Pedaços Humanos

sexta-feira, 28 de março de 2014

Amor bom é facinho

Há conversas que nunca terminam e dúvidas que jamais desaparecem. Sobre a melhor maneira de iniciar uma relação, por exemplo. Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho - esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade?

Eu suspeito que não.

Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói.

Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?

Minha experiência sugere o contrário.

Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.

Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado.

Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?

Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer?

Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir?

Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.

Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio?

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada.

Ivan martins

segunda-feira, 10 de março de 2014

Quase uma Oração

“Peço à Deus um pouco mais de força para carregar o peso do meu mundo nas costas. Está tão pesado e tenho me sentido tão exausta. Tenho acumulado no peito tanta coisa ruim, tanto sentimento indevido. Eu só quero um pouco de paz, nada de preocupações ou medos absurdos de ser infeliz. Sorrir de verdade, sem precisar esconder a dor massacrante sentida no peito. Acreditar que mesmo durante a tempestade escura o sol ainda está lá, e que mais cedo ou mais tarde ele há de surgir trazendo a esperança de dias melhores de volta. Um coração transbordando de fé e alegria, é o que eu peço.”

Laureane Antunes


Constatação

“Eu sei que atrás desse universo de aparências, das diferenças todas, a esperança é preservada. Nas xícaras sujas de ontem o café de cada manhã é servido. Mas existe uma palavra que não suporto ouvir e dela não me conformo. Eu acredito em tudo, mas quero você agora! Eu te amo pelas tuas faltas, pelo teu corpo marcado, pelas tuas cicatrizes, pelas tuas loucuras todas, minha vida. Eu amo as tuas mãos, mesmo que por causa delas eu não saiba o que fazer das minhas. Amo o teu jogo triste e as tuas roupas sujas é aqui em casa que eu lavo. Eu amo a tua alegria mesmo fora de si, te amo pela tua essência e te amo até pelo que você podia ter sido, se a maré das circunstâncias não tivesse te rebanhado nas águas do equívoco. Te amo nas horas infernais e na vida sem tempo. Te amo pelas crianças e futuras rugas. Te amo pelas tuas ilusões perdidas e pelo teus sonhos inúteis. Amo teu sistema de vida e morte, te amo pelas tuas entradas, saídas e bandeiras e te amo desde os teus pés até o que te escapa. Te amo de alma para alma e mais que as palavras, ainda que seja através delas que eu me defendo quando digo que te amo mais que o silêncio dos momentos difíceis, quando o próprio amor vacila.”

Fernando Pessoa

Devaneios


“Eu não acho que seja possível preencher um espaço vazio com aquilo que você perdeu. Não acho que nossos pedaços perdidos caibam mais dentro da gente depois que eles se perdem. Agora foi a minha ficha que caiu: se eu de alguma forma a tivesse de volta, ela não encheria o buraco que a perda dela deixou.”

O Teorema Katherine.


domingo, 10 de novembro de 2013

Obrigado (por ter me deixado)

Te encontrava nos cômodos todos. Nos pares de meia largados no chão, tão sem combinação quanto eu. Tão largados, amassados, sujos e esquecidos que não existiria metáfora melhor pra falar sobre mim. Doutor, isso passa? Nem tudo passa. E foi um baque descobrir que tem ferida que abre e inflama, tem ferida que abre e corta tanto que leva um pedaço da gente, tem ferida de todo tipo e tanta gente ferida por baixo da roupa que nem dá pra perceber quando se esbarra numa delas pela rua.
Eu tava meio despedaçado. Desesperado mesmo. Numa loucura indigna, mas com um quê de drama-psicológico-monólogo-acelerado e me faltou ar. Me faltou ar por conta da pressão e da altitude. O ar congelou e eu fiquei rarefeito. Achava que as coisas todas passavam e foi um baque, como já disse, quando soube que a dor tinha estacionado. Parado bem na minha frente e me atingido numa baliza perfeita. Nem deu tempo de me despedir quando saía do chão e engolia poeira. Doutor, adianta anotar a placa do carro?
Você foi aquela quase-coisa-que-deu-certo, sabe? Que me prende no “e se…” que eu nunca vou saber porque foi feita uma escolha voluntária. Aquele meu quase-amor que dói mais do que se tivesse sido porque me arrancou de mim por todo. E você não me segurava, não segurava o banco, não segurava o balanço e me dizia com todas as letras que eu devia ter agradecido só por você ter aparecido. Ainda que estático, ainda que na sombra do quarto como quem avisa que pode levantar no meio da noite e ir embora.
Eu só senti que deveria ter agradecido com todas as letras quando você acelerou.
Acelerou o carro e parou tudo na minha frente . Será que a gente aprende a dirigir outrra vez? Digo, não no sentido literal da coisa. Mas quanto tempo demora pra passar algo que não se passa? Pra sempre é tempo demais, mesmo que tivessem me cortado o acelerador e eu tivesse que empurrar o carro. No fundo, eu entendi que era tudo uma questão de visão: não tem “e se…” porque você foi. Sem prestar condicionalidade ou oferecer proposta. Você foi e pronto, acabou. A gente é que tem essa mania de estender a história pra tentar se sentir bem depois que é abandonado. Pra encher a cabeça e fingir que ainda vive aquilo. Ou pior: pra provar que você nem sempre foi assim e que se importava, sim, comigo. Mesmo que tudo indique e negue isso.
Daí eu retomo os fatos e me lembro, de novo, de você reclamar de eu nunca ter te agradecido. E vejo as faltas, vejo os lapsos, vejo como você nem me fazia tão bem assim. Vejo aquela dependência e me pergunto como eu podia considerar que era amor alguém que vai (embora) sem a menor consideração com você. Se não existiu consideração pelo que se viveu, o outro já admite que nem ligava. E eu lá vou me matar, me envenenar, me tratar com dó como se você merecesse isso?
E eu, que sempre fui mal-educado pra você, que nunca soube expressar direito os berros não dados, as noites mal dormidas enquanto lutava pra trancar o teu fantasma aqui dentro (da casa e de mim), queria que passasse e não percebia o controverso estado em que estava. Se queria que passasse, por que aprisionar uma projeção bonita de você que nunca existiu? Foi bem melhor pra mim. E agora eu agradeço pela melhor coisa que você fez por mim: obrigado (por você ter me deixado).

Daniel Bovolento

domingo, 14 de julho de 2013

Somos todos caçadores de pipas

A grande maioria das pessoas já empinou uma pipa na vida. Naquele domingo de sol, com um monte de crianças da sua idade correndo extasiadas pelo parque, seu pai te permitia escolher a pipa que você quisesse, da cor, jeito, formato, leveza que mais se identificasse com você, e então a comprava. E você saia correndo com ela pelos gramados ainda sem saber bem o que fazer e como fazer aquilo que parecia tão fácil aos olhos dos outros. Até que alguém vinha, amarrava a linha no seu dedinho delicadamente e te ensinava como um objeto de papel poderia flutuar no céu.

Aí a gente cresce. Cresce, estuda, trabalha, viaja e começa a empinar pipas pelo mundo afora, como se ainda tivéssemos 10 anos e um banco da praça nos esperando quando o jogo ficasse enfadonho. Um jogo de ganhar e perder que não se aprende com tanta facilidade.

Amar hoje em dia é como empinar uma pipa. Por vezes se afrouxa a linha, por vezes a esticamos ainda mais pra analisar o quão longe ela consegue chegar. Mas sempre com a certeza que a pontinha desgastada da linha ainda se prende ao indicador da mão direita com a mesma força de quando era uma linha nova, recém comprada na papelaria. Ás vezes uma rajada de vento mais brusca ou uma corrente de ar mais abrupta abala o equilíbrio do movimento conseguido com tanto esforço. A pipa sobe, desce, faz que vai cair, faz que vai voar pra longe, perde o rumo, a direção, o norteio do balanço…perde a sustentação. E o que de fato acontece, é que nós, pequenas e inocentes crianças, com a sede e o alvoroço de continuar na brincadeira, com a teimosia de um garoto (a) que não sabe perder, fazemos esforços inimagináveis para manter o brinquedo no ar. Corremos daqui, dali, acolá. Amarramos um nó tão apertado no dedo, por medo do brinquedo se soltar e sumir no mundo, que chega a doer, a machucar, a ferir o dedo, o ego, a alma juvenil que no fundo tem mais gosto pela brincadeira, que pelo brinquedo.

O resultado é um só: dedinhos esmagados, cheios de edemas e muito machucados. Não passamos de ingênuos e inexperientes caçadores de pipas. Grandes e tolos caçadores de amores. Seja por carência, por baixa estima, por cicatrizes ainda não curadas, aceitamos entrar numa brincadeira, num jogo de estica e puxa cujo único fim possível é a solidão. Nenhuma pipa se mantém nos céus infinitamente. Quando a brisa diminui, quando o calor dos corpos se abranda, quando chove, quando as lágrimas começam a não serem contidas, a pipa cai no chão e a eufórica brincadeira só consegue recomeçar quando o tempo estiver claro e ensolarado de novo, ou no instante em que a gente se depara com uma pipa nova dando sopa por ai. Caso contrário, o pedaço de papel que já apresentou tanta vida um dia, perde todas as cores e se torna apenas um emaranhado de fios, cores e dores no meio da paisagem inerte.

Mais importante do que saber como e quando iniciar a brincadeira é saber a hora de parar. O momento de respeitar sua exaustão, de esperar um céu mais límpido e uma brisa mais favorável. É preciso se permitir por vezes uma estiagem para que a primavera possa florescer de novo.

Não acho que a gente precise parar de brincar. Contudo, o jogo deve ser saudável e prazeroso para o criador e a criatura. Se a pipa tão almejada alçar vôos maiores do que você consegue acompanhar, a deixe ir. Se a linha apertar demais, desate os nós e afrouxe as voltas. Se mesmo com tantas tentativas o vôo não se sustentar, aguarde um corredor de vento mais propício. Se o universo colaborar e a pipa se mantiver no ar, aproveite como se não houvesse amanhã. Se nada disso acontecer…o banco da praça, aquele da infância, talvez ainda esteja lá para servir de amparo, aconchego e ombro. E como dizia um grande escritor da literatura brasileira: o que tem que ser, tem MUITA força!

O mundo gira e mais dia, menos dia, o universo traz pra você a pipa que você tanto esperava. Aquela que se sustenta sozinha, sem nós ou amarras e que nunca voa pra longe a menos que a brisa leve ambos, “brincante” e brinquedo, para a mesma direção…”

(Blog casalsemvergonha)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

40 verdades importantes que aprendi sobre a vida

A vida é um mistério, tanto para você quanto para aquela pessoa que você imagina que a entenda muito bem. Somos todos seres que vieram parar num corpo humano e que têm que aprender diariamente como lidar com os desafios desse mistério chamado vida. O fato é que não há verdade absoluta sobre as coisas. Como alunos diferentes que chegam a conclusões distintas sobre o mesmo conteúdo, cada um vai aprendendo da sua maneira a melhor forma de tocar os seus dias. Esse assunto recorrente me veio mais uma vez à tona ao ler um texto de um blog estrangeiro chamado de Raptitude (dica de um leitor nosso, o Alexandre Schmidt) na qual o autor listou algumas “verdades” que ele aprendeu sobre a vida. Concordei com uma boa parte delas e achei que seria bacana trazer as nossas preferidas aqui para vocês. Vejam se concordam também:

1. Você não pode mudar outras pessoas, é é grosseiro tentar.

2. É muito mais difícil queimar calorias do que se controlar para não comer alguma coisa.

3. Crianças são criaturas extremamente honestas até que a gente as ensine a não serem.

4. Gritar sempre piora as coisas.

5. Sempre que você se preocupa com o que os outros vão pensar de você, na verdade você está se preocupando com o que você irá pensar de você mesmo.

6. Todo problema que você tem é responsabilidade sua, independente de quem o causou.

7. Se você nunca questiona suas crenças, então provavelmente você está errado.

8. Ninguém sabe tudo sobre a vida.

9. Cada rosto que passa ao seu lado na rua representa uma história tão complicada quanto a sua.

10. Sempre que você odeia algo, ele te odeia de volta: pessoas, situações e até objetos.

11. As pessoas sempre embelezam tudo pra fazer as coisas parecerem mais bonitas e legais do que realmente foram.

12. Aqueles que mais reclamam, são os que menos realizam.

13. Evitar fazer algo o torna automaticamente mais difícil e mais assustador.

14. A maioria das coisas que você vê é somente o que você acha daquilo que vê.

15. Se o que você está fazendo parece ser absolutamente seguro, então você está fazendo isso errado.

16. Culpar os outros é o passatempo favorito dos que não gostam de responsabilidades.

17. Qualquer pessoa que você conhece é melhor do que você em algo.

18. Conhecimento é uma crença, nada mais.

19. O que torna os humanos diferentes dos animais é que os animais conseguem ser eles mesmos com facilidade.


20. Auto-reflexão é a única saída do caminho da infelicidade.

21. Quase todo clichê carrega uma verdade tão profunda que as pessoas tende a repeti-la até que você se canse de ouvi-la. Mas a sabedoria ainda está lá.

