer muito mal, causar dores terríveis e maltratar o corpo; que pode nos deixar entrevados em uma cama, sem poder sair pra dançar, beber um pouco com amigos, estar perto de quem a gente ama e que nos ama também. Descubro que um coração grande pode nos deixar internados em um quarto gelado de hospital, com aqueles travesseiros finos, aquela roupa de cama sem cheiro de nada, aquela janela de enfeite e a tal comida sem sal.
Eu prefiro continuar. Mesmo depois de saber de tudo isso eu prefiro continuar buscando a cada dia um coração enorme. Quem não estiver satisfeito, mude o nome da doença! Coloque nela um nome bem complexo, e se possível duplo, daqueles que mal conseguimos pronunciar.. porque se minhas jovens irmãs escutam isso vão crescer achando que ter um grande coração é ruim. Já pensou, Doutor?


Tia, é claro que eu torço para sua melhora, que todos os sintomas passem, mas não quero que seu coração diminua. Dentro dele eu me sinto confortável, eu danço, brinco e canto. Não quero viver em um "coração quitinete", sem espaço, sem ventilãção, sufocada com o próprio amor. Meu big coração está esperando você e sua risada gostosa de volta."

Tayná Saes

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