Pedaços Humanos

terça-feira, 3 de abril de 2012

A alegria é insônia

“Esquecemos com facilidade o que não queremos compreender. Acreditava que as árvores só cresciam de noite. Não mudei de opinião. Os homens crescem dentro das árvores. Falo comigo, o que não significa que me escuto. Ainda não conheço as palavras. Complico minha vida para a morte ter o que pensar. Assim a entretenho. O frio quando chega de assalto torna as pessoas desajeitadas, deselegantes. É como se elas usassem uma roupa em cima da outra, sem muita concordância. Parece que estamos com casacos alugados. Não peço licença para pressentir. A lembrança tem uma cicatriz que não fecha pela insistência. A insistência é a pressa de se ver acabado. A pressa é curiosidade de não se acabar. Eu não cicatrizei minha vida. Não me culpo por me desperdiçar, muito menos procuro desviver o que vivi para estar de paz com a memória. Não há paz na memória. A alegria é insônia. Eu me perpetuo ao me consumir. Quem se adia não chega nem ao seu começo. A ferida é a altura da árvore, do homem dentro da árvore, que só cresce de noite.” F.C

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