22. O mundo seria um lugar melhor se todo mundo lesse/assistisse National Geographic.

23. Se você não é feliz sozinho, não vai conseguir ser feliz em nenhum relacionamento.

24. Mesmo se não custar dinheiro, se tomar seu tempo, então não é de graça.

25. Todo mundo acha que dirige melhor que a maioria das pessoas.

26. Se vale gastar dinheiro com algo, é com um colchão de qualidade. Você vai passar um terço da sua vida nele.

27. Mesmo que tentemos lutar contra isso, somos todos hipócritas.

28. Crianças entendem tudo que você diga desde que passe o recado em uma ou duas frases curtas.

29. Palavras são imensamente poderosas. Uma marca cruel pode ferir alguém pra vida toda.

30. A maioria das coisas que as crianças aprendem dos seus pais não foi ensinada de propósito.

31. O ingrediente secreto geralmente é manteiga, em quantidades obscenas.

32. Sempre é válido experimentar de novo alguma comida que você não gostou da primeira vez.

33. Os problemas, quando surgem, raramente são tão dolorosos quanto a experiência de temê-los.

34. Nada – nunca – acontece exatamente como você imaginou.

35. Às vezes você tem que afastar algumas pessoas da sua vida – mesmo que elas sejam da família.

36. Não há razão para terminar de ler um livro do qual você não está gostando. A vida é curta demais pra isso. Engula seu orgulho e o deixe de lado pra sempre, inacabado.

37. Qualquer pessoa pode se acalmar instantaneamente ao olhar para o mar ou para as estrelas.

38. A vida é uma viagem solitária, mas você vai receber várias visitas. Algumas duram um bom tempo, mas a maioria não.

39. Talvez você tenha se esquecido disso, mas fomos feitos pra pisar na grama e celebrar o sol nascendo.

40. Matar tempo é uma atrocidade. Ele não tem preço e nunca volta.



Blog casalsemvergonha

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Tudo passa


É tão estranho quando passa. Quando aquele sentimento de que eu nunca ia achar alguém igual a você passa. Quando aquela agonia nada bonita no peito, que até chega a inspirar ou a despertar sérios motivos pra terapia, passa. Porque na troca desse sentimento meio triste, meio sozinho, de gostar de quem não gosta da gente, de sentir por quem recusou claramente ou por acidente, na troca disso tudo e no meio do turbilhão, a coisa para. Fica um buraco. Um buraco com tampa e um vazio diferente. Um vazio novo que a gente ainda não se acostumou, que tinha alguma coisa que preenchia antes e agora não tem, mas também não dói. É o vazio do que passou. E do nada eu percebo que você já não me incomoda tanto assim, que eu consigo acordar e passar por você sem ter um aperto, sem me sentir perdido, sem ter nó na garganta e uma crise de alergia pra disfarçar as mãos suando e o efeito da sua presença. Do nada passa e é tão estranho quando passa…
Eu achei que você nunca fosse passar. A gente sempre acha que vai demorar muito, ou que a atenção nunca mais vai desviar o foco de você, ou que a gente nunca vai conseguir mais engolir a saliva que fica presa na garganta em todas as vezes que você aparece com alguém, mas passa. Daí fica a saudade. Sabe aquela saudade gostosa que persiste, que a gente usa pra tentar sentir de novo enquanto faz todos aqueles testes de reação pra ver se você ainda incomoda? Saudade estranha essa. Nem é boa, nem é ruim. É persistente. Acho que é pra dar algum conforto nesse nó no peito que se desfez.
E há os que não conseguem desapegar dessa dor, desse sofrer-que-ainda-não-passou e guarda isso pra sempre. Porque se não bastasse perder – ou nem ter ganhado – você, agora eu também perco o nó que você me deu. Como se isso fosse uma companhia compensatória. Sofrer demais é amar pra quem precisa preencher algum vazio qualquer, mesmo que as formas não se encaixem e sempre sobre mais vazio dos outros lados. O vazio transborda. E essa gente um dia vai aprender que precisa deixar passar. Aprende também que, quando passa, a gente tem que ser forte também pra reconhecer que já foi. Bola pra frente. História nova quando a gente esbarrar por alguém que vai ficar ou passar também. Porque se a gente se apega… Ah, acaba num ciclo infinito. Dor-do-que-não-passou trocada por saudades de sentir dor. Tem gente que acha isso melhor do que cantar Socorro e imitar o Arnaldo Antunes. Eu prefiro acreditar que não.
Mas agora, falando especificamente de você, de você ter passado, e de eu nem ter percebido a despedida, foi um estranho-bom. Foi bom porque a gente sempre acha que vai precisar de alguém pra ocupar o lugar e nem sempre é assim. Um dia desses, a gente acorda e pronto, você passou. Um dia desses a gente nem se lembra mais do seu telefone. Dia desses a gente se esquece até dos seus gestos e acaba arrumando o armário sem dó nem piedade. Ah, tudo passa. Você passou e muita gente ainda vai passar. Eu mesmo já devo ter passado pra tanta gente e pra tanta gente que ainda nem esbarrou comigo ainda. Você passou e eu tô deixando você ir de vez. Sem me agarrar ao falso conforto da saudade que fica. Vai, pode ir, foi bom enquanto durou, mas eu já não preciso mais. Passou, passado. E fica até engraçado o jeito que a gente se pega vendo que o apego não tinha o menor fundamento e que tudo que a gente fez foi meio imbecil. Mas não foi em vão. Eu precisava ter feito de tudo, ter ouvido de tudo, ter comido de tudo, ter chorado de tudo, ter rido de tudo e mais um pouco pra você passar.
Pra essa gente que ainda não passou, espera um pouco. Um dia desses a coisa muda. Abre um vinho e põe pra tocar alguma música. De preferência alguma boa. “Você passa, eu acho graça. Nessa vida tudo passa e você também passou”. Cantarola e beberica comigo, baixinho ou no volume que achar necessário. “Dentre as flores, você era a mais bela, minha rosa amarela, que desfolhou, perdeu a cor”. E quando passar, deixa passar tudo de vez sem fechar a porta no meio do caminho.
Acredita em mim. Um dia passa. Comigo passou.

Daniel Bovolento



terça-feira, 14 de maio de 2013

Se você não me quiser

Se você não me quiser, reserva o tempo e as precauções pra outra pessoa. Me deixa meio quieto no meu canto e para de puxar muito assunto assim, como se você se importasse mais do que o normal, como se você tivesse que me ver bem de qualquer forma por conta de algum interesse romântico que te deixasse extremamente triste e vulnerável se eu também estivesse. Deixa que eu me refaço sozinho sem riscos de má interpretação. Deixa que eu prefiro ficar num canto ouvindo toda a discografia do Death Cab for Cutie, pensando nas formas de me trancar no quarto por dias sem ninguém encher o saco e tudo mais. Deixa que eu vivo nessa minha de ser sozinho e vou indo que é bem melhor do que achar que eu tenho a sua companhia.
Se você não me quiser, esquece que a nossa discografia combina tanto e não deixa isso transparecer a toda hora. Não sorri demais e nem fala de mim pras suas amigas. Não diz que eu sou bonito e que tem tanta gente lá fora me perdendo por entre os dedos porque não consegue me ver do jeito que você vê – e você acaba sendo só mais uma que tá lá fora me perdendo também por entre os dedos, mas você me vê e isso deve ser pior ainda pra mim. Friendzone de romance que podia dar certo machuca mais.

Se você não me quiser, é melhor parar de mexer comigo. De dizer que se lembrou de mim quando nem eu mesmo me lembraria. De brincar de ciranda comigo e com meus olhos. De dizer que tá aqui pra sempre e deitar no meu colo sem tirar as mãos da minha coxa. É melhor deixar bem claro que a gente tá procurando no outro alguém diferente – ou até tá procurando a mesma pessoa, mas pra fins diferentes. E o fim é sempre aquela bosta confusa que constrange quando fica claro.
Se você não me quiser, para de dizer que eu sou especial. Minha mãe me diz que eu sou bonito, meu pai me chama de responsável, os amigos me acham legal, mas especial eu só sou pra você mesmo. E isso acaba fazendo com que eu me sinta especial sempre que você me dá as mãos e diz: vamos lá, você pode. Eu posso? Então me diz que eu posso e que você quer. Diz que eu posso mesmo, desse jeito, agora.
Se você não me quiser, ah, diz que não quer. Diz que os beijos roubados foram bobeira e que a sua agenda só tinha lugar pra mim porque você tava carente e precisava me ver por isso. Diz que os meus amigos são uns paspalhos e que gostaram à toa de você. Diz que eu não tenho motivo pra ficar preocupado porque alguém vai te deixar em casa e dormir agarrado com você de uma forma melhor do que a que eu faço. Se você não me quiser, não me quebra inteiro, não me deixa de quatro, não permite que eu me entregue por completo. Porque eu não sei descer ladeira com o freio engatado. E daí, um dia, você vai embora e eu vou me perguntar, sem que eu entenda nada, já que você parecia tanto me querer…

Daniel Bovolento

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Amor bom é amor livre


O ser humano é viciado em posses. Queremos sempre mais – Gostamos da sensação de ter, de possuir. Pior do que se apegar ao material e acreditar que isso realmente é o que importa na vida, é transpor esse desejo para as pessoas. Como se já não bastasse todos os nossos pertences, queremos que o outro nos pertença. Fazemos contrato, adicionamos sobrenome, compramos alianças. Queremos ditar regras na vida do outro, como se ele, do dia pra noite, nos pertencesse. E nos esquecemos que ninguém jamais será propriedade de ninguém.

Arrisco dizer que o ideal do amor romântico é um dos principais culpados pela forma como nos relacionamos hoje. Nos inspiramos em ficção, em poesia, em filmes. E consequentemente, ficamos com uma impressão errada de que, quando encontramos a nossa metade, precisamos prendê-la para que ela não fuja. Transformamos nossos amores em cópias de Rapunzel sem lembrar que existe sempre uma saída, nem que ela seja uma trança jogada pela janela. Engraçado pensar que usamos todos os artifícios que temos em mão para tentar garantir que o outro não se vá, quando jamais deveríamos querer que alguém fique com a gente por dó, pressão ou obrigação. Não existe nada mais lamentável do que ver duas pessoas que continuam juntas e infelizes por estarem amarradas por uma algema invisível. A gente devia se envergonhar disso.
Outro problema freqüente é que, invés de procurarmos um outro inteiro, saímos atrás da nossa metade. E, naturalmente, uma metade não pode viver sem a outra. Então, queremos que o outro se adeque a nossos gostos, ao nosso modelo de vida, às nossas preferências. Mas o fato é que todo mundo é diferente. E se você ama alguém, tem que entender que precisa respeitar a individualidade do outro. O outro não é a sua sombra, não é seu reflexo no espelho. A maior prova de amor que você pode dar a alguém é amá-lo e deixá-lo livre.

Poucas coisas no mundo são tão covardes quando querer matar a individualidade do outro. Queremos descaracterizar a vítima para que ela se adeque ao nosso mundo, sendo que, até algum tempo atrás, nada na vida da pessoa tinha alguma conexão com a sua. Estamos cada dia mais querendo dar um jeito para que o outro não se interesse por mais ninguém, que a atenção dele esteja única e exclusivamente voltada para a gente. Isso está destruindo os relacionamentos, está transformando algo que deveria ser leve e delicioso, em algo pesado, um fardo a se carregar.
Não existe nada mais recompensador do que saber que o outro está com você por livre e espontânea vontade. Não porque tem medo ou se sente obrigado. Ele está com você porque te escolheu dentre milhares de outras pessoas. E acreditamos que o relacionamento tem que ser feito de escolhas diárias. Você precisa olhar para o outro todos os dias e pensar: hoje, mais uma vez, eu o escolho. Isso é lindo demais.
Temos que entender de uma vez por todas que a liberdade precisa vir acima do amor. A liberdade é o bem mais precioso que a gente tem e se o amor está de alguma forma privando o outro desse direito, então isso é tudo, menos amor. A liberdade precisa ser um critério na sua vida – qualquer coisa que tenha a intenção de destruir ou se apoderar da sua liberdade, está errado, faz mal.
Outro dia ouvi de um amigo que ele não iria viajar com a galera porque sua namorada não tinha deixado. Ela não queria ir “porque não conhecia ninguém” e, portanto, não deu permissão para que ele fosse. Quando questionei qual o sentido disso ele respondeu: “Fazer o quê? Eu amo essa mulher.” Juro que senti pena dele. Que tipo de amor é esse? Amor que controla, que reprime?
Acredito que isso acontece porque ideias absurdas são colocadas na nossa mente desde que nascemos. Crescemos e aprendemos que na relação precisa haver posse, alianças, contratos e achamos isso tudo normal. Precisamos ter coragem pra limparnossas mentes dos velhos conceitos que nos privam da felicidade verdadeira. Sempre que se deparar com um desses, se questione, pense se aquilo realmente faz algum sentido pra você – ou se só faz sentido para os outros. Se descobrir que aquilo não passa de uma imposição social, amasse os contratos e os rasgue com gosto. Só assim você abre caminho pra felicidade real e abandona de vez os contos de fada.

