Pedaços Humanos

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Falhei

"Quando eu era criança, nós morávamos em um cômodo no centro da cidade, aquelas quitinetes e tal, privacidade 0. Sempre que eu queria me esconder do mundo, entrava no banheiro, ligava o chuveiro e ficava lá chorando ou conversando com as paredes. Era o mesmo prédio desde o meu primeiro ano de idade. Saímos de lá quando eu tinha 12 anos e lembro que no dia da mudança, entrei no banheiro, passei a mão nos azulejos e disse "Obrigada". E foi apenas uma palavra, mas era a minha forma de dizer "muito obrigada por terem me ouvido esses anos todos, por serem as testemunhas silenciosas de tudo que eu passei". Sei que tinha dias de simplesmente eu entrar no banheiro e chorar de soluçar. E lembrei disso hoje, porque justo hoje, após tanto tempo, eis me aqui acuada em um canto, chorando o mundo e soluçando. Aquele choro espaçado. Barulhento. Típico de quando se é criança e ainda não se aprendeu a controlar as emoções. Ou típico de quando se é adulto e o desespero bate. Aquele choro que te dá vergonha se alguém escutar. E você reza para que ninguém te escute. E se te perguntarem "mas por quê você está chorando?". Por tudo e por nada. Acaba sendo o combo todo da sua vida que nunca deu certo, quando em vários momentos algum filho da puta te diz sorrindo "calma que tudo vai dar certo". E lá se vão 27 anos esperando isso, acaba sendo um mito como o papai noel. Tudo dar certo = grande ilusão da vida. É tanta coisa, que no final das contas não se acha um motivo para as lágrimas, acaba sendo por nada. E então me falam "volta pro Rio". E claro que eu quero voltar para o Rio. Da mesma forma que eu quero ver um show do Radiohead e comer um bolinho de bacalhau no Lamas. Só que nada disso vai fazer desaparecer todos os "nãos" que a vida diz. Sempre pensei que as ações aconteciam por motivação. Você sai de um lado da rua e vai para outro porque há um motivo. Encontrou alguém, está fugindo do sol, é por ali o caminho etc. Penso que viver também é isso. Por quê você vive, Patricia? Silencio. No hay banda. Nem deveria me explicar, já que ninguém entende nada mesmo, mas total não é papo de suicida. A questão é motivos para viver. Não tenho nenhum."

(Retirado do blog 'teamoporra')

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