Blog casal sem vergonha

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Os amores de verdade são mais bonitos

Mais fácil imaginar o que nunca foi do que o que teve laço marcado e contado em retratos, álbuns e um punhado de lembranças. Mais fácil pressupor que os amores que não foram seriam mais fortes, mais duradouros e, quem sabe, mais amados. Mais fácil viver uma vida de “e se…” quando os amores que já foram sofrem de um abandono romantico gradual. É que a gente não é justo na memória e vai sempre achar que os amores que nunca aconteceram foram os mais bonitos.
Um misto de imaginação e expectativa gostosa faz com que a gente projete naquela possibilidade de amor distante um tipo de afeto memorável. Pros amores que nunca existiram, a gente ainda tem cama. Tem casa, quarto e espaço. Tem pedido de desculpas e um imaginário que deixa a gente bobo pensando ainda que podia ter sido o grande amor das nossas vidas. Pros amigos, a gente sempre seleciona as melhores histórias de amores que sumiram de um dia pro outro, de alguém que a gente amou à primeira vista ou de um daqueles dias que nunca viraram dois. A nossa recordação afetiva é meio injusta com os amores que ficaram.
Os que ficaram, viveram e provaram que mereciam espaço. Tiveram que aguentar a convivência, nem sempre pacífica e razoável, de uma companhia escolhida e acolhida por pura e própria vontade – e talvez por amor. Ficaram, bateram o pé e tiveram seus dias de luta e de glória. Com bom dia e boa noite. Com batida de porta e gritaria. Com choro ou sorrisinho bobo. Com adeus e até um dia desses. O que a gente não enxerga é que os amores reais também são bonitos. E por terem sido reais e terem trazido pro nosso dia-a-dia um pouco daquele sentimento que a gente sempre esperou utilizar, dar e receber dos amores do talvez, eles merecem da gente uma beleza para além da imaginação. Papo de romantismo real, sem o aspecto ilusório que a gente cria sempre que começa a se apaixonar por alguém ou pensa em como teria sido construir alguma coisa com alguém que nem fez questão de ficar – ou não ficou porque nunca existiu de verdade.
Os amores de verdade são mais bonitos porque dariam filmes, novelas, histórias de cinema que as pessoas não costumam contar. Eles fogem do senso comum e vivem de acordo com cada par que se encontra por aí. São mais bonitos porque têm a sua forma de expressar o que sentem e o que não sentem e são independentes da imaginação para tirar um sorriso da gente ou pra fazer um dia feliz. Amores reais não precisam ser sonhos pra fazer a gente sonhar – e você nem precisa fechar os olhos pra tê-los. Eles tão ali e se responsabilizam por tudo o que acontecer a dois. Pagam o preço e bancam o terreno deles. E vivem. E escrevem palavras na nossa pele que significam mais do que possíveis histórias que a maioria de nós criaria com algum tempo ocioso e com alguma pessoa que a gente nem chegou a conhecer de verdade. Esses amores não são scripts rodados nem clichés literários. Eles se apresentam nus, com estrias, celulites e luz acesa. Assim, de pronto, de choque, com toda a verdade bonita e feia que poderiam ter.
Se você pensar bem, os seus amores reais renderam as melhores coisas. As melhores lembranças. Muitas. Muito mais do que qualquer outro amor que você não tenha vivido. Renderam até dores – mas dores reais, com motivos, razões e discussões que existiram de verdade. E, querendo ou não, acho que eles merecem o seu lugar preferido na memória, ainda que a gente precise de imaginação pra deixar as coisas menos fora da rotina e mais interessantes. Como diria Chico, amores serão sempre amáveis. Mas os amores reais serão sempre as pessoas que resolveram amar a gente de verdade, sem precisar imaginar como teria sido.

Daniel Bovolento

Não é culpa sua

Não adianta. E eu não sei se é conspiração cósmica ou azar do destino, mas não adianta. Você não vai gostar de alguém só porque alguém gosta de você. E olha que pode ser aquele seu tipo perfeito, feito realização dos seus rascunhos detalhados sobre como seria o homem ou a mulher da sua vida. Pode ter todas as qualidades, os traços físicos, os olhos claros, os quase dois metros de altura, o piercing no nariz e o que mais você tiver imaginado. Não adianta muito.
E daí te culpam por isso. Por não ter tido estalo. Por não ter tido encanto. Por não ter rolado aquele brilho nos olhos ou aquele friozinho na barriga que você sempre sabe que sente quando conhece alguém com potencial pra acampar na sua vida antes de entrar de vez na sua casa. Culpam você e culpam o seu dedo podre. Porque você só gosta dos tipos errados, dos tipos não correspondidos, dos tipos imaginários, dos tipos de tempos desconectados e de todos aqueles tipos que, supostamente, você não deveria gostar. Pior ainda é quando te culpam por não gostar de quem gosta de você. Será que eles não percebem que dói tanto na gente quanto em quem a gente não gosta nesses casos? Porque parece que a gente faz por mal. Que a gente espera mesmo sofrer ou viver de desamores, vagando por aí e se alimentando dessa coisa vazia de relacionamentos sem futuro. Porque culpam a gente como se fosse fácil ver quem nos quer bem indo embora, com as mãos vazias – e a gente com o coração na mão quando sabe que podia ter feito alguém feliz.
Ele ou ela te ama. Bacana. Mas você vai fazer o que? Vai viver o amor do outro (e pelo outro) e abrir mão do seu só porque alguém diz que você pode escolher amar alguém se empregar um pouco mais de esforço? Às vezes até funciona, às vezes é só perda de tempo e estrago desnecessário de coração. Não se tomam amores que não são nossos. A gente não pode pegar e viver o sonho de alguém, muito menos o amor que não é criado pela gente. E haja dedo podre. Será mesmo? Ou será que a gente não tá só tentando, como todo mundo, encontrar alguém no meio desse vasto espaço que faça algum sentido perto da gente? Sou inclinado a pensar que é essa a opção e que a gente não é tão egoísta assim. Se bem que, no amor, não rola muito ser altruísta quando a gente não consegue amar alguém. Amor que pede esforço pra sentir não é amor. É alguma outra coisa e pode até ser bonita, mas não é amor.
Então, se for pra amar alguém de volta, que seja de um amor que partiu de você. Que foi criado ou conquistado e que mexeu com você de alguma forma que tenha te feito sentir além de uma boa companhia. A gente vai continuar tentando e sabe-se lá se um dia chega ou não. Sabe-se lá se um dia a gente acha ou se perde de vez (e se acha perdido). Mas pega essa culpa que você sente por achar que tá se esforçando pouco e esquece. Pega essa coisa que tentam empurrar pra você como uma necessidade de aceitar o que vem só porque pode ser bom ou legal e pensa que amor não foi feito pra contentamento. É pra se encantar e pra ter algum sentido além dessa coisa do gostar de alguém. Pensa naquele trecho do As Vantagens de Ser Invisível e leva como lema, porque a gente realmente aceita o amor que a gente acha que merece. A verdade é que “the greatest thing you’ll ever learn is just to love and be loved in return”. E relaxa. A culpa não é sua por querer ser feliz com um amor que seja seu.

Daniel Bovolento

sábado, 13 de abril de 2013

Intolerância

Uma das principais características que diferenciam os humanos dos outros animais é que temos a capacidade de nos colocar no lugar do outro indivíduo. Ao nos imaginarmos na pele de outros seres, nosso instinto de compaixão é aflorado – a dor do outro dói na gente. No entanto, numa realidade regida pela competitividade e pelo cultivo do ego, é possível observar que, a cada dia mais, temos deixado de praticar o nosso lado tolerante, e parece que o instinto da tolerância em algumas pessoas tem estado mais atrofiado do que articulação com reumatismo.

A intolerância – que é a falta de respeito pelas ideias, crenças ou práticas dos demais sempre que essas sejam diferentes ou contraditórias às nossas – tem ganhado sustância principalmente na era digital. Como temos uma imagem que nos representa virtualmente e que muitas vezes nada tem a ver com quem realmente somos, é preciso se destacar entre a maioria. E uma das formas mais rápidas de ser visto, notado e compartilhado – vícios da era digital – é criando polêmica, muitas vezes criticando uma ideia, posicionamento ou opinião do outro. Talvez a ausência de necessidade de olhar nos olhos enquanto se faz uma crítica, já que é possível dizer o que quiser do conforto do seu lar sem ser verdadeiramente visto, dê mais coragem para os intolerantes crônicos.

Todo mundo já conheceu um intolerante crônico. É aquele que vive de apontar “erros” alheios (entende-se por erro tudo aquilo que se diferencia do que ele pensa). É aquele que blasfema, xinga e manda pra putaqueopariu sempre que tem seu ego de classe média abalado por um ponto de vista do qual ele discorda. Pra ele, o contexto do tema não importa – ele vive em busca de migalhas, caçando erros alheios para que possa esfregar na cara do mundo como as pessoas são burras e estúpidas e como ele é inteligente. Esse é aquele sujeito que assiste a um filme só procurando uma falha na edição. É o que vai à festa de casamento, come e bebe todas e vai embora falando mal da coxinha. É o que lê por cima um comentário no Facebook sobre algo com o qual ele não concorda e já desce a lenha sem nem saber direito qual o contexto. É o sujeito que acha cruel caçar a sua própria comida, mas que paga alguém pra fazer o serviço sujo para ele, de modo a garantir que lhe não falte o bife à milanesa de cada dia.

O intolerante crônico também se aproveita das minorias. Ele diz que casamento gay vai atrapalhar o funcionamento da sociedade só porque ele não é gay. Diz que maconha medicinal não pode ser aprovada, só porque ele não tem uma doença terminal para qual ela seria um santo remédio. É contra pesquisa com células-tronco, porque não está sua vida toda numa cadeira de rodas quando já existe uma solução para o problema que está barrada por questões morais. Acha cotas para negros em faculdades um absurdo e espalha depoimentos revoltados de que todo mundo tem chances iguais, só porque ele não nasceu na favela e não teve que largar a escola pra trabalhar vendendo balas no semáforo aos sete anos. Se alguma luta de outro grupo é por algo que não afetará a sua vida, ele simplesmente vai contra – só pra garantir. Esquece que todo mundo um dia será minoria em alguma situação.

Ele domina a arte do “mi-mi-mês” e só vê defeitos, ao mesmo passo em que ignora as qualidades alheias. Se acha incrivelmente bom e evoluído ao ponto de julgar as escolhas dos outros, mas, enquanto ninguém o vê, varre toda a sujeira da sua vida pra baixo do tapete. Arma o cenário, coloca o sorriso no rosto e posta no Instagram um retrato da sua pobreza espiritual.

O fato é que não existe verdade absoluta – o mundo se revela pra gente da forma como escolhemos enxergá-lo. Às vezes, o lado pejorativo de alguma coisa que nos incomoda está na nossa mente. Talvez o que te revolta tanto no outro seja apenas um espelho de algo seu que lhe é desconfortável. Por isso, antes de esbravejar por algum comportamento ou atitude alheia diferente da sua, é sempre bom refletir sobre motivo pelo qual aquilo de incomoda tanto. As melhores respostas vêm quando a gente fecha a boca e escuta a voz de dentro.

Quando enxergamos almas, em vez de somente corpos, nos tornamos mais humildes, mais sensíveis, mais colaborativos e menos egocêntricos. Por isso, fica aqui um manifesto por um mundo mais tolerante. Um mundo no qual um ser não mata o outro ser somente porque não consegue conviver com o fato de que o outro tem uma orientação sexual diferente da ele. Um mundo no qual as pessoas usem mais essa dádiva exclusivamente humana de poder se colocar no lugar do outro, e finalmente coloquem em prática a primeira lei que deveria constar no Código Penal da consciência de cada um: só faça com os outros o que gostaria que fizessem com você. Um mundo no qual as pessoas deixem de ver somente o externo e, antes de julgar, lembrem que ali, por trás do físico, existe um outro ser com tantas dores e amores quanto você, tentando encontrar um caminho nessa louca trajetória da vida.

Enfim, fica o nosso manifesto por um mundo onde prevaleça a essência de um cumprimento usado no sul da África no qual as pessoas falam:

- SAWABONA (“eu te respeito, eu te valorizo, você é importante para mim“)

e ouvem de volta:

- SHIKOBA (“Então eu existo para você“)


Casal sem vergonha blog



sexta-feira, 12 de abril de 2013

Eu não te amo pra sempre


Eu tenho medo do pra sempre. O pra sempre é o vilão que insiste em transformar relações que foram felizes em fracasso diante dos olhos alheios. Paro e penso quanto tempo dura o pra sempre. Onde fica esse lugar do qual a gente passa a vida toda falando, a vida toda sonhando. De fato, nunca conheci alguém que tivesse estado lá. O pra sempre tem cara de mentira consciente. A gente sabe que não sabe chegar lá. Tentamos inventar caminhos, usar o GPS, pedir informação. Mas ninguém sabe informar.

O pra sempre virou quase expressão automática, que nem o Graças a Deus. A gente fala muitas coisas que não achamos que sejam obra de Deus – não estávamos exatamente agradecendo, mas quando vimos saiu. O pra sempre é assim também. Vou te amar pra sempre. Quero você pra sempre. Sempre que pronuncio uma dessas frases, meu cérebro alerta para a besteira que acabei de dizer. Não seja ridícula, ele afirma. Pra sempre é uma coisa distante demais, longe demais. Porque eu nem sei se vou acordar amanhã. O quadro que enfeita meu quarto, e que só encaixou em cima da minha cama, pode despencar a noite e partir minha cabeça em duas. E comigo, vai-se o pra sempre. Ou eu posso acordar e receber uma ligação sua dizendo que não me ama mais. Que não sabe o que aconteceu. De repente, acha que meu beijo ficou molhado demais. Ou que a forma como falo e mexo no cabelo está te dando nos nervos. E aí vou chorar pitangas no canto, eu e o pra sempre.

E, por isso, tenho que dizer que não te amo pra sempre. Te amar pra sempre é pesado demais. É responsabilidade demais. Não sei se aguento o fardo, não sei se dou conta. Não gosto de meias promessas. Mas posso te oferecer o meu amor de hoje, assim como fiz com o amor de ontem. Todos os dias quando acordo, penso que sorte tenho de estar viva. Mais uma noite em que o quadro manteve seu posto de decoração, invés de se tornar um assassino. E penso também em você. E penso, como tenho pensado há algumas centenas de dias, que te amo. Poderia ser diferente. Poderia não amar mais. Mas te amo.

E acho que amor seja que nem um carro – precisa de combustível pra funcionar. Se você não abastece, ele te deixa na mão em meio à Marginal às 6 da tarde, enquanto você ia pra aquela reunião importante. E não adianta xingar os quatro cantos, achar que a vida é injusta, que nada dá certo pra você. Você não colocou combustível. Menosprezou as necessidades do carro, assim como menosprezamos as necessidades do amor. Amor precisa de alimento. Não ache que ele dura pra sempre se você não cuidar. Amar dá trabalho mesmo. É que nem cachorro. Dá um trabalho enorme, mas você automaticamente esquece dos xixis no sofá ou do tapete rasgado quando ele te olha nos olhos e te tasca uma lambida. Aí você tem certeza que valeu a pena.

A gente combinou que não mentiria para o outro. E eu não posso te dizer que vou te amar pra sempre. Estaria quebrando o contrato. E não quero te ouvir dizer que me quer pra sempre. Não gosto de identificar uma mentira em meio a todo o resto que considero verdadeiro. Quero sim ouvir eu-te-amo. Muitos deles. Mas preciso ter a certeza que cada vez que um eu-te-amo sai da sua boca foi porque, naquele exato momento, você está me amando muito. Porque cada eu-te-amo que solto, vem naqueles momentos em que o amor é tão grande, que não cabe dentro de mim. Não cabe também dentro dos beijos. Nem dos carinhos no seu cabelo...

E, nesses momentos em que te amo demais, me dá uma vontade imensa de dizer que te amo pra sempre. Que vou amar pra sempre aquela conchinha gostosa. Que vou amar pra sempre o jeito como você me pega com força e me abraça com seus braços grandes. Que vou amar pra sempre seus conselhos que sempre se provaram coerentes. Que vou amar pra sempre quando você percebe que eu estou sem sono e faz aquele carinho infalível na minha nuca, pra eu pegar no sono com você. Mas me seguro, porque não quero mentir pra mim e nem pra você. Não consigo imaginar o dia em que não mais amarei cada pedacinho seu. Mas a experiência me provou que dessa vida, nada sei.

Hoje eu vibro com cada uma dessas coisas que me fazem te amar. E sei que te amo porque você tem a capacidade de fazer cada célula do meu corpo vibrar como ninguém mais conseguiu. Mas não posso te dar o que não possuo – o meu amor futuro. E talvez a incerteza do sentimento – do meu e do seu – seja justamente o combustível do meu amor. Sei que amo hoje. E sei que você não me pertence. Sei que estamos juntos nessa trajetória emocionante da vida porque assim queremos. E que assim seja enquanto as mãos dadas nos fizerem felizes.

Jaque Barbosa

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Ela não vai voltar


Coloque de vez na sua cabeça: ela não vai voltar. Não existe essa história de querer voltar no tempo, nem de remoer o que já foi e o que não volta mais. O que há de vir tem muita força, eu sei. Mas o que já foi… Ah, o que já foi levou o que eu tinha e o que eu tinha planejado ter por um longo espaço de tempo. É como se tivesse deixado o meu caderno de viagens rascunhado em algum lugar e alguém o apagasse, página por página, como se nenhuma daquelas memórias tivesse existido. Não adianta se matar pra resgatar umas memórias esboçadas, meio sujas, de muito tempo atrás. É tudo areia movediça armada secretamente como uma armadilha para te levar pro fundo do poço de uma só vez. Pior ainda é quando foi ela mesma quem bateu a porta e deixou a chave para você dar de cara com a casa vazia sem nenhum bilhete de despedida.
Encha o copo mais uma vez antes de perceber que ele nem estava vazio. Isso é ansiedade, eu sei. Eu tenho que me ocupar com alguma coisa pra não deixar a cabeça vazia pensando no que já foi. Meu masoquismo sentimental vive em crise ano após ano. Chega o aniversário dela e eu relembro o ano que foi nosso. Chega um e-mail qualquer com um “boa tarde” cordial e eu me lembro do que o nosso acabou num nó desatado. Não é aquela dorzinha gostosa que a gente sente de vez em quando e que a gente guarda só pra lembrar que tá vivo. É constatação de que já foi e já era, sabe? Até eu que tenho tentado parar de fumar por conta de uma alergia boba resolvo acender um cigarro e apagar a luz da varanda pra tentar pensar melhor nisso tudo.
Todo amor, por menor que seja, deixa uma impressão. Eu esbarro em você na esquina e reajo de alguma forma imprevisível. Não tem como tratar como desconhecido quem um dia já foi o alvo das suas cócegas, a tua ligação de madrugada ou o teu pedido de socorro. Não tem como passar uma borracha e seguir em frente por inteiro. Superar é uma coisa, esquecer é outra e apagar é um processo completamente impossível. Mas, pra mim, o problema mesmo é quando ela se reflete nos rostos das outras mulheres. É besta, eu sei. Só que é como se todas elas pudessem me prometer o que mesmo que ela e, ao mesmo tempo, nenhuma delas fosse suficientemente hipócrita para fazê-lo (porque não conseguiriam cumprir). E essa é só mais uma das tantas vezes que eu tento dizer pra mim mesmo um “vai lá, deixa disso e queima a foto, deixa de ouvir essas músicas, pensa em outra coisa e aproveita a juventude”, mas acho que envelheci uns trinta anos com essa coisa constante de acordar no meio da noite e gritar por ela. A tarja preta não faz mais efeito e a terapia já me deu o veredito: ela vai acabar com você aos poucos. Quem disse que eu me preocupo com isso?
Sempre que ela reaparece, de alguma forma, ela me estraga. Tenho a impressão de que, por mais que a gente tente se enterrar, ela sempre vai causar uma dessas reações estranhas em mim. Sim, a gente tenta se enterrar. Pelo menos eu cultivo essa ideia de que eu também representei um fardo e espero que ela tenha tido algum trabalho ao jogar tudo fora. Acho que eu não suportaria descobrir que pra ela foi fácil, rápido e indolor. Prefiro pensar do meu modo e até espero que ela apareça algum dia desses de surpresa só pra que eu demonstre uma dessas tais reações estranhas. Eu até quero muito que isso aconteça e que eu sinta de novo uns dez por cento do que eu sentia daquilo tudo. Eu já tomei uns dois comprimidos e já mudei alguns trocentos canais de televisão. É pedir demais que eu abra aquela porta e dê de cara com ela dormindo no sofá com as malas desfeitas, ou é melhor acender outro cigarro e colocar de vez na minha cabeça que ela não vai mais voltar?

Daniel bovolento

quinta-feira, 4 de abril de 2013

A mulher certa

Você somente se apaixona pela mulher que lhe tira do sério. Você somente se apaixona pela mulher que vive brigando. Você somente se apaixona pela mulher que sabe provocá-lo. Você somente se apaixona pela mulher que desafia sua opinião. Você somente se apaixona pela mulher que leva desaforo para sua casa. Você somente se apaixona pela mulher que não pode dominar ou convencer. Você somente se apaixona pela mulher que faz tudo diferente de sua mãe. Você somente se apaixona pela mulher que jamais entende, que é um mistério, que é motivo de metade da conversa com seu terapeuta. Você somente se apaixona pela mulher que teima com sua memória. Você somente se apaixona pela mulher que tem a coragem de ser espontânea, não se acovarda com o que os outros vão pensar. Você somente se apaixona pela mulher que derruba suas mentiras. Você somente se apaixona pela mulher que conhece todos os seus segredos. Você somente se apaixona pela mulher que cala sua boca com um beijo. Você somente se apaixona pela mulher que não tem medo de criticá-lo. Você somente se apaixona pela mulher que implica quando começa a beber e pede para ir embora quando a festa estava ficando boa. Você somente se apaixona pela pessoa errada. A mulher de sua vida é a melhor de suas inimigas. Como não consegue vencê-la, traz para seu lado. Fabrício Carpinejar

Dane-se a Fila

O que sou não deve ser regra de convivência. O que sou morre comigo. Descobri que amar não é fazer com que o outro siga meu ritmo insano. Isso é ditadura. Amar não é puxar a namorada para o nosso fôlego, não é arrancá-la de seu temperamento e forçar semelhanças. Isso é indiferença. Amar não é punir atrasos e castigar descompassos. Isso é tortura. Amar não é ameaçar com frases egoístas como “A fila anda”. É o contrário: é perder o lugar na fila, é ceder seu lugar na fila, é regressar ao início da fila. Amar é estranhamente recuar. É encurtar as pernas para melhor passear, alongar os braços para melhor entrelaçar os dedos. O apaixonado não impõe seu temperamento, acostuma-se a caminhar diferente, olhando ao lado. O lado passa a ser a nossa frente. Quem nos ladeia é o nosso horizonte. Surgirá um contratempo de sua companhia, uma dificuldade inesperada e se verá contrariando seus planos para ajudar – só tem pressa quem não tem urgência. Amar é proteger mais do que avançar, é cuidar mais do que atingir objetivos, é apoiar mais do que se vangloriar da distância. Foi a minha avó Mafalda que me explicou. Ficava muito irritado pelo seu trotear na Rua Corte Real. Era velhinha, manca e, além de tudo, distraída. Ela me obrigava a participar de sua andança fisioterápica depois do almoço. Um quarteirão correspondia a queimar calorias de quatro quilômetros. – Meu neto, é bom acompanhar um familiar doente, pois amar é ir aos poucos, é lentidão por fora e interesse por dentro – ela dizia. Não fazia lógica para mim. Amar parecia voar, correr, atropelar. Amar significava velocidade, superação, afoiteza. Amar traduzia liberdade, transgressão, não se intimidar com os limites. Eu me enganei, vó. Seu andar miúdo, pequeno, de bengala, pesando cada pé no chão, me ofereceu uma aula emocional. Nenhum casal corre de mãos dadas. Amar é aguardar se necessário, voltar atrás se preciso, criar um novo passo para atender os dois. Se fui apressado para conquistar minha mulher, agora devo ser lento, estar com ela é meu destino. Fabrício Carpinejar

sexta-feira, 29 de março de 2013

Uma segunda chance nunca é uma boa idéia

Não sei quem foi, mas com certeza essas palavras foram proferidas por alguém muito sábio: “voltar pra um velho amor é que nem ler um livro pela segunda vez – você já sabe como vai terminar.” Sim, porque nosso coração romântico tende a achar que isso é exagero, que sempre há chances quando há amor, e que nunca é tarde pra se arrepender. A realidade, porém, tem se mostrado impiedosamente contrária a esse nosso ideal romântico de relacionamentos.

Ficar com alguém só por amor é uma péssima ideia.

Pessoas que se recusam a acreditar esse fato acabam quebrando a cara incontáveis vezes. Porque o amor é necessário, mas ele, sozinho, não sustenta uma relação. É preciso muito mais do que isso. Parceria, respeito, companheirismo, objetivos de vida similares, sexo de qualidade, são apenas algumas dentre as diversas características necessárias pra se sustentar um relacionamento formado por duas pessoas distintas. Sem elas, desculpe-me o Cazuza, nem todo amor que houver nessa vida é o bastante.

Quando um relacionamento termina é porque alguns dos pilares básicos não estavam fortes o bastante e, acredite se quiser, na maioria das vezes o amor não é um deles. Porque é muito comum observar casais que terminam ainda se amando. O amor continuava intacto, mas outras afinidades não estavam bem estruturadas o que impossibilita a continuidade de um relacionamento feliz. Só que a carência, a saudade da rotina, as noites frias de domingo sozinha na cama, nos fazem acreditar no contrário. É mais fácil ceder do que resistir. E nós, fracos que somos, ficamos assustadíssimos diante de uma realidade na qual não temos mais o conforto de uma relação que fez parte da nossa existência por tanto tempo. Recomeçar é difícil demais. O vazio machuca demais. E no meio dessa fase dolorosa de recuperação, eis que surge o ex – uma esperança no fim do túnel pra nos tirar do sofrimento. Como a mente mente, ela nos faz acreditar que dessa vez vai ser diferente, que tudo vai mudar – e nós, num ato de desespero, voltamos. Muito provavelmente pra descobrir – depois que a fase da empolgação de um novo começo acaba – que nada mudou.

Costumo comparar essas segundas chances como alguém que anda de bicicleta. Você estava pedalando feliz até que um dia levou um tombo e estourou o joelho, que ficou em carne viva. Daí você sente dor, passa remédio, faz curativo. Só que a vontade de andar de bicicleta de novo é tão grande que, mal a ferida cicatrizou, e você já sai pedalando de novo. Até que passa novamente por um buraco e se estatela no chão. O pobre joelho que estava começando a se recuperar, retrocede, ficando ainda mais machucado do que antes. Tudo isso porque você não soube dar-lhe o tempo necessário pra se recuperar, pra se renovar, pra trocar de pele. Experimente trocar o joelho pelo seu coração – é assim que você age quando volta pra um amor antigo por causa da carência. Seu coração estava no processo de cura, precisando de cuidado, de isolamento, até que estivesse pronto pra outra. Mas você ignorou o aviso do corpo. Se entregou novamente àquele amor antigo, que você sabia que lhe faria mal, cedo ou tarde. Se tivesse dado o tempo necessário para a cura completa, aí sim estaria pronta pra andar de bicicleta novamente e explorar outras esquinas pelo mundo. Dessa vez, consciente, fortalecida e preparada. Mas você foi fraca e, como não poderia ser diferente, estatelou seu coração mais uma vez.

Por isso já dissemos por aqui que ser feliz é mesmo pros corajosos. Aqueles que jamais se esquecem que o maior amor do mundo tem que ser o amor próprio. Sempre que você passa em cima desse amor em nome do amor por outra pessoa, o resultado já é conhecido – você ativa o botão do VDM (vulgo, vai dar merda.) E sempre dá, as estatísticas confirmam. Por isso, sempre que nos sentirmos tentados a dar uma outra chance pra algo/alguém que nos fez mal, deveríamos nos lembrar que a vida é boa, que é bela, e que estamos aqui em contagem regressiva, por isso não há tempo pra apostar nos mesmos erros. Só assim nos permitiremos, antes de qualquer coisa, dar uma segunda chance pra nós mesmos.

Blog Casal sem vergonha


sábado, 23 de março de 2013

Receita para perdê-la de vez

Não recuse a voz dela, rapaz. Só é doce porque tem você na ponta da língua. O contorno do batom tem algum nome idiota que você nunca vai saber e as unhas que te arranham as costas com carinho são de alguma cor exótica para além da sua compreensão masculina. Mas não desvie delas. Nem das unhas, nem dos lábios dela. Ela não se apoia em você à toa. Porque você é a queda e a sustentação dela. Um alicerce meio torto que sempre abala as estruturas. Sem segurança nenhuma. Você é a contraindicação específica dela.
Segure as palavras vãs. Elas vão, mas ela fica. Ela vai, mas elas ferem.
E você é a casca da ferida recente. Que nunca cicatriza porque você resolve abrir de vez em sempre. Na frente dela.
E ela deixa. E sabe. E não sabe por que deixa. Mas a culpa é sua.
Você começa como uma tosse de verão que não faz estrago nenhum. E acaba sendo a razão da conta mensal do analista dela. Já não basta ser o problema, você ainda sugere que seja a solução? Seu soro não se produz em si mesmo. É antiofídico. Atenda o celular e diga que não pode falar agora. Mas nunca a recuse assim, de graça. A entrega dela é por sua conta. Delivery sentimental. E nem tem taxa extra ou cobrança demais no fim do dia porque ela se dá de graça. E você, sem graça, prefere levar nas costas o amor da menina. Que é pra afastar a sua solidão e deixá-la desamparada. Muitas doses de você ao dia causam efeito retardado na fórmula dela.
E ela ignora a bula. É hipocondríaca demais e quase dependente de você.
Sofre de overdose.
Mas no caso dela é falta demais pra aguentar sozinha.
Preencha o receituário e aceite as recomendações, moço. Olhe dentro dos olhos dela e confesse que faz por mal. Se a sua intenção for das melhores, você vai escolher perdê-la de vez agora para, quem sabe, sentir a falta dela e descobrir que foi melhor assim. Que alguns estados são terminais. E que o diagnóstico só é dado quando é tarde demais pra gente admitir que não é a pessoa certa pra alguém. Confira as músicas que ela ouve e o sorriso débil de quem não tem mais forças. Mas ela ainda sorri, e é por você. E tenha alguma compaixão por si mesmo para deixá-la ir. Os médicos agradecem.
Desligue as máquinas e corte a respiração ruim dela. Ela vai aprender a lidar com outros ares.
Siga essa receita até o fim e entenda que ela sofria da doença de amor errado.
Perca-a de vez.
Ao contrário do que ela pensa, ela não vai morrer por você. Nem da falta de você.

Daniel bovolento



quarta-feira, 20 de março de 2013

Sobre o medo de amar de novo

Olhando assim de longe, com olhos mirando o sorriso, a leveza dos passos acompanhando as horas, a delicadeza ao esconder a franja atrás da orelha, mal se sabe da bagagem muitas vezes pesada, que nos acompanha na travessia. O amor costuma deixar rastros, pegadas, marcas duras que sobrecarregam a singela malinha reformada em vivos tons florais que levamos no entrelaçar dos dedos, ao longo da vida. A gente pega tudo aquilo que um dia doeu, machucou, feriu, negligenciou, e coloca ali, naquela mala cheia de flores radiantes, que é pra lembrar que até na dor se consegue algum perfume.

Nos bares, na balada, no cinema, no jantar com as amigas, lá está ela, nossa doce pintura floral recheada de medos, receios, lágrimas, despedidas, resquícios de chegada, beijos que selaram partidas, a nos lembrar aquilo que os grandes poetas já previam, o amor pode vir bem de mansinho a nos dilacerar de novo.

Penso nos passarinhos que nos cortejam com a sinfonia do amanhecer mesmo ainda de janelas fechadas, pois sabem que o dia chega para todos, mesmo que a noite seja um pouco mais longa para alguns.

E como as melhores coisas da vida, surgem assim, em acasos afortunados, a mocinha da padaria retribui seu sorriso na fila do pão, o cara do elevador resolve te auxiliar com os milhões de papéis ou simplesmente aquele gato/a da rede social da sua irmã te envia uma solicitação de amizade acompanhada de um convite para o jantar de quinta feira. É o amor pedindo passagem. É o amor com uma pá, uma vassoura e uma chave pra destrancar o cadeado dessa bagagem tão friamente lacrada a cada ida e vinda.

A mão se estende acompanhada de um inquestionável sorriso no olhar, mas logo o braço recua. É que dá um medo danado se apaixonar de novo. No meio de um monte de cacos, estilhaços, mágoas, dores, aparece alguém com uma “super cola”, um sorriso lindo e diz: levanta menina! Um milhão de decisões equivocadas, atitudes impensadas e impulsos desconexos passam pela nossa cabeça e você hesita. Hesita, porque cicatriz de amor é uma das coisas mais difíceis de se carregar na bagagem. Não tem roupa, cachecol, colar ou armadura que esconda a marca eterna daquilo que não ficou. E a iminência do amor, traz também muitas vezes, o presságio de uma nova ferida.

Daí a gente olha para o lado e tem a amiga traída pelo namorado, o rolo inconsistente da mesa ao lado, o beijo sem sentimento do cara balada, todos os sms não correspondidos e pensa: não seria emocionalmente mais prudente caminhar sozinha?!

De fato seria. Mas ai tem também aquela amiga radiante com os preparativos do casamento, o pedido inusitado de namoro de dois desconhecidos no corredor da faculdade, a troca de olhares amorosos do casal de amigos no bar, e todo o medo que motivava o receio some, como num doce passo de mágica. Os pequenos requintes de delicadeza como o gorjeio de um bem-te-vi pela manhã, nos fazem lembrar a parte mais importante do amor: aquela que não dói.

É verdade o que dizem por ai: amor é coisa de gente corajosa, amor é coisa de dois. Talvez por isso seja tão absurdamente difícil criar vínculos com alguém. Não basta haver oportunidade, tem que existir troca, predisposição. Tem que existir parceria. Aquela que você troca sua bagagem pela do outro por livre arbítrio e juntos, libertam para o mundo todas as pétalas mortas, daquela flor, que um dia foi um suave buquê. Ao invés de bagagens, mãos dadas. Ao invés de peso, leveza. O amor antes um pássaro engaiolado, agora, permite-se ser livre.

Penso nos passarinhos da janela, na saudação do bem-te-vi, em primeiras, segundas e terceiras chances, penso em passarinhar.

Se o passarinho vier: dê passagem, ofereça sua bagagem e abra os caminhos. Porque amor de verdade se a gente deixar, muda a vida da gente. Passarinhe, aninhe, ame por aí…

Blog casal sem vergonha


domingo, 17 de março de 2013

Cuida dela


Rapaz, diz pra ela que o meu bom dia ainda é dela. E que, se der, outro dia a gente se esbarra e eu levo umas flores pra ela. Faz dela um porto inseguro pra não se deixar levar pela rotina da maré calma. Beija o nariz dela que ela acorda na mesma hora e ainda dá uma espreguiçada com um sorrisão de partir o meu coração por não poder mais acordar ao lado dela. Ô rapaz, cuida dela com ternura. Essa garota precisa de alguém com tempo e com todo o coração do mundo pra entender a alma dela. Deixa ela descansar a cabeça no seu ombro, mesmo que você sinta um pouco de medo de se mexer. Eu nunca consegui ficar quieto com ela do lado.
Diz pra ela que ela é meu sonho bom. E que vai ser dureza não ter ligação nenhuma no meu celular pra responder. Coloca um toque personalizado, mas não escolhe nenhuma música especial pra vocês dois, rapaz. Puxa pruma valsa que ela sabe dançar bem demais. Ela tem um jeitinho de fugir dos meus braços que dá gosto. E não cai na armadilha dela, não. Se enroscar no pescoço dela é perigoso porque você pode ficar ali por tempo demais e se esquecer de olhar bem nos olhos dela. Diz pra ela que eu sei que eles não são castanhos, rapaz. Os olhos e ela são doces como mel. Dá pra sentir no gosto do primeiro beijo na chuva. E carrega sempre um remédio pra alergia na carteira. Dá pra prevenir os olhos dela de lacrimejarem por algum motivo bobo. Cuida bem pra ela não chorar, viu?
Diz pra ela que eu guardei os ingressos do nosso primeiro cinema e que ontem tava passando o filme na Sessão da Tarde. Pergunta se ela viu e se lembrou de mim durante os comerciais. Pergunta se ela ainda discute Godard com alguém ou se gostou de algum blockbuster recente e não quis confessar. Rapaz, ela sabe de tudo no mundo. Puxa assunto com ela, mas não deixa o silêncio consumir vocês dois. Ela é tagarela demais – e boa coisa não é se ela começar a ficar quieta. Aquieta o rosto no colo dela e deixa uma barbinha rala pra ela sentir cócegas. Ah, você faz bem em levar dois edredons pra cama porque senão corre o risco de passar frio. Ela é meio egoísta durante o sono. Diz pra ela que eu sinto falta das conchinhas e que até parei de reclamar da dor nos braços. Abraça forte sempre que der e escreve uns poemas também. Garanto que ela vai te inspirar a escrever um livro inteiro.
Ô rapaz, diz pra ela que eu soluço só de pensar em como vai ser daqui pra frente e que o meu norte foi embora junto dela. E diz também que eu reconheço que ela deve ser mais feliz com você do que comigo. Diz que eu não me conformo, mas vou tentar pensar nisso como um desvio de percurso – e que, até a gente se reencontrar, eu vou tentar garantir a felicidade dela por meio de umas dicas e recomendações que eu vou dar pra você. Ela gosta de beijos molhados e pouca agilidade na hora de se despir. O suor dela tem um gosto bom, rapaz, então não precisa – e nem pode – ter nojinho com ela. Compra cerveja ao invés de vinho e põe o chinelo dela na entrada pra ela se livrar logo do salto quando chegar. Não trabalha muito até tarde porque ela vai depender de alguma atenção sua pra ter certeza de que fez uma escolha justa em me deixar. E fala sobre música, sobre algo de blues e jazz e deixa ela sentar pra tocar piano naquele restaurante grã-fino dos Jardins. Diz pra ela que eu aprendi uma partitura pra poder me lembrar dela.
Cuida bem dela e diz pra ela que um dia a gente se encontra se ela resolver que dá pra ser feliz aqui. Mas se ela preferir ficar por aí, faz dela o seu grande amor, rapaz. Diz pra ela que a solidão só anda doce porque eu ainda penso nela. E dá um beijo de boa noite na testa dela por mim, rapaz. E não precisa dizer nada depois disso. Ela vai fechar os olhos e se lembrar de mim.

Daniel bovolento


sábado, 16 de março de 2013

19 coisas que você precisa entender antes de se relacionar com alguém

Muitos relacionamentos estão fadados ao fracasso porque os envolvidos ainda não resolveram questões pessoais antes de dividi-las com outras pessoas. É a velha – porém extremamente sábia – história: impossível ser feliz com alguém se você não faz ideia de como ser feliz sozinho. Quando duas metades cheias de questões mal resolvidas se juntam, os problemas se multiplicam e se fortalecem. Por isso, trouxemos hoje uma lista de fatos sob os quais você precisa ter consciência antes de sair se jogando nos braços de outra pessoa em busca de uma cura indireta para os seus problemas.:

1. O universo te dá aquilo que você busca. Se você não sabe o que busca, ele te dará qualquer coisa. E há grandes chances de você não gostar delas.

2. Suas questões internas não podem ser resolvidas com soluções externas. Você possui todas as respostas dentro de você – basta querer ouvi-las.

3. Solidão é algo inevitável. Nascemos sozinhos e morreremos assim também. Se tivermos sorte, acharemos alguns acompanhantes para a viagem – mas eles serão livres pra trocar de rota quando quiserem.

4. Pensar e mexer nas feridas é uma das coisas mais dolorosas da vida, por isso muitas pessoas fogem dessas tarefas. No entanto, só aqueles que enfrentam seus fantasmas conseguem se libertar deles.

5. Se você só acredita no seu potencial quando ouve um elogio de alguém, então há algo errado na sua vida.

6. Pessoas sempre te tentarão convencer de que relacionamentos felizes, sem briga, e com parceria são raridade. Não acredite nelas.

7. O ego é o grande responsável por boa parte das nossas dores. Livre-se dele se puder.

8. Oportunidades existem para todos. No entanto, somente aqueles que andam com a antena ligada conseguem captá-las.

9. Enquanto você viver buscando a perfeição no outro, jamais será feliz pois é impossível encontrá-la.

10. Esteja consciente de cada passo seu. Só quem anda com consciência consegue ver as coisas menos óbvias da vida.

11. Quando você entende que o amor não é permanente, você passa a valorizar mais cada dia pois sabe que ele pode ser o último.

12. Cada pessoa com a qual você cruza na rua tem uma história e seus fardos pessoais. Não as julgue.

13. Só consegue viver uma existência leve, quem consegue praticar o perdão. Perdoar não quer dizer necessariamente dar outra chance, mas sim eliminar a mágoa do seu coração.

14. A duração das coisas é irrelevante. A profundidade é tudo o que importa.

15. Os problemas das nossas vidas são criados pela gente.

16. Abandone a ideia de que tudo tem que se encaixar e que tudo vai ser sempre uma absoluta harmonia. Isso só existe em contos de fada.

17. Ciúme não tem absolutamente nada a ver com amor. Se você não acredita nisso, então provavelmente nunca entendeu o que é amar de verdade.

18. O amor é o grande alimento pra alma. Mas você não precisa necessariamente amar outras pessoas – qualquer forma de amor, direcionada a qualquer ser, é válida.

19. O amor tem que te permitir ser livre. Nunca se contente com menos.


sexta-feira, 1 de março de 2013

Porque eu não posso deixar você ir embora

Você nunca gostou dessa coisa de escritor que eu tinha, confessa. Sempre disse que isso me deixava com um ar arrogante e fantasioso demais. E sempre me disse que as minhas leituras beiravam a aleatoriedade na forma com que as conduzia e refletia sobre elas. Acontece que ontem eu descobri a nossa história por meio de uma dessas leituras que eu vejo por aí. Era algo da Tati Bernardi e falava sobre como as nossas exatidões eram tão perfeitas um para o outro, mas não eram feitas para serem somadas. Fiquei calado por uns cinco ou dez minutos depois que li aquilo. Não é por mal. É só que. Assim. Eu sou meio atraído por você de uma forma que nem eu sei explicar.
Sem vergonha nenhuma na cara. É o que todo mundo me diz e eu mesmo repito várias vezes. Meu Deus! Como é que pode uma pessoa pensar em insistir em algo que já deu errado uma, duas e muitas vezes da pior forma possível? Isso já deve ter deixado de ser amor há muito tempo e se tornou obsessão. Eu já escrevi para você em forma de carta, já descrevi nossos diálogos, já te romantizei e já te pintei como a belíssima sacana que você é. A gente já brigou de ficar anos-luz sem se ver. E nos odiamos com tanta força que os outros podiam sentir a repulsa ecoando nas nossas vozes quando falávamos do outro. Cacete! O problema é que toda mulher que chega perto de mim é desinteressante quando comparada a você. A gente tem essa intimidade gostosa, essa coisa de rir quando tá bem, de mostrar pro outro que superou e que não precisa mais. E, na verdade, a gente até superou. Mas eu sou mesquinho o suficiente para olhar por trás do ombro só para saber sobre você. Furada.
Eu não sei o que eu vejo em você. E isso a Tati Bernardi fala sobre ela. Mas eu vou além disso. Eu não sei o que eu vejo, mas ao mesmo tempo eu tenho sérios palpites das coisas que me prendem a você. Ao contrário do que ela acha, nós não somos exatamente o que o outro queria. Você não faz meu tipo e eu não sou nem um pouco interessante. Mas a gente se pega no sentido atraído, flagrado, coisa de pele que vai além da epiderme. A nossa falta é que nos completa de alguma forma. Só que se você somar falta com falta resulta em nada. Exatamente! Nós éramos nada juntos e sozinhos nós éramos apenas falta. Ser prolixo sempre foi uma das minhas melhores qualidades, eu sei. Portanto, ignore as partes desse texto que você não conseguir entender. Eu consigo entender o porquê de lembrar você nas horas mais impróprias e ainda assim ter coragem (ou cara de pau) de te enviar uma mensagem de celular com palavras desconexas e sílabas engolidas pela minha pressa. Você é o meu lugar comum na literatura e eu sou o seu clichê repetitivo. Simples assim.
De verdade, eu não posso te deixar ir embora assim, do nada. Assim, pela quinta ou sexta vez. Já até perdi as contas de quantas vezes entramos num consenso ao atirar pratos de vidro no outro e de quantas vezes a gente se viu retomando esse mesmo erro. O nosso erro, como um xodó pra gente. Eu não posso deixar você ir embora porque eu vivo de recortes da gente. Todas as fotografias foram recortadas e guardei os sorrisos. Por mais recentes que sejam os tapas, os arranhões, os xingamentos e aquele olhar de “você foi a pior coisa que aconteceu na minha vida”, eu guardo os sorrisos. Acho que é isso que me mantém aqui. Essa minha pequena obsessão de achar que não vai haver tragédia romântica assim com mais ninguém. Eu não dispenso um bom drama quando a sua personagem é instigante.
Eu não posso deixar você ir embora. Não é por amor. Longe de mim. É porque eu sinto mais falta sem você do que com você aqui. Ruim com você, mas pior sem. Sem sentido. Sem aviso. Sem nada que justifique essa manha de sempre ligar e jogar pesado para te fazer voltar aqui – e concluir no minuto seguinte que a gente não dá certo junto, pela milésima vez. Eu não posso deixar você ir embora porque eu quero insistir nisso só mais uma vez para ver se, com sorte, a gente consegue levar o lado bom por mais tempo que o ruim. Eu não posso deixar você ir embora. Por mil motivos e por mais nenhum. Pela minha lógica maluca e destrambelhada de quem não tem argumento nenhum e escreveu um texto assim sem saber como ia colocar ponto final. Eu não posso deixar você ir embora. E é por isso que eu termino esse texto com reticências…

Daniel Bovolento

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

É simples mas complicado

Eu tenho verdadeiro horror de quem não me conhece (ou me conhece há cinco minutos) e me chama de amiga. Pior ainda é quem força uma intimidade inexistente. Respeito e prezo muito o meu espaço, a minha vida.

Tem gente que adora estar rodeada de gente. Eu também gosto. Mas prefiro estar rodeada de três ou quatro pessoas verdadeiras do que uma multidão que assim que eu virar as costas vai marcar uma reunião pra falar da minha roupa, do meu cabelo, do meu peso ou do meu casamento.

Já convivi com diversas pessoas e entendi que o que é meu tenho que guardar pra mim. Não é legal abrir o livro da vida pra quem senta no bar pra rir e tomar umas e outras. Não dá pra jurar de pés juntinhos que Fulana é muy amiga. Ainda mais quando a dita cuja tem no currículo o tópico adoro-me-reunir-com-as-amigas-pra-falar-dos-outros.

Sinceramente, detesto que metam o bedelho na minha vida. Lembro que quando era mais nova vivia colada no telefone. Fulana, o que eu faço? Fulaninha, ele me disse tal coisa, o que será que eu digo agora? Fulaninha, hoje fiz luzes no cabelo. Fulaninha, comprei um vestido novo. Fulaninha, vou viajar para Trancoso. Olha, eu aprendi que a gente deve é ficar quieta. E que nem tudo deve e precisa ser compartilhado.

Aprendi a pensar sozinha. A decidir as coisas por mim. E, principalmente, a não perguntar o que o outro acha da minha atitude. Deve ser por isso que alguns amigos não entenderam e se afastaram. Devem ter colocado a culpa no meu relacionamento. As pessoas gostam muito disso: Fulana mudou porque arrumou namorado. Na verdade, muitas vezes ocorre o seguinte: você mudou porque Fulana está namorando. Você mudou porque Fulana não te liga a toda hora pra perguntar que cor de esmalte passa na unha. Você mudou porque agora a Fulana não sai mais de quinta a domingo. Você mudou porque a Fulana arrumou um emprego, uma casa e uma vida. Você mudou porque agora acha que não tem mais nada em comum com a Fulana. As pessoas têm a triste mania de colocar a culpa em cima de quem começou um relacionamento. E isso é errado.

O amigo de verdade entende que agora você não tem mais tanto tempo livre. E que, independente disso, continua sendo amigo. Que você pode contar com ele. Que você pode usar e abusar do ombro dele. Que você pode seguir rindo e chorando com ele. Só que agora não são mais dois. Na verdade, nunca foram dois. É sempre um. É sempre a gente. É sempre eu. É sempre você.

Eu não vivo sozinha, preciso dos meus amigos. É bem verdade que hoje não sou grudada em ninguém, só em mim. Mas acho que isso a maturidade me trouxe. Não que eu seja a super adulta, muito pelo contrário: vou ser uma eterna criança. Mas não preciso mais do palpite, conselho e aprovação dos amigos pra tudo, coisa que um dia precisei. Hoje eu decido por mim. Se brigo com meu marido não corro para o telefone pedir um conselho para alguma amiga. Me resolvo com ele.

Acho a amizade entre os homens mais fácil. Não existe cobrança, não existe disputa, não existe cara feia, não existe nada disso. Eles se encontram, comem churrasco, tomam cerveja, jogam futebol e conversa fora. Dão gargalhadas e combinam de se ver no próximo mês. Já as mulheres estão sempre competindo. Cuidando as pontas duplas do cabelo da outra, cuidando um passo em falso, cuidando uma infelicidade escondida no olhar. Oi, ontem fui jantar com a Fulana. E aí? Ah, eu achei ela tão gorda, cheia de olheiras e ainda por cima usava uma bolsa surrada! Entende a diferença? Homem é mais sincero.

Um dia a gente acaba aprendendo que amizade não é grude. Já disse isso muitas vezes. Amizade não é grude. É você guardar pessoas especiais dentro do seu coração. É mostrar que a pessoa pode contar com você, não importa a hora nem o lugar, nem nada mais. É demonstrar o sentimento. E se o outro não der bola, tudo bem. Vai ver que não era amigo de verdade.

Clarissa Correa

Aquilo que não volta

Parece que nada mudou, apesar de eu ter me transformado tanto nesses anos. Agora, estamos frente a frente e sinto meu coração derreter como derretia há anos. Me encontro em frangalhos, te encontro com o sorriso mais lindo que já vi. E me pergunto: até quando esse sentimento vai me perseguir?

Ando um pouco apatetada, quando penso em você lembro de como nossos caminhos não se encontraram. As respostas insistem em sair correndo, tento alcançá-las, mas algo me para. Talvez seja o pouco de vergonha na cara que me restou, talvez seja minha prudência dizendo chega. Não sei, procuro afastar tudo que possa te manter longe das minhas memórias.

Não sei ao certo se toda essa ideia romântica de encontrar a pessoa certa serve para mim. Queria poder ser feliz para sempre, então penso será que alguém é mesmo feliz para sempre? Por que aceitamos e queremos comprar essa verdade? Não seria mais fácil ver as coisas exatamente como elas são? Por favor, não me entenda mal, só quero que você saiba que nem todo mundo nasceu capacitado para a tal felicidade. Muitos têm problema de visão e/ou interpretação. Outros tantos querem uma felicidade na forminha de gelo, coisa que não existe, nada é como nos nossos moldes mentais.

Nós acabamos nos perdendo e não há nada que possamos fazer para o tempo voltar. O tempo é impiedoso, urgente. Ele não quer esticar a mão e ajudar os necessitados, o tempo é egoísta. Por isso, nada mais nos resta. Não, eu não vou lamentar, não vou lembrar do tempo bom, mesmo por que a memória é traiçoeira, ela insiste em nos mostrar somente o que foi adocicado. A memória nega a luta, a lágrima, a memória não aceita a tristeza e a falta de cor.

Por favor, deixe pra lá, não perca seu precioso tempo com essas palavras tolas. Sei que você não deu a mínima no passado, não é agora que vai resolver voltar atrás e me enxergar como sempre fui. Mas não te culpo. Antigamente, eu não me via como realmente sou. Abri a porta. Espero que o que restou de nós dois fuja de casa.

Clarissa Correa

Quem te perguntou!?

Realmente não entendo essa mania que algumas pessoas têm de querer dar palpite em tudo. Te perguntei? Então guarda os seus pensamentos para você. Ninguém quer saber. Todo mundo acha alguma coisa, tem algo para "contribuir" ou um conselho para dar para outra pessoa.

Fico incrivelmente atordoada com o número de gente que pensa que ser conselheiro e palpiteiro é bacana. Vou te contar um segredo: muitas vezes dizer o que a gente acha soa extremamente indelicado e inconveniente. Se estou te contando algo, apenas escute. Entenda que muitas vezes o outro só quer desabafar. Ele não quer ser julgado, nem que alguém apresente uma cartela de soluções.

Vamos ser sinceros: a sabedoria de padaria não funciona num piscar de olhos. É fácil dizer como outra pessoa deve agir, afinal, você está do lado de fora da encrenca. Só vivendo o problema para saber exatamente o que fazer com ele.

Acho que você tem que agir assim e assado. Me desculpa, mas você não tem que achar nada. Você tem é que cuidar da sua vida, dos seus problemas, das suas coisas. Seria muito mais fácil viver em sociedade se cada um se preocupasse em fazer o que deve ser feito. Viver, na forma mais ampla da palavra. A própria vida, no caso. Quer ajudar alguém? Faça caridade. Tem um montão de gente precisando de comida, teto, artigos de higiene e vestuário. Quer ser útil? Faça um trabalho voluntário. Tem muita gente precisando de um afago, de atenção, de cuidado. Olha eu, aqui, dizendo o que você tem que fazer. Por favor, não me leve a mal, não quero me contradizer. Acho mesmo que cada macaco deve ficar e cuidar do seu galho. Mas se te faz falta ajudar, aconselhar, palpitar, por favor, gente precisando de ajuda é o que não falta. Basta visitar um asilo, um orfanato, um hospital. Querer ser útil é nobre e bonito. Mas sair palpitando por aí é ruim demais.

Raramente peço conselhos. Acho que consigo me entender com o tico, o teco e toda a turma. Ninguém sente o que sinto, ninguém mora dentro de mim. E entenda: aqui dentro é uma confusão. Só eu consigo entender coisas que são minhas, que estão guardadas a sete chaves, que estão perdidas no porão, que estão cheias de mofo e pó. Ninguém tem esse poder, apenas eu e minhas confusões.

Não gosto quando alguém diz que tenho que fazer isso ou aquilo. Eu sei o que precisa ser feito, eu tenho o domínio da minha vida, eu sei o que aceito e o que não me desce pela garganta de forma alguma. Eu, eu, eu. Isso mesmo. De vez em quando a gente precisa se posicionar, encarar os fatos de frente e fazer um raio-x criterioso do que se passa lá dentro. É que ninguém enxerga o nosso avesso.

Clarissa Correa

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Não acabou depois do nosso último adeus

Já vai marcar dois meses no calendário desde a nossa decisão mais difícil. Dois meses atrás onde a nossa maior certeza havia sido colocada a prova e tudo tinha saído dos trilhos. Eu me sinto aliviada pelas coisas terem sido francas e amenas embora a confusão e gritaria dentro da gente tenha sido possível escutar sem dizer uma sequer palavra. Chorei. E choro todas as vezes em que eu te vejo e não consigo entender o porque das coisas terem de sido tão difíceis no começo, no meio e nesse fim que não conseguimos colocar um ponto final. Ou talvez apenas não queremos.
Eu sei que é complicado entender as coisas do coração, saber decifrar o que o destino nos reserva e compreender aqueles acontecimentos que chegam do nada e tiram tudo do lugar. E algumas coisas acabam se quebrando. E foi isso que aconteceu com a gente. Mas até hoje eu não consigo entender o porque de que mesmo tão distantes e sem nenhum contato eu sinto meu coração gritando implorando pra falar com você e ouvir mais uma vez a tua voz. Aquela que eu tanto amava ouvir antes de dormir.
Nada nunca foi fácil para nós dois, mas eu admirava a nossa força de vontade e a resistência dessa linha imaginária que nos unia e não arrebentava por nada. Foram muitas tempestades, obstáculos, e muita gente má tentando romper tudo que nós tínhamos, mas o nosso sentimento era forte o bastante para que nem sequer um sopro abalasse de verdade as estruturas do nosso amor.
O tempo foi passando e num belo dia, ou não tão belo assim, nós acordamos e tudo já não estava mais no devido lugar e eu nem sabia por onde começava a arrumar toda aquela bagunça. Mas vi o quão corajosa eu consegui ser por te deixar velejando sozinho e ir em alto mar em busca da solução para os nossos problemas. Até hoje me encontro perdida em meio a esse oceano. Bebendo água, passando fome e pisando em falso. Meu pensamento vagando em várias direções: qual caminho seguir? o que devo fazer? e se... mas de todas as minhas grandes dúvidas e medos o maior de todos eles é : quando eu finalmente conseguir a solução se eu ainda vou te encontrar do outro lado.
As coisas não acabaram quando eu te disse adeus. E espero do fundo do meu coração que a correnteza desse mar me leve mais uma vez para perto de você.

Autor desconhecido

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Você tem que ir embora


Já me cansei dessa coisa de contar aos quatro ventos sobre como a nossa história é baseada em caixas de papelão e pedidos de desculpas, maçanetas giradas e despedidas numa acústica ruim da sala de estar, de gritos exasperados e de amigos tentando consolar um ou outro. Você ou eu sabemos que isso aqui nunca pertenceu a você – e a falta era só uma das coisas que me prendiam como âncora ao seu naufrágio. Você tem dessa inconstância perigosa que me arrasta pro fundo, e que é tão nociva quanto qualquer veneno de cobra. Só que você não tem antídoto.
A falta foi desculpa encomendada pra me fazer acreditar que sem você seria pior. Não seria. A gente tem disso de encomendar umas desculpas esfarrapadas pra disfarçar o apego vazio. Depois que você for, eu não vou morrer de você. Não vou desacertar a vida como se o parâmetro do que é bom tivesse ligado ao seu suor no meu lençol.
Eu já conheço o seu gosto e o meu paladar já recusa o gosto amargo de você. É que a nossa receita passou do ponto há muito tempo – mas eu cismei em recortar as bordas queimadas e fingir que o recheio não tinha sofrido com a turbulência do fogo. O seu tempero me deixa insosso. Não foi engano meu. Fui eu mesmo quem quis me enganar, adiando a verdade de que você não cabe em mim. Não foi feita pra mim.
O meu pranto cismou de pronta-entrega que você era mais ou menos o que eu queria. E a gente se força a achar que o outro pode ser consertado, mesmo sendo evidentes as rachaduras, suas infiltrações e alguns parafusos meio frouxos que ficam bem na cara. A gente acha que amor é como a caixa de lápis de cor no maternal, e que o tempo vai dar a chance da gente colorir tudo da forma que achar melhor.
Mas você é filme em preto e branco.
E aquela angústia no peito, que eu levava achando que não ia dar mais pra seguir sem encontrar alguém que me bastasse – como você me bastava sempre que ia embora – se foi. É que o fantasma de você me lembrava só o lado bom, o lado intocável que povoava a minha memória disforme. Como se eu pudesse resumir o que a gente foi em cinco momentos seletos onde você não me feria. Quando você voltava – a sua parte real, a porção que corresponde ao que você realmente representa – era tudo ruína. Era fim a cada dia novo que eu me forçava a achar que eu precisava de você aqui por algum motivo tolo que nem eu mesmo conhecia.
Até que eu enxerguei a rotina. A perda de tempo sentimental. A carga que eu levava sozinho nas costas e que não tinha nada a ver com os problemas que um casal enfrenta a dois. O meu problema é que você não tem espaço aqui. Não tem lugar e nem vaga reservada depois de tantas idas e vindas. Já sei bater os olhos e enxergar cada minúscula parte das suas manias que me ferem, e você faz de propósito. Você se transfigurou em agouro agudo, malicioso e completamente nocivo. E de sabotadores já basto eu. Sabotei a desordem e organizei em você algumas coisas erradas desde o início.
Você não é ela. É a “ela” que eu pensei que fosse ser. Mas não é.
Eu tentei me prender tanto a alguém com projeções construídas, e nem dói mais dizer isso tudo. Porque agora só resta a constatação. Porque agora eu já me entendi e vou muito bem, obrigado. A minha necessidade é só que você vire mais um capítulo enrolado de um livro que pertence a mim – e só a mim mesmo.
É. Você tem que ir embora.

Daniel Bovolento



Carta a quem já me disse adeus

Eu não vou me desculpar pelo lado ruim, nem me perguntar por quantas vezes você pensou em ir embora antes de fazê-lo. Não vou me ater aos rabiscos, aos malfeitos, às partes tortas e a nenhuma dessas coisas que passam pela nossa cabeça assim que somos abandonados. Não vou te culpar por alguma crise de choro ou por alguma cirrose futura, nem espalhar aos quatro ventos alguma história que me torne vítima e tiranize você.
Eu vou sentir sua falta. Aliás, eu já sinto. Sinto que eu deixei escapar a minha melhor chance de ser feliz – e isso não é nenhum estado depressivo que se agrava e se repele automaticamente depois de algum tempo. É conformismo. Constatação das brabas. Daquelas verdades inconvenientes que são pregadas na parede do quarto feito papel de parede que a gente não escolheu. E nem adianta tirar porque a pintura vai descascar e esfarelar tudo. Vai sujar o chão. E as marcas de que um dia eu te perdi vão continuar ali – nas ruínas de um quarto velho e torto no segundo andar de uma casa desalmada qualquer.
Adeus serve pra gente reconhecer no rosto de quem vai embora alguma história da qual tenhamos participado. Os traços do outro vão sempre contar um pouco da gente – principalmente quando a gente ajuda a carregar as caixas, com o coração na mão. Você tinha olhos baixos e meio marejados, e eu sabia que era de saudades da brisa da casa de praia. Dos passeios de barco. Do céu estrelado. E me olhou com tanto carinho antes de me beijar a testa – e eu sei que isso significou muito pra você. Que você foi embora com o coração dilacerado. O meu, em 3/4 e o seu em 7/8. Grudou as mãos suadas antes de devolver as alianças. Mas parece que fez uma força extra-humana para tirá-las dos dedos – é que o costume molda a gente, ainda mais se é voluntário. Moldou o seu corpo. Desacostumou-se aos outros. Se rendeu a minha forma. Mas agora você vai embora quebrada, e eu também. Cada caco reunido com o pouco de força que a gente ainda tinha. E nós deixamos as fotos na estante. Pra lembrar que aqueles dois se amaram, e que amor que é amor não se acaba.
Você foi a melhor coisa que me aconteceu em muito tempo – e só Deus sabe como eu amei você. Do meu jeito, mas amei. Com pretensões, com modos de indicativo e imperativo, sem modo algum, com gentileza e cadeiras puxadas pra você cair diretamente nos meus braços. Com trinta e sete minutos de conversa antes do dentista, com pano e água gelada pra baixar a febre, com o coração na mão pra pedir desculpas depois de ter feito você chorar. Amor não se acaba, morena. Amor fica intacto no espaço e no tempo. A gente é que muda e faz dele fantasia. Abstração. O factual continua com a vida, mas o amor ficou guardado entre o dia em que você me disse que não entendia nada disso de amor, e o dia em que me deu Adeus. Suspenso no ar. Como se ele desacreditasse piamente naquele vocabulário extenso que englobou a nossa despedida.




O prazer de sofrer

Por ele a gente se agarra aos amores contrariados.

Ontem eu percebi que faz tempo que eu não sofro de amor. Almocei com uma amiga que está no meio de um processo de rompimento – no qual ela parece ser a parte frágil – e em nenhum momento da conversa consegui me por na pele dela.
Fui solidário, compreensivo e talvez tenha sido até útil com a minha racionalidade compassiva e a disposição de dividir a minha própria experiência.

Mas, em momento algum fui capaz de segurar a mão dela e dizer, verdadeiramente, como já fiz outras vezes em situações parecidas: “Eu sei o que você está sentindo!” Se tivesse dito isso, eu teria mentido.

Há uma distância enorme entre compreensão e empatia. Compreensão é que está por trás da atitude de um analista quando nos ouve falar das nossas dificuldades. Empatia é o que sente um amigo, ou mesmo um estranho, que está vivendo – e, portanto, sentindo – a mesma situação. Ontem eu fiquei no papel do analista.

Percebi, na amiga, como já percebi em mim, dezenas de vezes, um estranho orgulho da própria dor. A despeito das palavras racionais que ela emite, do desejo declarado de cortar os laços e seguir adiante, há nela uma relutância enorme em se afastar daquilo que a machuca.

Tive a impressão de que ela se agarra à dor como se fosse o mastro de um naufrágio - aquela coisa que a mantém à tona. Tive a impressão, também, de que ela embala, acaricia e alimenta a própria dor. Parece haver conforto nisso, uma espécie de ordem, um lugar de identidade e proteção. O orgulho de quem ouve música no carro, sente os olhos se encherem de lágrimas e pensa: eu amo!
Quem está assim não olha para aquilo que debilita como se fosse algo ruim, da qual é preciso se ver livre. Não! A dor do amor tem algo de sublime, heróico e único – ainda que arrebente o cotidiano, atrapalhe a vida e nos reduza a um pedaço semi-útil de nós mesmos.

Eu, que já fui useiro desse sentimento, desta vez não consegui me identificar com a irracionalidade profunda e teimosa do amor contrariado. Eu percebo as cicatrizes em mim, tenho a lembrança do sentimento, mas não fui capaz de me identificar com ele. Em vez disso, me pus a pensar sobre o que essa situação, ao mesmo tempo banal e estranha, revela sobre as nossas cabeças complicadas.

A primeira coisa que me vem à mente é identidade. É muito difícil saber o que se é a cada momento da vida. São muitos os papéis que nos solicitam e eles frequentemente são contraditórios entre si. A gente sofre tentando saber o deveríamos ser a cada momento.

Os nossos sentimentos também são confusos: como eu me sinto em relação a isso ou aquilo? Como deveria agir? Decisões têm de ser tomadas e os nossos faróis emocionais nem sempre iluminam como gostaríamos. É difícil.
Há, claro, a névoa terrível do desânimo. Há que sair da cama todos os dias e encontrar, meio por hábito e meio por esforço, as razões para tocar adiante quando a vida parece chata e insípida, quando nada brilha o suficiente para nos encher os olhos.
Tudo isso a dor do amor deixa pra tras.
Ela simplifica radicalmente a existência. Só existe o objeto do amor e o desejo por ele. A gente se torna esse desejo. Desaparecem todas as dúvidas porque a certeza da dor é imensa e ocupa o espaço. A vida já não parece chata e insípida porque ganha um objetivo claro: sofrer, esperar, ter esperança, todos os dias.

Vista assim, a dor do amor é uma droga mais poderosa do que o amor realizado, é mais forte que um relacionamento de verdade.

Viver um amor e verdade dá trabalho. Ele nos enche de incertezas, nos traz dúvidas sobre nós mesmos e sobre o outro. Às vezes nos coloca em situações desagradáveis, provoca medos. Questiona o nosso papel. Nos põe de frente com as nossas dificuldades e limitações. Uma relação de verdade é uma delícia, mas é, também, um mergulho num mundo complexo e cheio de arestas. Está no capítulo dos desafios que nos fazem crescer.

O contrário disso é o amor idealizado de quem levou um pé na bunda. Este é simples, irreal, vive dentro de nós e, ainda que pareça o contrário, está sob nosso controle. Diferente da vida, que é surpreendente e assustadora, o amor desencarnado é um bichinho de estimação obediente. Pode ser guardado, invocado intimamente ou exibido diante dos amigos ou mesmo da pessoa que nos faz sofrer.

Ao contrário de um ser humano de verdade, esse sentimento não vai nos abandonar numa manhã de sábado. Ele nos pertence verdadeiramente. Pode ficar com a gente por anos. Tem gente que guarda dores como essa pela vida inteira. Dizem: a minha dor...

Minha amiga não vai fazer isso. Ela é esperta, valente, astutamente feminina. Sabe que a vida está pulsando em volta dela, cheia de possibilidades e mistérios esperando para serem desvendados. Como a vida de todos nós, a dela não cabe numa canção amarga que toca no radio. Ou num Ipod inteiro de canções. A vida é maior que a dor. Ainda bem.

Ivan martins


Como dizer adeus

Tem gente que acha simples, mas eu tenho problemas com rupturas e separações. Talvez as minhas tenham sido muito doloridas, talvez as de pessoas próximas tenham me afetado. Não sei. O fato é que basta eu ler nos jornais que Tom Cruise e Kate Holmes se separaram que uma voz dentro de mim lamenta: coitados...

Minha sensação é que nós – eu, você e o Tom Cruise – não estamos preparados para ouvir ou para dizer adeus. Sabemos começar e não sabemos acabar. Damos a partida num carro, mas não conseguimos parar. Saímos de viagem felizes, mas não conseguir chegar. Um paradoxo, uma incongruência, uma experiência que não fecha. Olhe em volta. Um namoro de meses, uma vez encerrado, pode nos causar enorme sofrimento. Basta que a pessoa nos rejeite para se converter na criatura mais importante no mundo. E na mais desejada.
Nem é preciso que nos dêem o fora, na verdade. Pense na outra situação: você está namorando, ou casado, e não aguenta mais. Acontece. Como se faz para terminar? O primeiro estágio, dependendo do seu temperamento, pode levar meses ou anos de infelicidade paralisante. Você não suporta mais o som, a visão ou o tato da pessoa, mas não tem coragem de contar isso a ela, embora todos os seus amigos já saibam. Até para o cobrador de ônibus você já disse que aquilo acabou, mas a outra parte ainda não foi informada. Quando os amigos olham você com o seu par, é possível ler nos olhos deles a pergunta: “Ainda”? Dá vergonha.
Quando, enfim, você resolve dar o ponto final, começa o outro problema. Culpa. Avassaladora e horrorosa culpa. As pessoas vêm contar que ela está sofrendo. Ele telefona. Sua mãe (eu já vi acontecer) recebe o abandonado na casa dela e liga para a sua casa, pedindo clemência: “Ele gosta tanto de você”. Não é fácil ser coerente. A gente não sabe se separar, e as nossas famílias não ajudam.
Acima e além de toda a comédia, porém, o que existe nessas separações é dor. Olhe para a cara das pessoas: elas estão destruídas. Não dormem, não comem, mal conseguem trabalhar. Sofrem fisicamente. Perdem peso, ganham peso, adoecem. Se a gente extraísse da dor de cada separação alguma forma de energia limpa, os problemas ecológicos do planeta estariam praticamente resolvidos. Mas não. Essa é uma dor imensa, universal e inútil.
Claro, os tipos mais psicanalíticos dirão – com alguma razão – que a dor da ruptura é necessária para a nossa formação emocional. Precisamos passar por ela para entender o amor e outras coisas essenciais sobre nós mesmos.
Eu concordo com a tese, mas não entendo porque ela tem de ser estendida ao infinito. Eu, por exemplo, aprendi tudo o que tinha que aprender sobre sofrimento amoroso aos 13 anos, quando aquela garota de cabelos pretos e imensos olhos castanhos resolveu se apaixonar pelo meu melhor amigo. Desde então, toda perda, separação, rejeição ou pé na bunda tem sido uma mera repetição desnecessária. Até quando?
Como é impossível evitar os foras que nos darão – e aqueles que nós daremos – talvez seja melhor nos prepararmos para lidar apenas com as consequências das separações e rompimentos. Pensando nisso, usei a minha experiência, assim como a dos amigos (cuja colaboração nem sempre é voluntária), para compor um brevíssimo decálogo para uma ruptura menos dolorosa e talvez um pouco mais digna. O decálogo ficou com onze itens, e eu temo que essa não seja a sua única inconsistência. Pensem nele como postits para sair da vala. Talvez ajudem.

O decálogo:

1. Diga adeus de verdade. Ou aceite o adeus que lhe deram. Pontos finais podem ser o começo de alguma coisa nova. Adiamentos e meias verdades não levam a lugar nenhum, e nos envenenam.

2. Não se coloque na situação de vítima. Isso destrói a sua autoestima e não faz ele ou ela voltar. Romance que acaba é uma fatalidade tão grande quanto romance que começa. Não tem culpados.

3. Assuma a responsabilidade. Não se abandone aos sentimentos negativos, como se você não fosse responsável pelo que faz ou sente. Em outras palavras, reaja.

4. Mantenha a dignidade. Ou rasteje com moderação. Quando você não tiver mais nada, o respeito por você mesmo – e pelo outro – pode ser de grande serventia.

5. Deixe o outro em paz, dê paz a si mesmo. Ficar correndo atrás da pessoa que a deixou, ou que você deixou, é tolice. Se procurou uma vez e não deu certo, fique na sua. Insistir piora tudo.

6. Procure os amigos. Os seus amigos, não os dela. Gente querida distrai e nos faz bem. Ah, sim: mesmo com os mais chegados, tente não reclamar 100% do tempo. Autocontrole ajuda a sair do poço.

7. Recolha-se ou exponha-se, mas seja fiel a si mesmo. Nunca invente um comportamento que nada tem a ver com você para agredir o ex ou para mostrar que você é foda. Só piora.

8. Faça arte ou consuma arte. Ver um show da Marisa Monte depois de um pé na bunda pode ser uma experiência transcendental. Assim como escrever poemas ruins, que você rasgará (ou não) depois de alguns meses.

9. Não perca pontos correndo atrás do ex anterior, a não ser que tenha virado amizade. Se ele ou ela ainda gostar de você, aproveitar-se para tentar se consolar é desprezível. E não funciona.

10. Lembre: da outra vez você sobreviveu. É importante ter isso em mente. As dores passam e a gente se apaixona de novo, mesmo que no momento isso pareça extremamente improvável.

11. Se a barra pesar demais, procure um analista. Ou mesmo um médico. Eles estão ai para nos socorrer quando o amor vira doença. Se você se assustar com você mesmo, é hora de pedir ajuda. Funciona.

Ivan martins